Este trabalho dá conta de uma pesquisa em fase inicial que se propõe a investigar
uma rede intelectual derivada de um conjunto de projetos literários articulados na cidade de
Fortaleza/CE a partir da década de 40 do século XX, por um grupo de escritores modernistas,
frequentemente, designado através da expressão CLÃ. Acredita-se que a existência dessa rede
cujo propósito declarado era interligar todo o território nacional, contribuiu, senão para pôr fim,
pelo menos para minimizar certos constrangimentos sociais cuja origem, ora estava relacionada
aos laços familiares e afetivos que, como sugere o nome do coletivo, facilitaram o acesso de
seus membros a posições de prestígio, ora se encontrava fundamentada em estigmas associados
ao posicionamento ideológico que marcou a postura de seus integrantes à época do Estado
Novo. Assim, busca-se entender como o fomento de uma rede letrada possibilitou a um círculo
restrito de escritores validar seu capital simbólico, isto é, a autoridade e o prestígio conferidos
pelos postos e posições sociais que ocupavam. Ademais, na medida em que a produção dessa
legitimidade mesclava elementos intelectuais e políticos, é possível encarar os projetos
literários que conceberam a referida malha letrada como parte de uma operação de gestão das
paixões políticas, um intrincado processo de dissolução das desavenças locais marcado pela
veiculação de ressentimentos, da indignação, da humildade e certa consciência do fracasso, com
o intuito de delinear as dinâmicas internas e externas ao grupo de pertença, os modos de
identificar a si e à coletividade e as formas de se relacionar com o poder e com as normas
impostas.