O presente trabalho tem com objetivo pensar as práticas de saúde a partir de remédios que se produzem em função das dinâmicas celestes, sejam concernentes aos astros, sejam aos santos. Tomando como ponto de partida o Lunário Perpétuo, impresso que circulou amplamente no Brasil até meados do século XX pelo menos, trata-se de pensar as experiências do tempo advindas do calendário proposto por este livro e sua participação no encaminhamento dos diversos expedientes de cura. Além dos remédios inventariados pelos livros, outros registrados por diversas outras fontes - literatura, folcloristas, memorialistas, anúncios publicitários etc. - indicam o forte apelo que o calendário lunariano, com seus dias santos, seus dias de santo e a marcação das rotas astrais, em especial da Lua, realizava sobre as pessoas quando da necessidade de práticas para conservar ou restabelecer a saúde. A partir de sua marcação algébrica, linear e ainda circular, o calendário lunariano indicava os intervalos em que os homens poderiam acionar tempos outros, da ordem do oculto e da ordem do sagrado, como forma de cuidar dos assuntos da saúde, indicando desde já que corpo e alma, matéria e espírito apresentavam fronteiras bem mais fluidas se comparados ao que vigora atualmente.
Palavras-chaves: Lunário Perpétuo, remédios, calendário.