m concordância com Joan Scott (1990), quando aponta que o gênero é constituído a partir de relações sociais e que ele é um modo de dar significado às relações de poder, e com María Lugones (2008) quando o define como uma construção binária e hierárquica que formula relações e classifica os/as sujeitos/as entre homens e mulheres, tal como a raça, com a diferenciação entre brancos/as e não brancos/as, entende-se, neste trabalho, que estas duas categorias, gênero e raça (estas ligadas à classe), são partes de uma forma de compreensão moderna que resulta em relações sociais de poder entre os sujeitos. Partindo dessa compreensão, pretende discutir aqui como, nas publicidades de medicamentos divulgadas na revista ilustrada A Pilhéria (Recife) na década de 1920, foi utilizada esta dualidade hierárquica entre corpos femininos e masculinos, brancos e não brancos, como forma de convencimento para o consumo de medicamentos e, mais do que isso, conscientemente ou não, disseminou-se uma noção de masculinidade baseada nas ideias de força e virilidade, relacionadas a imagens de homens brancos, as quais contribuíram para a manutenção das concepções de gênero, raça e classe já existentes, reafirmando-as como bases da sociedade que se formava a partir do advento da república.