INTELECTUAL ORGÂNICO NO UNIVERSO DAS MÍDIAS POPULARES: O CINEMA DE NERIVALDO FERREIRA COMO ESCRITA DE SI E LUTA POLÍTICA CONTEMPORÂNEA

VAGNER OLIVEIRA DOS SANTOS

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

Em Rio Real, interior da Bahia conhecido pela citricultura, Nerivaldo Ferreira, filho de agricultores iletrados, autodidata, estudou e ensinou Kung Fu e produziu uma dezena de filmes ao longo da última década, sendo os seis primeiros de artes marciais (2002-2008). Neste artigo, refletimos sobre alguns resultados da pesquisa O Bruce Lee do Sertão: vida e obra cinematográfica de Nerivaldo Ferreira, realizada entre 2010 e 2012 no Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural do Departamento de Educação II da Universidade do Estado da Bahia. Os resultados apresentados nos permitem perceber Nerivaldo Ferreira como intelectual e sua obra como autobiografia e escrita e cuidado de si, o que, por sua vez, se traduz como luta política em seu ambiente social. Partindo do pressuposto de que toda classe ou grupo social, organicamente, produz seus intelectuais, conjuntos de sujeitos cuja função social é a dedicação predominante a tarefas no campo espiritual e das ideias - o que, em nossa sociedade, tende a situa-los socialmente como dirigentes portadores de propriedades de organização da contextura social, reflexão sobre si e sua relação com a sociedade (GRAMSCI) -, defendemos o tipo social representado por Nerivaldo Ferreira como intelectual orgânico das camadas populares do interior brasileiro quando da intensa popularização dos meios de comunicação em massa. A característica primaz do intelectual orgânico é sua relação crítica, dialética, com as instituições hegemônicas; no caso de Nerivaldo Ferreira, essa relação é percebida de forma contextual e discursiva em seus filmes. Nessa perspectiva, essa produção deve apresentar uma relação crítica com o sistema produtivo hegemônico, o que, nesse caso, pode ser percebido em tudo que diz respeito a seu modo de produção cinematográfica. Foi verificada uma forte simbiose entre ficção e realidade quando comparamos as circunstâncias e personalidade dos personagens-heróis nos filmes e a vida cotidiana do autor-ator. Nos termos em que Gaston Pineau define a auto-referência em narrativas como autobiografia e Michel Foucault explica que este gesto constitui o cuidado de si, isto se torna um complexo processo grupal. Como resultado, segundo o pensamento de Marie-Christine Josso, tem origem um árduo caminho de subversão social, pois a escrita/cuidado de si é formação e invenção não oficial de si. Portanto, o intelectual orgânico Nerivaldo Ferreira teve em sua produção fílmica um meio autobiográfico e político de posicionamento social e alternativo perante o modo de produção da indústria cultural hegemônica, constituindo sua defesa enquanto sujeito de sua história (PINEAU)