A presente proposta de trabalho objetiva investigar, na obra de Pier Paolo Pasolini (1922-1975), aquele período do "intelectual corsário", seja nos seus escritos seja em seus filmes. Em tais escritos e filmes, Pasolini identifica, na forma de um diagnóstico, alguns sintomas que afetaram cotidianamente, dos indivíduos nas suas disposições e faculdades, em virtude da "mutação antropológica" decorrente do avanço tecnológico no neocapitalismo. A nova racionalidade tecnológica transformou radicalmente a sociedade italiana, substituindo assim aquela que tinha de mais íntimo, a saber, todo um modo próprio de viver, dando- lhe outros sentimentos, outra maneira de pensar, de viver, outros modelos culturais. Essas mudanças afetaram os indivíduos em sua constituição antropológica e cultural, desde o corpo, a fala, os sentimentos, os comportamentos, os valores, a expressividade, dentre outros. Esta nova racionalidade totalizante institui novos modelos sociais para a civilização, que se realiza no ato do consumo como nova felicidade. Tal fato acarretou uma crise do estatuto antropológico, algo que influenciou, decisivamente, a prática cotidiana, o sentimento de comunidade e toda uma cultura anteriormente constituída e vivenciada.