A presente comunicação propõe-se a entender como as memórias do cangaço foram conservadas, transmitidas e ressignificadas pelos cordelistas da cidade de Juazeiro do Norte, situada na microrregião do Cariri, sul do Estado do Ceará. Buscamos compreender, sobretudo, como estas são reconstruídas pelas narrativas do cordelista Abraão Batista, conforme suas experiências e expectativas. O trabalho decorre de pesquisa sobre a historicidade das comemorações cearenses ao centenário de nascimento do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião, em fins da década de 1990. Uma das primeiras celebrações foi realizada no ano de 1997, justamente, em Juazeiro do Norte, na Fundação Memorial Padre Cícero, então presidida por Abraão Batista. Baseando-se nessas efemérides, a proposta geral da investigação tem sido analisar as construções da memória do cangaço problematizando suas relações com a dita cultura nordestina, a partir de estudo das experiências sociais de determinados sujeitos envolvidos nas celebrações - ex-cangaceiros, familiares, artistas populares, cineastas, memorialistas, vítimas, intelectuais e jornalistas - entre os anos de 1988 e 2008, período balizado pelas comemorações da morte de Lampião (cinquentenário em 1988; sexagenário em 1998; septuagenário em 2008). O quadro historiográfico tem como eixo as perspectivas teóricas e metodológicas da chamada "História Social da Memória".