Este artigo se refere à pesquisa de doutorado intitulada Traços pós-modernos no texto teatral As Velhas, de Lourdes Ramalho. A palavra "traços" será agregada aqui no sentido de vestígios, pistas, indícios, pegadas. Nosso olhar envolve a análise do texto, bem como as conexões da tessitura com a pós-modernidade, uma vez que, encontramos na obra ramalhiana o contemporâneo e o antigo, as particularidades regionais, as tradições culturais, tendo em vista uma linguagem universal. Os conceitos da pós-modernidade são discutidos em uma ação reflexiva, sobre esse embate, envolvendo mudança de direção, reorganização das relações entre presente e passado e ainda um reajuste nos vínculos existentes entre a modernidade e a tradição. Buscamos discorrer, todavia, sobre os aspectos históricos e sociológicos que possam revelar a situação sociopolítica do Brasil na década de 1970, bem como, seus atrelamentos com a cena teatral brasileira desse decênio e o lugar d'As Velhas nesse contexto. A dramaturga Lourdes Ramalho nos remete ao sofrimento e ao heroísmo de duas mães, são elas; Mariana e Ludovina, as protagonistas, que convivem com pragas, juras e desventuras, proporcionadas ora pelas condições sociais, ora por situações atribuídas ao próprio destino. As personagens d'As Velhas, são vítimas do sistema político que rege o país, são homens e mulheres condenadas a enfrentar a sobrevivência e as mais diversas dificuldades, mas que, seguramente, estão cercadas por crenças e costumes inerentes, há muito tempo, à sua própria cultura. A autora nos mostra que velhas também são as condições de vida do povo nordestino, notadamente aquele do Sertão, empobrecido pelas condições difíceis da região, humilde e massacrado; velhas também são as promessas dos políticos; velhas são as mazelas que atravessam a vida de homens e mulheres; são velhas as sentenças de morte, as emboscadas, a luta por justiça social. Neste sentido, se velhas são as estruturas mantenedoras da miséria e da pobreza, faz-se necessária à emergência de artistas capazes de, na forma dramática, condensar sentidos e, pelo seu trabalho, atuar na transformação e na mudança. A realização desse trabalho certamente irá colaborar com a divulgação da obra de Lourdes Ramalho, buscando subsídios capazes de difundir sua dramaturgia por caminhos ainda não percorridos nacionalmente, pois, mesmo diante de seu potencial criativo, reconhecido na região Nordeste, sua obra dramatúrgica composta por cento e seis textos, encontra-se fora do cânone de autores da dramaturgia brasileira.
Palavras-chave: dramaturgia nordestina; autoria feminina; pós-modernidade