O presente trabalho surge a partir das inquietações acerca das reivindicações do movimento de mulheres negras e a atuação de Lélia Gonzalez nos periódicos Mulherio e Nzinga na inserção de questões específicas nas agendas feministas na década de 1980. Partindo de uma reflexão dos cenários conjunturais entre a década de 1980 e o presente contexto, questionamos sobre o lugar da mulher negra dentro do movimento feminista, até então, homogeneamente branco e proveniente de classes mais abastadas: como caracterizavam-se as experiências entre as mulheres negras e o movimento de mulheres? Como as percepções em torno das vivências de ser mulher e negra se constituem com as opressões que estruturam as categorias de gênero, raça e classe na sociedade brasileira? Os artigos de Lélia Gonzalez para o jornal Mulherio parecem complementar o que vem a ser pauta posteriormente do Nzinga Informativo, ao discutir sobre o lugar histórico da mulher negra na sociedade brasileira, no mercado de trabalho e ao questionar a naturalização dos estigmas sexuais que são impostos à imagem da mulher negra, além de denunciar a dupla opressão sofrida por elas. Posto isso, compreendemos que o movimento de mulheres negras enfrentou os silenciamentos de suas reivindicações, dessa forma, contribuindo para a manutenção dos sistemas de opressão que coexistem estruturalmente no sistema capitalista. Ao trabalharmos com os periódicos, pretendemos problematizar as tensões recorrentes entre o movimento feminista e as mulheres negras durante o processo de reconstrução dos movimentos sociais brasileiro. Nesse contexto, a historicização dos periódicos possibilita analisar as percepções acerca da efetiva participação das mulheres negras em movimentos sociais, âmbitos político-partidários e espaços acadêmicos institucionalizados.