Os gabinetes de leitura surgiram nas cidades e vilas da região norte do Ceará a partir da segunda metade do século, mas foi na segunda década do XX o momento em que alcançaram seu maior desenvolvimento. Este trabalho procura fazer um levantamento de suas trajetórias, identificando seus objetivos, as dificuldades enfrentadas e a maneira como foram recebidos pelas sociedades em questão. Procura ainda desvendar a modalidade de leitura proposta por estas instituições e o discurso construído em torno desta prática, a partir de sua constituição enquanto lugares do livro, discutindo sua inserção numa rede de comunicação construída em torna da circulação dos impressos pela região. Dedica atenção aos cursos noturnos de alfabetização criados pelos gabinetes de leitura de Viçosa e Camocim, procurando entender a proposta destas iniciativas para o âmbito da educação das camadas desfavorecidas. Tomamos como fontes os jornais publicados no período e nas cidades em questão, associando-os a livros de memória, documentos oficiais e uma entrevista oral. A metodologia de trabalho consistiu em promover o cruzamento das informações recolhidas nas diversas fontes, procurando construir uma leitura pelas entrelinhas, desconstruindo o documento a partir da formulação de questões, da problematização de seu discurso. A opção por este tipo de fontes, de natureza indireta, justifica-se pela dificuldade de encontrar a documentação produzido pelos gabinetes de leitura. O esforço de pesquisa apurou apenas que livros de tombo, livros de visita, catálogos e estatutos se perderam ou foram destruídos, o que obrigou-nos a partir para o recurso aos jornais e demais documentos impressos capazes de fornecer informações sobre os gabinetes de leitura, seus fundadores, seus acervos.