DESENVOLVIMENTO E PROSPECÇÃO DE COSMÉTICO UTILIZANDO UM CORANTE DO BABAÇU (CORB)

ROSANGELA CAMPELO DE OLIVEIRA TOURINHO

Co-autores: ROSÂNGELA CAMPELO DE OLIVEIRA TOURINHO, RAFAEL EVERTON ASSUNÇÃO RIBEIRO DA COSTA, JOSÉ RIBEIRO DOS SANTOS JÚNIOR, DARIO BRITO CALÇADA, FÁBIO DE OLIVEIRA SILVA RIBEIRO, ALYNE RODRIGUES DE ARAÚJO, RÔMULO JOSÉ VIEIRA e FABRÍCIO PIRES DE MOURA DO AMARAL
Tipo de Apresentação: Pôster

Resumo

 

DESENVOLVIMENTO E PROSPECÇÃO DE COSMÉTICO UTILIZANDO UM CORANTE DO BABAÇU (CORB)

 

(Development and prospecting of cosmetic using a dye from babassu (CORB))

 

Rosângela Campelo de Oliveira TOURINHO1; Rafael Everton Assunção Ribeiro da COSTA1; José Ribeiro dos SANTOS JÚNIOR2; Dario Brito CALÇADA3; Fábio de Oliveira Silva RIBEIRO4; Alyne Rodrigues de ARAÚJO4; Rômulo José VIEIRA1,2; Fabrício Pires de Moura do AMARAL1*

 

1Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Piauí (CCS/UESPI), Rua Olavo Bilac, 2335, Campus Poeta Torquato Neto, Teresina-PI. CEP: 64001-280; 2Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Petrônio Portella; 3Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Campus Prof. Alexandre Alves de Oliveira; 4Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Ministro Reis Velloso. *E-mail: fabricio34amaral@gmail.com

 

RESUMO

O babaçu (Orbignya sp.) é uma planta nativa do Brasil de grande relevância socioeconômica. No mesocarpo, pode ser extraído facilmente um corante (CORB). Neste estudo, foi feita a caracterização do CORB em termos físico-químicos e químicos, além de determinar sua atividade antimicrobiana em Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Enterococcus faecalis, Enterococcus faecalis (presença do gene vanB, que confere resistência à Vancomicina), Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa para subsidiar o desenvolvimento de um produto cosmético (sabonete neutro). O CORB apresenta atividade antimicrobiana em Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidisEnterococcus faecalis, com concentrações entre 1.250 e 19,53 µg/mL, sendo desenvolvido o protótipo de um sabonete neutro, a ser avaliado futuramente em termos de eficácia e toxicidade.

Palavras-chave: Cosméticos, Corantes, Antimicrobianos.

 

ABSTRACT

Babassu (Orbignya sp.) is a plant native to Brazil of great socioeconomic relevance. In the mesocarp, a dye (CORB, acronym in Portuguese) can be easily extracted. We characterized CORB in physical-chemical and chemical terms, in addition to determining its antimicrobial activity in Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Enterococcus faecalis, Enterococcus faecalis (presence of the vanB gene, which confers resistance to Vancomycin), Escherichia coli and Pseudomonas aerugina to subsidize the development of a cosmetic product (neutral soap). CORB has antimicrobial activity in Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis and Enterococcus faecalis, with concentrations between 1,250 and 19,53 µg/mL, with the development of a neutral soap prototype, to be evaluated in terms of efficacy and toxicity in the future.

Keywords: Cosmetics, Coloring Agents, Anti-Infective Agents. 

 

INTRODUÇÃO

O Brasil apresenta grande variedade de climas e vegetações. Na flora brasileira, as palmeiras se destacam pelo seu grande potencial econômico, gerando insumos para o desenvolvimento de vários setores da sociedade. Entre as palmeiras, o babaçu (Orbignya sp.) se constitui como uma de suas mais importantes representantes (OLIVEIRA et al., 2019). Planta nativa do Brasil, o babaçu se distribui por grande parte do país, desde o estado do Amazonas até São Paulo, com predominância no Norte e Nordeste, sobretudo nos estados do Maranhão e Piauí (SILVA et al., 2019).

Há evidências de alguns efeitos biológicos do pó de mesocarpo do babaçu, como resposta anti-inflamatória, cicatrizante, antitumoral, antitrombótica e antimicrobiana e indução da ativação de macrófagos e da produção de citocinas, indicando um efeito imunomodulador (BARROQUEIRO et al., 2016).

