Este trabalho analisou o deslocamento de cangaceiros nos limites do Estado do Ceará e a construção discursiva do medo elaborada pela imprensa local e de estados vizinhos. Atentamos para as particularidades, os usos dos espaços limítrofes e as estratégias adotadas na repressão ao banditismo descritas pelos jornais cearenses. Os discursos presentes nos impressos apontavam para uma constante ameaça de invasão e de destruição das propriedades e das vidas, fomentadas a partir do deslocamento de cangaceiros pelos espaços de fronteiras diante das múltiplas possibilidades que eles ofereciam (as fugas, a prática de crimes diversos, as mortes). Assim, entre os anos 1912 e 1926, representantes das polícias de vários Estados se uniram e estabeleceram regras que passaram a vigorar em um grande ciclo de acordos policiais interestaduais na tentativa de colocar fim ao cangaço naquela região. Esse trabalho buscou analisar os discursos sobre o combate ao cangaço a partir da implementação dos acordos interestaduais, materializados na imprensa e nas mensagens dos Presidentes de Estados para a Assembleia Legislativa do período. Selecionamos para nossa análise periódicos do Sertão Central, da região Norte e da Região Sul do Estado do Ceará, na tentativa de apresentar uma ampla visão sobre a temática e sua aparição nas folhas. Ao mapearmos as notícias, percebemos a urgência que o tema ganhou, em especial durante nas primeiras décadas de 1920 (estampando os jornais quase diariamente e em primeira página) e como o medo é constantemente mobilizado como política de definição dos espaços, das práticas e dos sujeitos. Apontamos ainda, o papel dos impressos na (re)elaborações dos espaços sertanejos.