O ESPORTE E A EXCLUSÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: A ATUAÇÃO DOCENTE EM UMA ESCOLA EM ITATIRA-CE.
Francisca Samara Marcolino (1)
Lia de Almeida Rocco (1)
Patrícia Ribeiro Feitosa Lima (2)
(1) Mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará.
(2) Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará.
A compreensão do esporte enquanto fator importante na educação humana estende-se desde os tempos mais remotos, na idade antiga já se tinha essa reputação, embora havendo ao longo da história transformações na conceituação de esporte, a relação entre essa prática e educação continua a existir (KORSAKAS; ROSE JÚNIOR, 2002). Na atualidade o esporte assume uma papel significativo por sua inserção no cotidiano social e na escola, o que outrora fora introduzido numa perspectiva tecnicista e de rendimento na educação, tem-se elaborado nos últimos anos inovações teóricas desvelando seu valor educacional o caracterizando como um dos conteúdos a ser tratado pela Educação Física contribuindo no processo de formação dos sujeitos (SANTOS; OLIVEIRA, 2015). Desse modo, é atribuído como proposta de transformação, a ressignificação pedagógica do esporte na tentativa de superar as práticas ainda vigentes pautadas em abordagens tecnicistas para uma possibilidade de aprendizagem conceitual, procedimental e atitudinal forjando o esporte da escola como meio de construção de conhecimento (PIRES; ABREU; FRANCA, 2016). No âmbito escolar, o esporte é categorizado como educacional, por interferir na formação de valores humanos embora se considere não determinante pois são diversos os fatores que influenciam a construção do caráter e da personalidade dos seres humanos (ROSSETO JÚNIOR; CIRIACO, 2007). No tocante ao ensino médio, de acordo com os Parâmetros Curriculares da Educação Física, nessa etapa da formação básica, a disciplina tem como função promover a proximidade do aluno com o componente curricular contribuindo no aprofundamento dos conhecimentos de maneira lúdica e educativa, ainda segundo esse documento, nessa etapa escolar é notado um descompromisso dos alunos com as aulas de Educação Física, tendo em vista, as exigências técnicas que consideram incapazes de obterem, com destaque para o esporte em especial (BRASIL, 2000). Na prática pedagógica de Educação Física na educação básica é identificado um conjunto de dificuldades relacionadas à participação dos alunos, entre as quais estão incluídas vivências relacionadas ao esporte, Andrade e Devide (2009) numa pesquisa desenvolvida, é evidenciado que entre as dificuldades encontradas pelos professores na condução das aulas estariam a desmotivação devido os esportes coletivos serem tratados constantemente, assim, acabavam não despertando o interesse dos alunos, além dos mesmos não apresentarem as habilidades necessárias para as exigências da prática e consequente exclusão dos menos hábeis. Isto posto conduz a reflexão de que o esporte em sua relevância social dispensa a possibilidade de não ser abordado na escola, o que se faz necessário é o procedimento didático a precisa ser repensado em razão da participação efetiva dos alunos (ALBUQUERQUE, et al 2009). Desse modo, o presente estudo tem por objetivo investigar a exclusão dos alunos nas aulas práticas de Educação Física que abordam o esporte e as iniciativas metodológicas empreendidas pelos professores no sentido de favorecer a participação de todos durante as aulas. A pesquisa foi realizada com três professores de Educação Física que atuam no ensino médio de uma escola estadual, localizada no município de Itatira no Ceará, por meio de um questionário aplicado com duas perguntas abertas. Tal questionário é um recorte de uma atividade avaliativa proposta pela Especialização em Educação Física na Educação Básica ofertada pela UECE, na modalidade à distância pela UAB (Universidade Aberta do Brasil), na disciplina de Esportes Convencionais. Portanto, este trabalho se define como um estudo de natureza qualitativa, descritiva e explicativa, segundo Martins (2004) o método de pesquisa qualitativo se define por preferir a análise de processos que se estabelecem através das intervenções humanas sejam elas individuais ou em coletividade. Os resultados serão apresentados a partir da análise de conteúdo das respostas. Pergunta 1: Você percebe a exclusão de alunos durante as aulas de Educação Física em que há a prática de esporte? Respostas: Professor 1: Sim. Alunos que não possuem habilidades necessárias para o esporte, algumas vezes costumam ser excluídos pelos demais, ou se auto