AS PECULIARIDADES SINDICAIS DOS TRABALHADORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL DE FORTALEZA/CE
ENTRE AS DÉCADAS DE 1970 E 1990
Neste ano de 2014, em que se (re)discute a efeméride dos 50 anos do golpe civil-militar, a importância deste evento se evidencia ao nos depararmos com diversas memórias construídas por múltiplos sujeitos histórico-sociais, redimensionando a Memória como uma arena de conflitos, uma dimensão de valores e desejos daqueles que recordam. Este texto é, portanto, um desdobramento da escrita de nossa Dissertação de Mestrado, intitulada: Operários em construção: As experiências sindicais dos trabalhadores da construção civil de Fortaleza entre as décadas de 1970 e 1990. Mediante a utilização da Metodologia da História Oral, analisamos com aporte teórico da História Social Inglesa as peculiaridades das experiências sindicais dos trabalhadores da construção civil de Fortaleza. Em meio à emergência destes protagonistas, particularizou-se o cotidiano operário dos canteiros de obras, ou seja, suas experiências construídas nos espaços/tempos sociais desta categoria do mundo do trabalho. Este estudo, por conseguinte, procurou problematizar a partir deste cotidiano o desenvolvimento da oposição sindical no ano de 1988, momento de transição da ditadura civil-militar para a Nova República, como uma proposta de reorganização das relações sindicais que eram desenvolvidas pela direção do sindicato desde a década de 1970, e assim, refletir sobre o estabelecimento de novas propostas e experiências que procuravam a convergência de interesses em relação aos operários da categoria. Para tanto, destacamos uma das primeiras experiências construídas pelos sujeitos que vivenciaram este processo, em 1988: o I° Congresso dos Trabalhadores da Construção Civil de Fortaleza. Nesta oportunidade, há dezenas de citações de trabalhadores que corroboram com indícios do desenvolvimento de uma nova consciência de classe: são expressões ditas por dezenas dos mais de 300 trabalhadores que participaram do Congresso, tais como "isso é um problema de todo mundo", "nós estamos aqui pra mudar", "se a gente não vai atrás, não falar, não criticar, ninguém resolve os problemas" ou "eu quero ajudar o sindicato a ter mais força"; tais depoimentos corroboram como indícios de uma consciência de classe desenvolvendo-se nestes trabalhadores. Finalmente, nossos resultados de pesquisa apontaram para a compreensão de que esta e demais experiências possibilitaram um fazer-se histórico, com os trabalhadores sendo e tornando-se protagonistas de suas experiências de classe.