Reconstruindo o cenário urbano em que a subcultura headbanger agia, este trabalho analisa as disputas enfrentadas por essa parcela da juventude dos anos 1980 em Fortaleza (CE). Os conflitos de interesse são percebidos nos locais em que procuram ocupar, e que são disputados em múltiplos âmbitos - econômicos, imaginários, representativos... -, contra donos de estabelecimentos, outras subculturas, pais e parentes, instrumentos do Estado, imprensa e população sob os valores de uma tradição a serem conservados. Dessa maneira, interessa-nos analisar as motivações dos jovens ligados ao movimento Heavy Metal e traçar um desenvolvimento de um "ser" headbanger sócio-histórico na Fortaleza urbana (1985-1990), este "ser" caracterizado na dimensão de sujeito: na medida que age, toma voz e é inserido nas sociabilidades do seu grupo social; e de discurso, a narrativa que está intrínseca à agência do grupo, sendo deliberadamente produzida na representação deles para si, nos modos que se percebem no próprio tempo e como se projetam para o futuro. Para isso, faz-se o uso do estudo de diferentes tipologias de fontes, entre arquivos pessoais e institucionais. Assim, analisa-se as três coleções de fanzines: True Metal's Fan Club (1985), Heavy Metal (1986 - 1988) e Savage Metal (1989), caracterizando parte da imprensa alternativa que circulava entre esses jovens, sendo sua voz impressa nas críticas, nos relatos das experiências urbanas e nas vontades/expectativas dos autores; os cartazes dos eventos e os registros fotográficos, permitindo observar a ocupação de um espaço, sua ressignificação e sua re-dinamização; os periódicos formais O POVO e Diário do Nordeste (1986-1987), que produzem discursos conflitantes no intuito chocar, "sensasionalizar", bestializar, questionar e divulgar os headbangers; e os depoimentos orais, com 30 entrevistas utilizadas como uma forma de confrontar as vivências do passado que estão sendo construídas no presente.