excluem por vergonha de participar. Professor 2: Sim. Professor 3: Sim. Principalmente quando não há modificações nas regras do jogo para que todos possam participar de forma igualitária. Pergunta 2: Quais são suas estratégias metodológicas de inclusão para que os participem durante da aula? Respostas: Professor 1: Procuro realizar adaptações na execução das atividades afim de que atenda a todos, sem exceção, facilitando ou dinamizando a execução da mesma. Professor 2: Proponho desportos populares, pré-desportivos, não utilizando regras oficiais e fazendo com que eles criem jogos e regras. Professor 3: Propondo aulas que todos possam participar de forma igualitária. A partir dos dados qualitativos logrados nessa investigação podemos discutir a sua representatividade e os desfechos procedentes desses achados. Inicialmente um aspecto a ser considerado no estudo é que os três professores afirmam a existência da exclusão nas aulas de Educação Física, esse fato revela que ainda é incerto garantir que as contribuições educacionais do esporte estão ao alcance de todos os alunos, considerando que esse conteúdo deve ser vivenciado pelos alunos para além do gesto técnico, numa perspectiva de autonomia e a participação ativa do sujeito, levando em conta seus conhecimentos prévios, além de incentivar a adoção de valores humanos essenciais na convivência em sociedade como respeito, cooperação e solidariedade (GONZALEZ; PEDROSO, 2012), por isso, se ressalta a importância de estudos que tenham o intento de discutir essa problemática. Ainda sobre o primeiro questionamento da pesquisa em que se indaga sobre a existência da exclusão dos alunos durante as aulas práticas que abordem o esporte, o professor 1 enfatiza que os alunos não querem participar das aulas em razão da supervalorização das habilidades técnicas e que acabam sendo excluídos pelos colegas ou se autoexcluem do processo, essa constatação corrobora com as discussões ainda suscitadas na literatura sobre a continuidade dos paradigmas tecnicistas predominantes na Educação Física e que os alunos afirmam se sentirem desmotivados nas aulas pois são exigidas habilidades técnicas que consideram não possuir e dessa forma, acabam não encontrando um espaço construtivo de aprendizagem (ANDRADE; DEVIDE, 2006), portanto, faz-se necessário a construção dos processos inclusivos na escola e especificamente na Educação Física em que os alunos sejam incentivados à adoção de posturas tolerantes em relação aos demais e a cultura da inclusão permita a participação de todos valorizando e respeitando as diferenças (TEIXEIRA, 2009), nesse contexto, o professor tem papel crucial nesse feito a partir das proposições de metodologias apresentadas aos alunos. Ainda sobre a primeira pergunta, o professor 2 responde afirmando que a exclusão dos alunos se acentua quando não há adaptação e modificação das regras do esporte, quanto a isso, a realização de modificações e adequações das regras oficiais dos esportes é mencionada como uma estratégia metodológica que contribui para a adesão dos alunos nas práticas esportivas propostas nas aulas (FRAJÁCOMO et al., 2007). Sobre a segunda pergunta direcionada aos professores em que se busca reconhecer a maneira como lidam metodologicamente para que não haja a exclusão dos alunos nas aulas com práticas esportivas, o professor 1 afirma que realiza adaptações nas atividades apresentadas no sentido de dinamizar e facilitar a participação de todos, nesse âmbito o papel docente é muito importante, pois, somente ele pode reconhecer as situações que precisam ser transformadas em vista da participação, portanto, a dinamização e facilitação da prática esportiva pode-se dar através da ludicidade fomentando atitudes de respeito, perseverança e capacidade de competir (MEDEIROS; COSTA, 2011). O professor 2 em sua resposta diz propor desportos populares, jogos pré-desportivos incentivando a criação de regras pelos próprios alunos, nessa resposta, é salientado através da intervenção do professor o incentivo para que os alunos sejam autônomos em suas ações durante as aulas, Silva e Francisco (2012) preconizam que a Educação Física por meio de suas intervenções pedagógicas contribui para o desenvolvimento de funções psicológicas dos que a vivenciam, tendo em vista, a imersão na realidade por parte do aluno fazendo com que ele a transforme, desse modo, criticidade e transformação contribuem no alcance da autonomia, além disso, o trabalho com jogos pré-desportivos é considerado um aspecto positivo, pois de acordo com o estudo de Martinelli et al (2006) a