Este trabalho procura analisar o projeto de pesquisa em desenvolvimento denominado Laboratório de História do Tempo Presente dos Sertões de Crateús (LAHTEPS), com vistas ao fomento de investigações e de atividades acadêmicas vinculadas ao campo da História do Tempo Presente (HTP). Este campo disciplinar se consolidou ao longo do século XX, tendo se originado a partir dos desdobramentos de eventos traumáticos de grandes proporções, tais como a II Guerra Mundial e, posteriormente, as ditaduras latino-americanas. À vista disso, o impulso para que historiadores se voltassem para temporalidades mais recentes veio do trauma da guerra, que mobilizou demandas sociais para a compreensão de eventos mais próximos no tempo. Esse cenário trouxe novos desafios aos historiadores sobre suas práticas, sejam de ordem metodológica ou teórica, anteriormente habituados a investigar apenas fenômenos mais recuados, com os quais eles próprios não tivessem experiência (DOSSE, 2012; DELACROIX, 2018). Nessa perspectiva, como investigar, pensar e historicizar os Sertões de Crateús nas últimas décadas? De que modo congregar historiografias periféricas que tratem dessa territorialidade marcada pela presença de diferentes grupos sociais - quilombolas e indígenas? Crateús consiste em um município-polo de uma microrregião situada próxima à divisa entre o Estado do Ceará e do Piauí, na qual, dentre outros grupos, buscamos refletir sobre os povos indígenas urbanos e comunidades quilombolas. Trata-se, de um lado, de grupos subalternos cujas trajetórias foram marcadas por tensionamentos, disputas de poder e pela formulação de estigmas com vistas à sua marginalização na sociedade. Por outro lado, estes sujeitos (re)agiram, resistiram e construíram suas experiências ao longo do tempo, partilhando, concomitantemente, estratégias comuns e táticas singulares de cada grupo que necessitam da análise historiográfica e da produção de acervos documentais. Embora pareça um contrassenso, pensar o presente a partir da História é um exercício que permite analisar anseios, tensionamentos e questões contemporâneas, ou do então denominado presentismo. (HARTOG, 2019).