Há um corante (CORB), derivado do babaçu e facilmente extraído do mesocarpo, pouco aproveitado atualmente (SANTOS et al., 2011). Em estudo prévio desenvolvido por ARRUDA et al. (2012) com o mesocarpo de babaçu, ficou evidenciado que sua composição é rica em taninos, antocianinas e polissacarídeos, indicando uma composição química para o CORB dentro deste espectro e possíveis efeitos biológicos, como atividade antimicrobiana (ARRUDA et al., 2012; BARROQUEIRO et al., 2016).

O corante do babaçu ainda necessita de um maior conhecimento sobre suas características físico-químicas, sua composição química, seu perfil de toxicidade e seus efeitos biológicos. Portanto, este estudo objetivou caracterizar o corante do babaçu em termos físico-químicos e químicos, bem como avaliar seu potencial antimicrobiano e, uma vez que foi constatado esta atividade, houve o desenvolvimento de um protótipo de produto cosmético (sabonete neutro) com o uso do CORB na sua composição.

Os resultados encontrados foram promissores, levando à elaboração de um protótipo de cosmético antimicrobiano com o uso de CORB (um sabonete, que foi feito de forma preliminar para alavancar o avanço nos estudos e o desenvolvimento do produto definitivo com o uso do CORB).

 

MATERIAL E MÉTODOS

Os frutos do babaçu foram provenientes da cidade de Teresina (latitude: 05o 05' 21'' S, longitude: 42o 48' 07'' W), estado do Piauí, Brasil, e estão sendo fornecidos pela UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (Teresina, BR). Foi realizado cadastro no Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (SISGEN), conforme Lei nº 13.123/2015 e o Decreto nº 8.772, de 2016 (Cadastro de acesso SISGEN Nº A4363C3).

A extração do corante do babaçu foi realizada pela técnica descrita por SANTOS et al. (2011), com o uso do mesocarpo de babaçu (SANTOS et al., 2011).

O CORB foi caracterizado em termos físico-químicos por análise termogravimétrica (TGA)/calorimetria diferencial de varredura (DSC), espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) e difração de raios-X (DRX) e em termos químicos por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CGEM), partes estas omitidas dos resultados deste trabalho, pois o CORB ainda está em processo de patenteamento.

A atividade antibacteriana foi examinada de acordo com as normas preconizadas pela CLSI (2015), por meio do ensaio de microdiluição em caldo para determinação da Concentração Inibitória Mínima (CIM), utilizando-se as cepas bacterianas Staphylococcus aureus ATCC® 29213TM, Staphylococcus epidermidis ATCC® 12228TM, Enterococcus faecalis ATCC® 29212TM, Enterococcus faecalis ATCC® 51299TM (presença do gene vanB, que confere resistência à Vancomicina), Escherichia coli ATCC® 25922TM e Pseudomonas aeruginosa ATCC® 27853TM (CLSI, 2015).

Para avaliar possíveis alterações morfológicas causadas pela ação do corante a partir do experimento para determinação da CIM, bactérias pertencentes ao grupo controle de crescimento bacteriano (sem tratamento), ao grupo tratado com concentração sub inibitória mínima (Sub-CIM) e ao grupo tratado com o corante em concentração inibitória (CIM) foram observadas por meio da técnica de Microscopia de Força Atômica (MFA).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O corante apresentou potencial inibitório contra bactérias Gram-positivas, tais como S. Aureus ATCC® 29213TM, S. Epidermidis ATCC® 12228TM e E. Faecalis ATCC® 29212TM (Tab. 01), com CIM variando de 1.250 a 19,53 µg/mL. Conforme observado, o corante não foi ativo contra as bactérias Gram-negativas utilizadas e contra a bactéria resistente (E. Faecalis - vanB), nas concentrações testadas.

 

Tabela 01: Avaliação da atividade antimicrobiana do corante.

Cepas bacterianas

CIM (µg/mL)

Staphylococcus aureus ATCC® 29213TM

625,00

Staphylococcus epidermidis ATCC® 12228TM

19,53

Enterococcus faecalis ATCC® 29212TM

1.250,00

Enterococcus faecalis ATCC® 51299TM

-

Escherichia coli ATCC® 25922TM

-

Pseudomonas aeruginosa ATCC® 27853TM

-

Legenda: - Não apresentou atividade inibitória.