falta de jogos que prepare e treine os alunos para a prática esportiva em si, é nomeada como uma das causas pelas quais existe a não-participação nas aulas. O professor 3 ao ser questionado sobre a metodologia para que os alunos não sejam excluídos, respondeu que busca propor práticas igualitárias, isso mostra a preocupação do professor em contribuir para que todos os alunos participem das aulas, isso se deve ao fato de que a Educação Física em sua prática pedagógica ainda encontra o empecilho de superar preconceitos e estereótipos que atingem os aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais dos alunos (OLIVEIRA; BARCELOS, 2011). Diante das informações encontradas na realização desse estudo com três professores de Educação Física no ensino médio de uma escola da rede estadual de Itatira no Ceará, podemos considerar que no contexto que atuam existe a exclusão dos alunos das aulas, especificamente quando estas são propostas relativas à práticas do esporte. No entanto, de acordo com os docentes pesquisados, são realizadas intervenções metodológicas para que todos os alunos participem através de modificação e adaptação nas regras dos esportes e vivências lúdicas. Essas considerações corroboram com as ponderações presentes nos referenciais teóricos que fundamentam este trabalho, tendo em vista, que o esporte é legítimo em seu valor educacional, não obstante, é indispensável que a condução pedagógica visualize a necessidade de superar os valores defendidos no contexto do rendimento esportivo e promova na escola por intermédio de sua prática a inclusão de todos os cidadãos, de forma a valorizar a individualidade e a promover o respeito, a tolerância e a atuação crítica em sociedade.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Igor Valença, et al. Dificuldades encontradas na Educação Física Escolar que influenciam na não-participação dos alunos: reflexões e sugestões. . EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 14, Nº 136, Septiembre de 2009. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd136/dificuldades-encontradas-na-educacao-fisica-escolar.htm . Acesso em: 21 de outubro de 2017
ANDRADE, Elisângela Borges; DEVIDE, Fabiano Pries. Auto-exclusão nas aulas mistas de Educação Física Escolar: representações de alunas do ensino médio sob enfoque de gênero. Fiep Bulletin. Volume 76- Special Edition- Article I- 2006.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio: Bases legais, 2000.
FRAJÁCOMO, M. et al. Adaptações de modalidades esportivas" propostas de atividades para a Educação Física no ensino fundamental. Revista Uniara, n.20, 2007.
GONZALEZ, Natália Muniz; PEDROSO Carlos Augusto. Esporte como conteúdo da Educação Física: a ação pedagógica do professor. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 15, Nº 166, Março de 2012. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd166/esporte-como-conteudo-da-educacao-fisica.htm. Acesso em: 21 de outubro de 2017
KORSAKAS, Paula; ROSE JUNIOR, Dante. Os encontros e desencontros entre esporte e educação: uma discussão filosófico-pedagógica. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte - 2002, 1(1):83-93
MARTINELLI, Camila Rodrigues, et al. Educação Física no ensino médio: motivos que levam as alunas a não gostarem de participar das aulas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte - 2006, 5(2):13-19
MARTINS, Heloisa Helena T. de Souza. Metodologia qualitativa de pesquisa. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.2, p. 289-300, maio/ago. 2004.
MEDEIROS, Jeane dos Santos; COSTA, Martha Benevides da. Dimensão lúdica do esporte escolar nas aulas de Educação Física na cidade de Alagoinhas - BA. Anais do XVII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e IV Congresso Internacional de Ciências do Esporte Porto Alegre/ 11 a 16 de setembro de 2011.
OLIVEIRA, Suéllen Cristina Vaz de; BARCELOS, Sérgio Cardoso. Educação Física e gênero: práticas docentes e suas implicações nas escolas de Araxá, MG. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 16, Nº 161, Octubre de 2011. Disponível: http://www.efdeportes.com/efd161/educacao-fisica-e-genero-praticas-docentes.htm Acesso em: 21 de outubro de 2017.
PIRES, Flávio Pereira; ABREU, José Roberto Gonçalves de; FRANCA, Romário Guimarães. Educação Física e esporte: o esporte na escola e da escola nas aulas de Educação Física. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 21, Nº 219, Agosto de 2016. Disponível: http://www.efdeportes.com/efd219/o-esporte-na-escola-e-da-escola.htm Acesso em: 21 de outubro de 2017.
