Resumo: A pesquisa analisa o trabalho e suas relações na ditadura militar partindo da experiência dos trabalhadores bancários cearenses entre 1964 e 1979. A investigação suscita questionamentos para além dos direitos políticos ou das torturas e identifica que a ditadura exacerba a própria violência das relações de trabalho no estado capitalista. As fontes da pesquisa são, em primeiro lugar, entrevistas com indivíduos que atuaram na estrutura bancária no período, tanto em bancos privados como públicos, no interior e na capital, e que eram ou não militantes de organizações políticas. Em seguida, processos trabalhistas do arquivo do Tribunal Regional do Trabalho 7ª Região, 860 deles já foram identificados dentro do recorte e estão relacionados com o setor financeiro. Ressalta-se a redução das ações trabalhistas à medida que o regime se consolida, afunilando-se com o tempo para apenas algumas dezenas. Além disso, processos da comissão da anistia, contendo documentos dos tribunais militares, serviços de inteligência e relatos dos perseguidos que narram o impacto da ditadura na relação laboral. Por fim, periódicos arquivados na Biblioteca Estadual do Ceará e arquivos pessoais, com foco nos jornais Mutirão, O Estado e O Povo, que contêm registros diários sobre o regime e contextualizam o mundo do trabalho no estado, além de demonstrar que a mesma sociedade que combatia os militares também apoiava a "revolução". No processo de análise das fontes, o estudo depara-se com intervenções no sindicato, a greve de 68, demissão por estar foragido sendo intimado no ambiente de trabalho, aprovação na convenção coletiva de readmissão de trabalhadora perseguida em razão dos posicionamentos políticos, não remuneração em virtude de prisão por suspeita de envolvimento com oposicionistas, impedimento de ascensão funcional. Tais registros demonstram o quanto o trabalho se insere no debate sobre o regime, relacionando-o a uma temporalidade específica, ao tempo da produção.