O presente trabalho tem como objetivo observar questões de memória, léxico e cultura nos Diários de viagem de Francisco Freire Alemão. Publicados pelo Museu do Ceará em 2006 (volume I) e em 2007 (volume II), os Diários de Freire Alemão (1797-1874) são o registro das viagens empreendidas pelo referido botânico em terras cearenses, quando, liderando uma Expedição Científica composta por naturalistas e pesquisadores brasileiros, buscava fazer levantamentos científicos que apontassem para a compreensão da identidade nacional. A referida expedição/comissão, criada no ano de 1856, consistia em um projeto do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB) com o apoio do imperador D. Pedro II, tendo como um dos objetivos, inserir o Brasil no meio científico internacional. A primeira viagem de Freire Alemão vai de Fortaleza ao Crato, tendo início no ano de 1859. A segunda dá-se do Crato ao Rio de Janeiro, no período de 1859 até 1860. A coleção de manuscritos de Freire Alemão, registro das duas viagens feitas pelo interior do estado do Ceará está abrigada, hoje, sob a guarda da Biblioteca Nacional. Provavelmente conhecedor do ditado latino que diz "as palavras voam, mas a escrita permanece"; Freire Alemão registra em seus diários não apenas os aspectos relacionados estritamente às questões científicas, objetivo maior da empreitada, mas também questões relacionadas aos usos da língua, do léxico e da cultura como um todo. A variação de temas observáveis nos Diários do referido cientista apresenta-se como um rico manancial de informações relevantes para a compreensão da cultura e da história do povo cearense no século XIX. Pelos registros de Freire Alemão, é possível perceber desde a precariedade das coisas à desolação do humano. Em suas anotações, Freire Alemão expõe ainda a eterna luta do homem com o ambiente hostil, vítima da violência, da miséria e do descaso. A atualidade dos registros de Freire Alemão constitui-se farto material de pesquisa quando se objetiva compreender o passado para modificar o presente. Como embasamento teórico para a presente proposta de comunicação, recorremos aos trabalhos de Alemão (1859-1860), Schwarcz (1998), Freyre (2006), Williams (2007), Ricoeur (2010), Tuan (2012) e Bauman (2012).