Numa manhã de maio de 1957, o ex-tecelão Antônio Rabelo Vieira entra na fábrica de tecidos que tantos anos trabalhara, para acertar suas contas, recebendo um "vá embora" como resposta. Indignado, acerta uma faca no corpo do Diretor Industrial Dante Buonorandi, que faleceria poucas horas depois. A trama em si, dá a entender um conflito que envolvia somente duas pessoas: operário e "chefe", entretanto, no processo de investigação que iniciei há pouco, percebo que durante os três anos que trabalhou naquele Cotonifício na função de tecelão, Antônio Vieira se relacionava da pior forma com o italiano Buonorandi, mas isto não acontecia somente a ele. Recebendo a alcunha de "carrasco" pela categoria operária têxtil da cidade, o estrangeiro se entranhava da função de "supervisor-patrão" para pressionar pela produtividade crescente; para isto cometia inúmeras irregularidades, senão atrocidades, segundo a tradição sindical, ou mesmo, a recente Consolidação das Leis do Trabalho (CLT): demissão de operárias grávidas e de operários considerados "velhos", manobras para a redução de salário, jornada extra sem remuneração, perseguição aos acidentados no trabalho, incentivo ao conflito no interior da categoria com a contratação e privilégios concedidos a mão-de-obra paraibana em detrimento dos demais, para citar somente algumas. Através desta situação-limite, busco interpretar o modo como a direção do Cotonifício Leite Barbosa, fábrica de tecidos recentemente instalada no bairro Parangaba, tratava seus trabalhadores e as questões trabalhistas ali em curso, bem como a indignação do operário enviado para casa dias antes quando fora sumariamente demitido ao ser surpreendido trocando uma ideia com um companheiro de trabalho, sendo-lhe negado, desde então, quaisquer direitos. Deste enredo, busco analisar a trajetória de luta do operariado têxtil desta unidade fabril na conquista dos direitos trabalhistas, tendo em vista a recente criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que apesar do termo que recebe, em nada estava consolidada no cotidiano das relações de trabalho: gritos, ameaças, negligência era o que prevalecia entre as paredes da fábrica. Para este intento, justifico esta pesquisa no campo da História Social do Trabalho, utilizando variada tipologia de fontes, dentre elas, os jornais O Democrata e O Povo; processos trabalhistas e criminal; entrevistas; boletins e atas sindicais, dentre outros.