RABOS-DE-BURRO: SOCIABILIDADE E CONSUMO NA FORTALEZA DOS ANOS 1950

MÁRCIA RÉGIA MARQUES RODRIGUES

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

O presente resumo aborda os rabos-de-burro na década de 1950 em Fortaleza, através da perspectiva da sociabilidade intraclassista desses jovens dentro da cultura de massas. Fortaleza era uma cidade em transformação que tentava acompanhar a dinâmica do mundo pós-guerra, mas contrariando sua pretensa imagem, surgiram os rabos de burro. A cidade passava por mudanças no seu espaço urbano como as obras do porto do Mucuripe, o crescimento da Aldeota, além de problemas referentes ao transporte público, o aumento descontrolado do comércio ambulante, constantes quedas de energia elétrica, a segurança pública. Isso tudo era noticiado pelos jornais, que também publicavam propagandas diversas, como automóveis, eletrodomésticos, cosméticos e roupas, o que revela uma crescente sociedade de consumo inserida na cultura de massas.  Esta que nasceu na sociedade moderna, técnica, industrial e ocidental criou um novo consumidor, o jovem. A partir da segunda metade do século passado, o jovem passou a ganhar visibilidade na sociedade ocidental. Tal situação se percebe na moda, no cinema, nas propagandas e no consumo que receberam influência dessa juvenilidade que passou a ser promovida a partir dos anos 50 com a cultura de massas. A cultura juvenil se desenvolveu nos espaços urbanos e veio com uma demanda econômica em que o produto era pensado e feito para o jovem. A cultura de massas tem como elementos principais a identidade e o jovem. Dessa maneira, revestiu os produtos com um caráter juvenil para que houvesse uma identificação desse público com itens como roupas, discos, filmes. Isso levou a um consumo simbólico em que vestir uma calça jeans era sinônimo de juventude. Desse modo, esse processo deu início a uma cultura de consumo relacionada à sociabilidade e ao lazer. Assim, os desejos da juventude foram atendidos fora de toda a repressão familiar e das instituições que os moldavam de forma rigorosa. Essa cultura representou uma nova era em que a liberdade era pregada através do consumo material e simbólico. Nesse sentido, abordam-se os rabos-de-burro, jovens que pertenciam às classes média e alta de Fortaleza, que tinham como objetivo o estar junto, o lazer, a diversão, a anarquia, a insubmissão às regras impostas. Um motivo para a aproximação desses jovens é o pertencimento a mesma classe social, já que possuíam carros importados, lambretas, usavam jaquetas e topetes já no final da década de 1950. Isso converge com a sociabilidade entendida por Simmel na constituição de grupos 'intraclassistas'. Essa concepção supõe uma partilha mínima de afinidades entre os componentes envolvidos. Assim, jovens pertencentes à mesma camada social partilhavam concepções de mundo, gostos, poder aquisitivo, mas sem desconsiderar suas diferenças. Elementos compartilhados como rock, música, dança, vestuário, comportamentos, consumo e diversão se tornaram símbolos de uma juventude.  Assim, para entender a dinâmica desses grupos, utiliza-se a sociabilidade numa interpretação "intraclassista" em que essas relações seriam praticadas entre "iguais". Pressupõe-se, então, que tais relações aconteçam dentro de um mesmo estrato ou segmento social. Desse modo, dentro do contexto da cultura de massa, pensa-se como essa relação também podia ser estabelecida pelo consumo de certos produtos e até comportamentos.