 

O CORB se mostrou um produto promissor. Em pesquisa já realizada por BARROQUEIRO et al. (2016), ficou evidenciada a atividade antimicrobiana da farinha do mesocarpo de babaçu contra Staphylococcus aureus, Enterococcus faecalis e Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA), subsidiando a atividade antimicrobiana do CORB encontrada neste estudo.

As imagens de MFA (Fig. 01) revelam a morfologia bacteriana sem tratamento e após tratamento com o corante de babaçu. É possível observar que as bactérias do grupo controle apresentam morfologia característica da espécie estudada, Staphylococcus epidermidis (cocos em cachos), esta cepa foi escolhida para este teste por apresentar maior susceptibilidade ao corante. Em contrapartida, nas imagens pode-se visualizar aumento de tamanho nas bactérias tratadas com concentração sub-inibitória/Sub-CIM (Z = 2,8 µm), comparadas ao controle (bactérias não tratadas, Z = 2,2 µm). As bactérias tratadas com concentração inibitória (CIM = 19,53 µg/mL) se apresentam destruídas, com completa perda do formato característico. Em face da comprovação da atividade antimicrobiana do CORB, foi desenvolvido um protótipo de um produto cosmético (sabonete neutro), que passará por testes futuros em relação às suas eficácia e toxicidade.

 

Figura 01: Imagens 3D (esquerda) e de amplitude (direita) da bactéria S. Epidermidis por MFA. Não tratada (A e B), após tratamento com a concentração SubCIM (C e D) e após tratamento com a CIM (E e F).

 

CONCLUSÕES

O CORB foi caracterizado em termos físico-químicos e químicos. Os resultados elencados demonstram atividade antimicrobiana do CORB em Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis e Enterococcus faecalis, com concentrações entre 1.250 e 19,53 µg/mL, indicando um grande potencial para o desenvolvimento de um produto cosmético. Um protótipo de sabonete neutro foi desenvolvido para comprovação de sua aplicabilidade, mas ainda passará por testes futuros de eficácia e toxicidade.

 

REFERÊNCIAS

ARRUDA, L. C. G.; LIMA, M. P.; RIBEIRO, M. N. S. Estudo fitoquímico em farinha do mesocarpo do babaçu (Orbignya phalerata Mart., Arecaceae), Manaus, AM, 2012. In: Congresso de Iniciação Científica PIBIC/CNPq - PAIC/FAPEAM, 1, 2012, Anais.

BARROQUEIRO, E. S. B.; PRADO, D. S.; BARCELLOS, P. S.; SILVA, T. A.; PEREIRA, W. S.; SILVA, L. A.; MACIEL, M. C. G.; BARROQUEIRO, R. B.; NASCIMENTO, F. R. F.; GONÇALVES, A. G.; GUERRA, R. N. M. Immunomodulatory and Antimicrobial Activity of Babassu Mesocarp Improves the Survival in Lethal Sepsis. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, v.2016, p. 1-7, 2016.

CLSI- CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE. M07-A10. Acesso em 8 janeiro de 2020. Disponível em: https://clsi.org/media/1632/m07a10_sample.pdf

OLIVEIRA, G. L. S.; SANTOS, J.; ARAUJO, L. F.; SOUZA, I. H. S.; PAGANI, A. A. C. Produção e caracterização físico-química de "leite" de coco e microcápsulas da amêndoa do coco de babaçu. Revista GEINTEC, v.9, p. 5105-5116, 2019.

SANTOS, A. M. S.; ALMEIDA, F. S.; PASSOS, I. N. G.; FIGUEIREDO, F. C.; JÚNIOR, J. R. S. Caracterização Físico-Química de corante extraído a partir do mesocarpo do babaçu(Orbignya speciosa) e aplicação em vernizes, São Luís, MA, 2011. In: Congresso Brasileiro de Química, 51, 2011, Anais.

SILVA, J. S.; SANTOS, M. L.; FILHO, E. C. S.; CARVALHO, M. G. F. M.; NUNES, L. C. C. Subprodutos do babaçu (Orbignya sp.) como novos materiais adsortivos: uma revisão. Revista Matéria, v.24, p.1-11, 2019.