Entre a cruz e o martelo: O imaginário da demonização do pagão na Eyrbyggja saga
José Lucas Cordeiro Fernandes (MAHIS-UECE/ARCHEA/NEVE)
Cultura Escrita na Antiguidade e Medievalidade
A cristianização da Escandinávia pode ser dividida em algumas fases, nos deixando uma clara divisão temporal e de atuação da Igreja no território, sendo uma primeira fase de contato inicial, conhecimento mútuo e aceitação pública (cf. séc. VIII-IX); uma segunda fase de disputa pelo "território ideológico" e transição (cf. séc. X-XI); a fase de consolidação e ampliação do cristianismo como a terceira e última fase (cf. séc. XII-XIV). Nesse sentido, que a dinâmica da cultura escrita das sagas para a cristianização será observada por nós, pois essa produção escrita vinha com a intenção do seu autor cristão, entre várias delas, nós podemos destacar uma valorização da religião cristã. Nesse cenário, as sagas como um conjunto literário produzido na consolidação do cristianismo (3º fase), passam a voltar sua escrita para o passado de disputa sobre o "território ideológico" (1º e 2º fases), como um intento de modelar um passado que estava presente na oralidade e que agora se "fixava" no papel e na tinta, apresentando sua visão sobre momentos de disputa, pondo o cristianismo em um status de superioridade na balança moral e no jogo mágico de poder entre as crenças. Nosso trabalho busca focar nessa escrita sobre o passado e a configuração do cenário da cultura escrita na Escandinávia medieval, intentando perceber como essa escrita foi preenchida por demonizações e subversões de valores e características pagãs. Com este foco nós selecionamos uma fonte que nos permite realizar a "operação historiográfica", esta que é a Eyrbyggja saga, fonte escrita em meados do século XIII por um autor anônimo e que nos revela muito sobre o contato entre pagão e cristão na ótica de um autor cristão e do cenário de cultura escrita que existia na região na época de sua produção. Por fim, nos ligaremos ao aparato teórico da História Cultural e da corrente medievalista francesa para definir as fímbrias do conceito de imaginário e da metodologia da Cultura Escrita medieval e da Nova Escandinavística, como instrumentos necessários para questionar as nossas fontes e aplica-las corretamente dentro da pesquisa histórica. Logo, tivemos como resultado desse trabalho a apresentação de uma perspectiva de demonização sobre uma fonte literária típica da Escandinávia, algo que foi parcamente realizado, quando se pensa em na ideia de demonização durante a cristianização como foco.
Palavras-Chave: Demonização; Escandinávia; Cultura Escrita.