Este trabalho visa compreender como a imagem do Diabo, construída no imaginário cristão, sobrepõe-se sobre diversas manifestações religiosas presentes no Brasil. Apesar do Brasil ser um território que, como uma das consequências de seu período colonial, apresenta diversas crenças religiosas, como as de matriz africana, é inegável a existência de intolerância religiosa em nosso país. Muitas das vezes oriundas de indivíduos cristãos, a intolerância religiosa tem como base discursos baseados na dicotomia entre o bem e o mau, sendo o bem representado por Deus e o mau pelo Diabo. Nesses casos, o discurso maniqueísta busca impor sobre a crença diferente um status de perversa, de distante de Deus portanto próxima ao Diabo. A imagem do Diabo foi construída pelo cristianismo e ganha força durante o período medieval com o intuito de representar o errado, o mau no homem e na sociedade, assim, para afastar as pessoas de crenças diferentes, a Igreja católica atribuiu à entidade características que na verdade eram símbolos de crenças pagãs como por exemplo partes do corpo animalizadas aludindo às oferendas de animais em rituais pagãos. Hoje, apesar da fragmentação do cristianismo entre católicos e protestantes, a figura do Diabo permanece com tal função. Notamos isso a partir de práticas intolerantes que ocorrem frequentemente a partir da demonização de entidades de matriz africana. Em 2022, a Acadêmicos da Grande Rio foi alvo de intolerância religiosa quando Exu protagonizou seu samba enredo. Assim, a partir de matérias que evidenciam discursos que demonizam Exu advinda de manifestações intolerantes no carnaval do Rio de Janeiro de 2022, entendendo a história desse ser temido pelos cristãos e compreendendo a representação como forma de domínio por meio de símbolos, este trabalho busca compreender como o cristianismo apropria-se de símbolos alheios para tornar maligno aos olhos cristãos entidades de matriz africana.