Este trabalho apresenta parte da dissertação de mestrado em realização no Programa de
Pós-Graduação em História Social - UFC, sob o título, Das Santas Almas da Barragem à
Caminhada da Seca: projetos de patrimonialização no Sertão Central Cearense (1982 -
2007). Desenvolvido no segundo capítulo, busca compreender como se deu a construção
dos projetos de patrimonialização ocorridos em torno das memórias do Campo de
Concentração do Patú, havido em Senador Pompeu, durante à seca de 1932. São distintos
os projetos ensejados pela Igreja Católica através de seus sacerdotes e fiéis, da sociedade
civil através do movimento dos "agentes culturais" locais e do Estado, via representantes
políticos, atuando por meio de políticas públicas ou, mais precisamente neste caso, da sua
efetiva ausência. Os conflitos travados entre estes diversos sujeitos históricos, nas
conjunturas aqui estudadas, ressaltam a luta por uma memória hegemônica, que, como lhe
é própria se configura e reconfigura conforme o jogo social. Assim, lembrança e
esquecimento se tornam os instrumentos fundamentais neste embate, onde o patrimônio
cultural, por sua vez, figura como expressão catalizadora, é o semióforo destas memórias
sociais, como diria François Hartog. A pesquisa se deu por meio de fontes escritas como
jornais, documentos administrativos, processos judiciais, entre outros pertencentes a
acervos públicos e privados, e por fontes orais, através de entrevistas com sujeitos que ali
participaram ativamente. As entrevistas têm por guia a metodologia da história oral,
considerando a ação dos participantes, narradores e pesquisador, na construção dessa
fonte a sua consequente interpretação crítica. A trama das memórias que dão suporte a
cada um destes projetos toma como premissa para seu entendimento, sobretudo, as ideias
de Aleida Assmann quando remete à memória cultural e o seu paralelo com a memória
comunicativa, quer seja ela coletiva ou individual, que operam e se reproduzem do modo
particular na sociedade.