OS GNAWAS DO MARROCOS: ASPECTOS DA RELIGIOSIDADE DOS NEGROS DESCENDENTES DE ESCRAVIZADOS SUDANESES.

FRANCK RIBARD

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

A comunidade gnawa incarne no Marrocos (África), a população considerada como "negra" e descendente de escravizados originários do Sudão histórico. Historicamente, o sul do Marrocos situa-se num espaço geográfico caracterizado por uma interface e uma conexão entre os mundos arabo-berberes (amazigh) e sudaneses, em particular saarianos, que se consolidaram a partir de movimentos de natureza religiosa (difusão do islã, desde a gesta dos almorávidas (Xe séc.) e mesmo depois) e comerciais (rotas tradicionais do comercio do ouro, do sal, das caravanas transaarianas mas também rotas utilizadas, desde o começo da expansão islâmica, pelo tráfico oriental de escravizados). Nesse sentido, as condições que prevaleceram na emergência dessa comunidade, podem ser estendidas à outras regiões, os gnawas, mesmo se com denominações diferentes, estando presentes também na Argélia, Tunísia, Líbia... No que interessa essa apresentação, baseada num trabalho de campo realizado recentemente, a analise se concentrará nos gnawas do sul do Marrocos que, enquanto descendentes de escravizados sudaneses depositários de uma cultura, memoria e cosmogonia próprias, serão abordados numa perspectiva comparativa "Sul-Sul", com aportes teórico-metodológicos da História Atlântica (Scott & Hébrard, 2014) e mesmo da Global History (MANNING, 2003), com os descendentes afro-brasileiros e as religiões afro-brasileiras (Candomblé e Umbanda). Serão abordados e problematizados aspectos relacionados às religiões e aos rituais, em foco no estudo, como: a transa de possessão; o papel central das mulheres nos rituais (Ialorixá%mqadma); a natureza das diferentes "famílias de entidades"(na Lila e Derdeba); o papel social dos rituais; a existência de "valores" ligadas ao espaço do religioso, constitutivas do que poderia ser chamado de dinâmicas identitárias gnawas e afro-brasileiras. Em particular, o interesse volta-se, num contexto comum de populações negras descendentes de escravizados, para uma apreensão comparativa dos termos da manutenção das referências e símbolos religiosos nas dinâmicas e discursos identitários "negros".