MEANDROS E FRAGMENTOS ENTRE FONTES DA DITADURA E RELATOS MEMORIAIS (RECIFE-FORTALEZA, 1975-1985)

SAMUEL CARVALHEIRA DE MAUPEOU

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

Essa pesquisa trata da complexa relação entre o SNI e chamado "clero progressista" na década de 1975 a 1985, em Recife e Fortaleza, e se concentra especificamente na trajetória do ex-padre belga Eduardo Hoornaert, teólogo e professor de História da Igreja no Instituto de Teologia do Recife (ITER, 1968-1981) e no Instituto de Teologia de Fortaleza (1982-1991). O monitoramento sistemático de suas atividades se justificava por sua atuação como secretário na Comissão Episcopal de História da Igreja da América Latina (CEHILA), da qual foi um dos criadores em 1973, com outros teólogos brasileiros e latino-americanos, e também responsável do setor popular. Esta comissão resulta de uma leitura crítica influenciada pela Conferência Episcopal Latino-Americana de Medellín (1968) e pela Teologia da Libertação (1971) e consiste numa iniciativa expressiva de publicação da História da Igreja latino-americana. Além disso, seu rastreamento se explicava pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que ele acompanhava nas periferias de Recife, como pároco no Alto do Pascoal, e em razão das relações que mantinha com dom Helder Camara, dom Aloísio Lorscheider e teólogos como Joseph Comblin, padre conterrâneo seu expulso do Brasil em Recife, em 1972. Diante disso, indago como problemática central as narrativas construídas pelo serviço de informação confrontando-as com os relatos do professor Eduardo Hoornaert nas muitas horas de entrevista que fiz com ele em novembro de 2021. As fontes utilizadas são 76 relatórios produzidos pelo SNI, uma série de 5 entrevistas minhas com o professor (mais de 5h ou 100 páginas transcritas) e matérias de jornais como Folha de São Paulo e Jornal do Brasil. Percebo que, apesar de ter suas atividades pastorais e eclesiais constantemente acompanhadas, suas memórias não remetem a esses episódios de controle e repressão, concentrando-se principalmente no âmbito eclesial e de produção intelectual a partir dos anos 1970 e 1980.