“CIDADE NASCIDA À SOMBRA DA CRUZ": A INVENÇÃO DA IDENTIDADE QUIXERAMOBIENSE PELO INSTITUTO HISTÓRICO DO CEARÁ

NATHAN PEREIRA BARBOSA

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

O presente trabalho buscou, inicialmente, levantar questões e reflexões sobre alguns aspectos teóricos que permeiam os conceitos de Identidade e Lugar Social. Em seguida, se tentou problematizar alguns artigos publicados pela revista do Instituto do Ceará, escritos por intelectuais quixeramobienses como Ismael Pordeus, Andrade Furtado, bem como o livro "Quixeramobim, Recompondo a História" (1996) de autoria do intelectual/memorialista quixeramobiense Marum Simão (1934). Certos aspectos dessas obras contribuíram para a construção de um imaginário identitário sobre o povo de Quixeramobim. Se buscou desconstruir afirmações generalizantes como "povo hospitaleiro", "cristão autêntico", "pacífico", "libertário" e "Cidade Coração do Ceará". Também se problematizou certos mitos fundadores como a noção de que os europeus teriam sido os "pioneiros desbravadores" da cidade, bem como o surgimento "harmonioso" do povoado de Santo Antônio de Quixeramobim sob o comando do português Antônio Dias Ferreira, chamado heroicamente de "Filho do Porto" e "cristão autêntico". Segundo essa narrativa monumentalizadora, além de possuir uma raiz história européia, o município teria surgido "à sombra da cruz" e livre de qualquer contradição ou conflito. Os autores chegaram, inclusive, a negar muitos fatos que, em sua concepção, não condiziam com a dita índole "pacífica e ordeira" daquela população. Compreendeu-se esse processo de omissões, escolhas e recortes históricos, como uma tentativa de forjar certo tipo de identidade. Algumas generalizações foram questionadas como o chamado "mito das três raças", a compreensão mecanicista/evolucionista de que as condições naturais teriam forjado a "alma do sertanejo", como também a atribuição de valores morais cristãos à todas as gerações de quixeramobienses, sempre descritos como um povo predestinado com passado de glórias e futuro de progresso. Toda essa estrutura narrativa gloriosa são reflexos de visões de mundo que partem de um ponto de vista católica e, em boa medida, de uma reprodução do tipo de história que instituições como o Instituto Histórico do Ceará se ocupavam em produzir.

Palavras-chave: Identidade, Mito Fundador, Narrativa.