SANTOS, Janaína; OLIVEIRA, Everton Luiz. As contribuições do esporte para a Educação Física escolar. Revista Educação Física UNIFAFIBE, Ano IV - n. 3 - dezembro/2015.
SILVA, Sabrina de Melo Correia da; FRANCISCO, Marcos Vinicius. Educação Física escolar e autonomia: reflexões sobre as contribuiçoes da teoria histórico-cultural. Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 9, n. 2, p. 66-72, jul/dez 2012. DOI: 10.5747/ch.2012.v09.n2.h126
TEIXEIRA, Fabiano Augusto. Educação Física escolar: reflexões sobre as aulas de exclusão. Motrivivência Ano XXI, Nº 32/33, P. 335-343 Jun-Dez./2009.
O ESPORTE E A EXCLUSÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: A ATUAÇÃO DOCENTE EM UMA ESCOLA EM ITATIRA-CE.
Francisca Samara Marcolino (1)
Lia de Almeida Rocco (1)
Patrícia Ribeiro Feitosa Lima (2)
(1) Mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará.
(2) Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará.
A compreensão do esporte enquanto fator importante na educação humana estende-se desde os tempos mais remotos, na idade antiga já se tinha essa reputação, embora havendo ao longo da história transformações na conceituação de esporte, a relação entre essa prática e educação continua a existir (KORSAKAS; ROSE JÚNIOR, 2002). Na atualidade o esporte assume uma papel significativo por sua inserção no cotidiano social e na escola, o que outrora fora introduzido numa perspectiva tecnicista e de rendimento na educação, tem-se elaborado nos últimos anos inovações teóricas desvelando seu valor educacional o caracterizando como um dos conteúdos a ser tratado pela Educação Física contribuindo no processo de formação dos sujeitos (SANTOS; OLIVEIRA, 2015). Desse modo, é atribuído como proposta de transformação, a ressignificação pedagógica do esporte na tentativa de superar as práticas ainda vigentes pautadas em abordagens tecnicistas para uma possibilidade de aprendizagem conceitual, procedimental e atitudinal forjando o esporte da escola como meio de construção de conhecimento (PIRES; ABREU; FRANCA, 2016). No âmbito escolar, o esporte é categorizado como educacional, por interferir na formação de valores humanos embora se considere não determinante pois são diversos os fatores que influenciam a construção do caráter e da personalidade dos seres humanos (ROSSETO JÚNIOR; CIRIACO, 2007). No tocante ao ensino médio, de acordo com os Parâmetros Curriculares da Educação Física, nessa etapa da formação básica, a disciplina tem como função promover a proximidade do aluno com o componente curricular contribuindo no aprofundamento dos conhecimentos de maneira lúdica e educativa, ainda segundo esse documento, nessa etapa escolar é notado um descompromisso dos alunos com as aulas de Educação Física, tendo em vista, as exigências técnicas que consideram incapazes de obterem, com destaque para o esporte em especial (BRASIL, 2000). Na prática pedagógica de Educação Física na educação básica é identificado um conjunto de dificuldades relacionadas à participação dos alunos, entre as quais estão incluídas vivências relacionadas ao esporte, Andrade e Devide (2009) numa pesquisa desenvolvida, é evidenciado que entre as dificuldades encontradas pelos professores na condução das aulas estariam a desmotivação devido os esportes coletivos serem tratados constantemente, assim, acabavam não despertando o interesse dos alunos, além dos mesmos não apresentarem as habilidades necessárias para as exigências da prática e consequente exclusão dos menos hábeis. Isto posto conduz a reflexão de que o esporte em sua relevância social dispensa a possibilidade de não ser abordado na escola, o que se faz necessário é o procedimento didático a precisa ser repensado em razão da participação efetiva dos alunos (ALBUQUERQUE, et al 2009). Desse modo, o presente estudo tem por objetivo investigar a exclusão dos alunos nas aulas práticas de Educação Física que abordam o esporte e as iniciativas metodológicas empreendidas pelos professores no sentido de favorecer a participação de todos durante as aulas. A pesquisa foi realizada com três professores de Educação Física que atuam no ensino médio de uma escola estadual, localizada no município de Itatira no Ceará, por meio de um questionário aplicado com duas perguntas abertas. Tal questionário é um recorte de uma atividade avaliativa proposta pela Especialização em Educação Física na Educação Básica ofertada pela UECE, na modalidade à distância