Neste trabalho, propomos discutir as relações de travestis do Norte do Ceará no processo de construção identitária, seus usos das tecnologias de gênero (discursivas, visuais e/ou bioquímicas) e os seus impactos no sistema sexo-gênero a partir dos anos 2000. Assim, parto de uma análise de fontes orais ancorada no pensamento travesti e no transfeminismo, que propõe confundir a cisnormatividade e suas tecnologias. Segundo Preciado (2018), a era farmarco-pornográfica indica um novo controle das subjetividades, ou seja, o de que os mecanismos de repressão física se alinham às tecnologias visuais e bioquímicas. Desse modo, segundo tal leitura, a Segunda Guerra Mundial fez emergir uma economia e governo do corpo ancorada na indústria farmaco-pornográfica, na qual as vivências e experiências no mundo estariam reguladas por tais tecnologias visuais e bioquímicas. Nesse sentido, a proposta desta pesquisa é investigar o uso das tecnologias de gênero entre travestis desde os anos 2000 em cidades do Norte do Ceará. O que significa construir autonomias sobre o corpo e subversões de identidade de gênero quando consideramos o contexto social, cultural e econômico de uma região do interior? Como a construção de si dessas sujeitas podem ser compreendidas à luz de suas trajetórias de vida? Suas práticas e relações com o corpo nessa era de controle subjetivo teriam sido capazes de subverter tais relações biopolíticas e apontar um lugar de confusão e desestabilização do sexo-gênero e da cisnormatividade? Para isso, dialogaremos teórica e metodologicamente com autores/as dos estudos de gênero e da História Oral. Ressalto também que tais perguntas serão analisadas à luz do transfeminismo e do pensamento travesti, uma vez que há autonomia de reflexão e subversão nesses corpos capazes de apontar uma alternativa sistêmica e questionar o que foi naturalizado como "ahistórico" e "realidade da natureza".