A ESCRITA QUE DUPLICA, RETORNA, MULHER? AS FILHAS, DA MÃE!
Dra. Vanuza Souza Silva/UFAL
RESUMO
Este texto, parte de minhas pesquisas de doutorado, analisa as condições históricas que tornaram possível em Campina Grande na Paraíba, o envolvimento de mulheres com crimes e violências diversos. Nesta parte analiso a constituição das identidades femininas e de gênero das mulheres presas nos seus escritos em forma de cartas. Inspirada nas teorias de Michel Foucault e Judith Butler, pensando a questão de gênero a partir do conceito de performance, discuto os lugares diferenciados que as mulheres ao se escreverem, constroem para si. Essas mulheres antes da prisão rompem com dados códigos criados para a mulher no social, escolhem o crime e a violência para definirem suas subjetividades, porém, no interior da prisão, performatizam os lugares sociais reconhecidos, a filha dócil arrependida, a mulher "regenerada", a sonhadora, a trabalhadora, a estudiosa. Essas cartas inscritas a partir das memórias de si, de modo fragmentado e descontínuo, vão definindo o ser-mulher na prisão. Uma questão fundamental é compreender que essas memórias estão sendo escritas sob a vigilância do Poder Penitenciário, por isso, as memórias, os recortes temporais, são em grande medida, resultado dessas relações de poder estabelecidas no processo de escritas de si. As memórias estilhaçadas, são recortadas, unificadas para dar vida às mulheres que o Sistema deseja ver/ler, porque tais cartas são lidas e diagnosticadas pelos psicólogos e demais profissionais que trabalham no Sistema Penitenciário. As memórias que necessitam silenciar acontecimentos que contradizem essa "mulher arrependida"também são construídas nesse ambiente de disciplina não apenas do corpo, mas também e principalmente, da memória. O Sistema Penitenciário que acusa e vigia, deseja como retorno o discurso da recuperação. As cartas, nesse sentido, são artefatos e artes de existir em um contexto no qual lembrar significa acusar-se e escrever, salvar-se. Entre silêncios e murmúrios de passados que vão reelaborando outras identidades femininas, as presas inscrevem-se, como quem luta contra a "bandida" escrita no processo crime, como quem se levanta contra a própria memória jurídica em um gesto solitário, silencioso, mas revolucionário contra a ordem que lhe exige uma única identidade. Elas, as presas, negam-se enquanto criminosas, mas se inscrevem enquanto sujeitas "recuperadas", ao mesmo tempo, constroem para si não penas gestos, mas textos onde a linguagem funciona como um grito de possível liberdade e libertação no interior de celas que só tenta as definir apenas como seres-prisão.
PALAVRAS- CHAVE: História, gênero, prisão
ABSTRACT
This text, part of my doctoral research examines the historical conditions that made it possible in Campina Grande in Paraíba, the involvement of women with various crimes and violence. In this part I analyze the formation of women's and gender identities of women in prison in his writings in the form of letters. Inspired by the theories of Michel Foucault and Judith Butler, thinking the gender issue from the concept of performance, discuss the different places that when women write, build for themselves. These women before the prison break coded data created for women in social, choose crime and violence to define their subjectivities, however, inside the prison, performatizam recognized social places, the docile daughter sorry, the "regenerated" woman the dreamer, the working, the studious. These included letters from the memories themselves, fragmented and discontinuous mode, the setting will be-wife in prison. A key issue is to understand that these memories are being written under the supervision of the Prison Authorities, therefore, memories, temporal clippings, are largely a result of these power relations established in the written process itself. Shattered memories, are cut, joined together to give life to women who want the system to see / read, because such letters are read and diagnosed by psychologists and other professionals working in the Prison System. The memories that need silencing events that contradict this "repentant woman" are also built in this discipline not only the body environment, but also and mainly from memory. The Prison System and accusing lookout, want to return the discourse of recovery. The letters in this sense, are artifacts and arts exist in a context in which to remember means to accuse and write, save yourself. Between silences and whispers of past ranging reworking other female identities, fall prey, as those who fight against "bandit" written in criminal proceedings, as one rises up against her own legal memory in a solitary, silent gesture, but revolutionary against the order, which requires a unique identity. They, fangs, deny themselves as criminals, but as fall subject "recovered" at the same time, build for themselves not feathers gestures, but texts where language functions as a cry for freedom and liberation possible within cells that only tries to define them only as beings prison.
Keywords: history, gender, women's prison