pela UAB (Universidade Aberta do Brasil), na disciplina de Esportes Convencionais. Portanto, este trabalho se define como um estudo de natureza qualitativa, descritiva e explicativa, segundo Martins (2004) o método de pesquisa qualitativo se define por preferir a análise de processos que se estabelecem através das intervenções humanas sejam elas individuais ou em coletividade. Os resultados serão apresentados a partir da análise de conteúdo das respostas. Pergunta 1: Você percebe a exclusão de alunos durante as aulas de Educação Física em que há a prática de esporte? Respostas: Professor 1: Sim. Alunos que não possuem habilidades necessárias para o esporte, algumas vezes costumam ser excluídos pelos demais, ou se auto excluem por vergonha de participar. Professor 2: Sim. Professor 3: Sim. Principalmente quando não há modificações nas regras do jogo para que todos possam participar de forma igualitária. Pergunta 2: Quais são suas estratégias metodológicas de inclusão para que os participem durante da aula? Respostas: Professor 1: Procuro realizar adaptações na execução das atividades afim de que atenda a todos, sem exceção, facilitando ou dinamizando a execução da mesma. Professor 2: Proponho desportos populares, pré-desportivos, não utilizando regras oficiais e fazendo com que eles criem jogos e regras. Professor 3: Propondo aulas que todos possam participar de forma igualitária. A partir dos dados qualitativos logrados nessa investigação podemos discutir a sua representatividade e os desfechos procedentes desses achados. Inicialmente um aspecto a ser considerado no estudo é que os três professores afirmam a existência da exclusão nas aulas de Educação Física, esse fato revela que ainda é incerto garantir que as contribuições educacionais do esporte estão ao alcance de todos os alunos, considerando que esse conteúdo deve ser vivenciado pelos alunos para além do gesto técnico, numa perspectiva de autonomia e a participação ativa do sujeito, levando em conta seus conhecimentos prévios, além de incentivar a adoção de valores humanos essenciais na convivência em sociedade como respeito, cooperação e solidariedade (GONZALEZ; PEDROSO, 2012), por isso, se ressalta a importância de estudos que tenham o intento de discutir essa problemática. Ainda sobre o primeiro questionamento da pesquisa em que se indaga sobre a existência da exclusão dos alunos durante as aulas práticas que abordem o esporte, o professor 1 enfatiza que os alunos não querem participar das aulas em razão da supervalorização das habilidades técnicas e que acabam sendo excluídos pelos colegas ou se autoexcluem do processo, essa constatação corrobora com as discussões ainda suscitadas na literatura sobre a continuidade dos paradigmas tecnicistas predominantes na Educação Física e que os alunos afirmam se sentirem desmotivados nas aulas pois são exigidas habilidades técnicas que consideram não possuir e dessa forma, acabam não encontrando um espaço construtivo de aprendizagem (ANDRADE; DEVIDE, 2006), portanto, faz-se necessário a construção dos processos inclusivos na escola e especificamente na Educação Física em que os alunos sejam incentivados à adoção de posturas tolerantes em relação aos demais e a cultura da inclusão permita a participação de todos valorizando e respeitando as diferenças (TEIXEIRA, 2009), nesse contexto, o professor tem papel crucial nesse feito a partir das proposições de metodologias apresentadas aos alunos. Ainda sobre a primeira pergunta, o professor 2 responde afirmando que a exclusão dos alunos se acentua quando não há adaptação e modificação das regras do esporte, quanto a isso, a realização de modificações e adequações das regras oficiais dos esportes é mencionada como uma estratégia metodológica que contribui para a adesão dos alunos nas práticas esportivas propostas nas aulas (FRAJÁCOMO et al., 2007). Sobre a segunda pergunta direcionada aos professores em que se busca reconhecer a maneira como lidam metodologicamente para que não haja a exclusão dos alunos nas aulas com práticas esportivas, o professor 1 afirma que realiza adaptações nas atividades apresentadas no sentido de dinamizar e facilitar a participação de todos, nesse âmbito o papel docente é muito importante, pois, somente ele pode reconhecer as situações que precisam ser transformadas em vista da participação, portanto, a dinamização e facilitação da prática esportiva pode-se dar através da ludicidade