O PATRIMÔNIO ENTRE A MEMÓRIA E A HISTÓRIA: IDENTIDADE E TRADIÇÃO NA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO NA CIDADE DE SÃO PAULO

LUIS GUSTAVO PEREIRA FERREIRA

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

O patrimônio entre a memória e a história: identidade e tradição na preservação do patrimônio na cidade de São Paulo

Procuramos estabelecer um diálogo entre a historiografia sobre a cidade de São Paulo produzida, de um lado, por pesquisadores ligados aos meios acadêmicos, e, de outro lado, por cronistas e memorialistas que buscavam construir uma exaltação da figura do bandeirante, e, partir deste diálogo, entender a construção de uma memória paulistana que se materializa em seus processos de preservação. Os pesquisadores acadêmicos, basicamente historiadores e geógrafos, produziram uma historiografia que explicava a cidade por vários ângulos: história, economia, topografia, população, percurso desde a ocupação inicial até a fase de metrópole. Dentre as obras que compõem esse universo selecionamos Formação história de São Paulo, de Richard Morse, publicada em 1954; A cidade de São Paulo: estudos de geografia urbana, coordenada por Aroldo de Azevedo, prevista para 1954 mas publicada quatro anos depois e, por fim, A locomotiva: São Paulo na federação brasileira, 1889-1937, de Joseph Love, de 1982. Por seu turno os memorialistas contribuíram para a consolidação da figura e do papel do bandeirante, que seria o alargador das fronteiras e fundador da nação tal como a conhecemos hoje. Esse mito fundador foi bastante funcional para a conformação da ideia de São Paulo como liderança nacional e locomotiva do Brasil. Versando também sobre o cotidiano e a história de São Paulo a partir do "mito fundador" se construiu uma memória calcada na ideia, por exemplo, de uma cidade que, nascida de um arraial, em um século se transformou em uma das maiores metrópoles do planeta. Evocando um passado que acreditamos romantizado, buscando narrar uma história "tal como aconteceu", periodizando a história em ciclos, essa literatura apresenta uma cidade sem conflitos cujo cotidiano era vivido em harmonia, sem tensões sociais, com uma arquitetura que estava à altura das maiores metrópoles do "primeiro mundo". Tendo como critério de escolha a publicação em 1954 - ano do IV Centenário da cidade de São Paulo, auge e síntese do "sentimento paulista" - analisaremos as obras: História e tradições da cidade de São Paulo, 3 vs: 1. "Arraial dos sertanistas, 1554-1828", 2. Burgo dos estudantes, 1828-1872; 3. Metrópole do café, 1872-1918 e São Paulo de agora, 1918-1953, de Ernani da Silva Bruno; São Paulo de meus amores, de Afonso Schmidt; e Histórias da história de São Paulo, de Raimundo de Menezes. A partir da análise das obras e do diálogo entre elas e buscando apoio em textos como História e memória, de Jacques Le Goff; e A memoria coletiva, de Maurice Halbwachs, pretendemos entender como se construiu a memória hegemônica na sociedade paulistana e assimilada pelo Estado, procurando ainda identificar como foi mobilizada quando do tombamento do Vale do Anhangabaú, no período 1991-1992, viabilizando argumentos calcados na necessidade de preservar imóveis erigidos, basicamente, na fase áurea de ocupação do centro de São Paulo pela elite cafeeira, tomando o tombamento como processo em que a memória de um grupo se transforma em memória de toda sociedade.