fomentando atitudes de respeito, perseverança e capacidade de competir (MEDEIROS; COSTA, 2011). O professor 2 em sua resposta diz propor desportos populares, jogos pré-desportivos incentivando a criação de regras pelos próprios alunos, nessa resposta, é salientado através da intervenção do professor o incentivo para que os alunos sejam autônomos em suas ações durante as aulas, Silva e Francisco (2012) preconizam que a Educação Física por meio de suas intervenções pedagógicas contribui para o desenvolvimento de funções psicológicas dos que a vivenciam, tendo em vista, a imersão na realidade por parte do aluno fazendo com que ele a transforme, desse modo, criticidade e transformação contribuem no alcance da autonomia, além disso, o trabalho com jogos pré-desportivos é considerado um aspecto positivo, pois de acordo com o estudo de Martinelli et al (2006) a falta de jogos que prepare e treine os alunos para a prática esportiva em si, é nomeada como uma das causas pelas quais existe a não-participação nas aulas. O professor 3 ao ser questionado sobre a metodologia para que os alunos não sejam excluídos, respondeu que busca propor práticas igualitárias, isso mostra a preocupação do professor em contribuir para que todos os alunos participem das aulas, isso se deve ao fato de que a Educação Física em sua prática pedagógica ainda encontra o empecilho de superar preconceitos e estereótipos que atingem os aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais dos alunos (OLIVEIRA; BARCELOS, 2011). Diante das informações encontradas na realização desse estudo com três professores de Educação Física no ensino médio de uma escola da rede estadual de Itatira no Ceará, podemos considerar que no contexto que atuam existe a exclusão dos alunos das aulas, especificamente quando estas são propostas relativas à práticas do esporte. No entanto, de acordo com os docentes pesquisados, são realizadas intervenções metodológicas para que todos os alunos participem através de modificação e adaptação nas regras dos esportes e vivências lúdicas. Essas considerações corroboram com as ponderações presentes nos referenciais teóricos que fundamentam este trabalho, tendo em vista, que o esporte é legítimo em seu valor educacional, não obstante, é indispensável que a condução pedagógica visualize a necessidade de superar os valores defendidos no contexto do rendimento esportivo e promova na escola por intermédio de sua prática a inclusão de todos os cidadãos, de forma a valorizar a individualidade e a promover o respeito, a tolerância e a atuação crítica em sociedade.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Igor Valença, et al. Dificuldades encontradas na Educação Física Escolar que influenciam na não-participação dos alunos: reflexões e sugestões. . EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 14, Nº 136, Septiembre de 2009. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd136/dificuldades-encontradas-na-educacao-fisica-escolar.htm . Acesso em: 21 de outubro de 2017
ANDRADE, Elisângela Borges; DEVIDE, Fabiano Pries. Auto-exclusão nas aulas mistas de Educação Física Escolar: representações de alunas do ensino médio sob enfoque de gênero. Fiep Bulletin. Volume 76- Special Edition- Article I- 2006.
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KORSAKAS, Paula; ROSE JUNIOR, Dante. Os encontros e desencontros entre esporte e educação: uma discussão filosófico-pedagógica. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte - 2002, 1(1):83-93
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MEDEIROS, Jeane dos Santos; COSTA, Martha Benevides da. Dimensão lúdica do esporte escolar nas aulas de Educação Física na cidade de Alagoinhas - BA. Anais do XVII Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e IV Congresso Internacional de Ciências do Esporte Porto Alegre/ 11 a 16 de setembro de 2011.
OLIVEIRA, Suéllen Cristina Vaz de; BARCELOS, Sérgio Cardoso. Educação Física e gênero: práticas docentes e suas implicações nas escolas de Araxá, MG. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 16, Nº 161, Octubre de 2011. Disponível: http://www.efdeportes.com/efd161/educacao-fisica-e-genero-praticas-docentes.htm Acesso em: 21 de outubro de 2017.
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TEIXEIRA, Fabiano Augusto. Educação Física escolar: reflexões sobre as aulas de exclusão. Motrivivência Ano XXI, Nº 32/33, P. 335-343 Jun-Dez./2009.