A educaçã
A RELIGIÃO COMO INIBIDOR DA CULTURA CORPORAL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: UM RELATO DE CASO
Nivaldo da Rocha Baia Junior[1]
Francisco Adalberto Silva de Sousa[2]
RESUMO EXPANDIDO
INTRODUÇÃO
A educação física enquanto disciplina escolar que tem por objetivo a transmissão dos elementos componentes da cultura corporal de movimento, sejam eles, os jogos, esportes, danças, ginástica, capoeira (COLETIVO DE AUTORES, 1992), possui na sua prática docente cotidiana desafios que colidem seus interesses com as práticas educativas. A escola enquanto espaço democrático é consubstanciada por diferentes singularidades nas quais encontram-se em si as extensões e reproduções de forças ideológicas, políticas, doutrinárias e religiosas. Essas diversas correntes que constituem o ser também lhe dão significados, ou seja, a ideologia é transcrita em práxis cotidiana.
As forças institucionais e abstratas são concebidas, na visão de Lukács (2013), como complexos sociais. Em outras palavra, religião, leis, política, educação, esportes, etc, são categorias fundadas pelo ser social e não categorias que dão origem a este ser - apesar que suas presenças exerce demasiada influência sobre a subjetividade dos indivíduos. Dito isto, iremos nos ater ao complexo da religião como elemento integrante da pesquisa que segue.
Nossa análise parte de autores filósofos de corrente materialista, dentre eles podemos destarcar, Feuerbach, Nietzsche e Marx, como os maiores expoentes da religião como forma de alienação humana. Esses autores alemães nos auxiliam na compreensão científica deste complexo social e universal.
Partindo das análises dos pensadores acima, nos deparamos com sínteses dos seus pensamentos a respeito do complexo em questão (o modelo do trabalho não permite maiores explanações). Iniciando por Feuerbach (2013), o homem não é feito a imagem e semelhança de Deus, mas Deus é feito a imagem e semelhança do homem, ou seja, o homem projeta suas emoções e sentidos a um ser abstrato morador dos céus. Em Marx (2013), a definição anterior é bastante contundente porém apresenta fragilidades, assim colocando a sociedade de classes como motor da história, ele compreende a religião como "ópio do povo". Por último, Nietzsche (2011) um feroz crítico da religião, questiona que a religião é essencialmente uma doutrina de hierarquia, uma tentativa para recriar uma ordem cósmica de posições e poderes.
Decorre dos fatos expostos até aqui, que a EF escolar e a religião se entrecruzam dentro de uma complexo social chamado Educação. Apesar deste complexo no Brasil ter sido utilizado pela vertente religioso jesuítica como modo de propagação cristã por mais de dois séculos (SAVIANI), este movimento perdeu significativa influência no âmbito escolar - mas jamais sendo extinta. O entrecruzamento apontado aqui se direciona ao fato da imensa parcela de alunos possuírem forte ligação com as congregações pentecostais. Em um país onde a religião evangélica veem crescendo constantemente essa dimensão de alunos não é inesperada.
As inquietações que emergem desta relação se apresentam no cotidiano da práxis docente em educação física, assim nos indagamos: como a religião pode afetar a formação dos discentes? A religião pode afetar a participação nas aulas de educação física? Como a educação física deve responder a essas situações? Este trabalho se origina a partir da prática docente como professor de educação física em uma escola de ensino profissional e tecnológico no interior do Ceará, se justifica o prosseguimento da investigação pela possiblidade de superação de barreiras que impeçam o progresso da educação, da formação dos professores e do desenvolvimento discente.
OBJETIVOS
O trabalho tem como objetivo geral compreender como a religião afeta a participação dos alunos nas aula de educação física. Segue que os específicos se definem por entender os principais motivos que levam a desistência de determinadas atividades nas aulas de educação física; de que forma essa renúncia pode atingir o desenvolvimento do aluno; quais estratégias devem ser elaboradas para não prejudicar a formação dos discentes.
METODOLOGIA
A pesquisa se caracteriza como relato de caso, que para GIL (2007) é o envolvimento com um estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento. Os fatos aqui relatados são explanações do sujeito que vos escreve, sendo passível de outras interpretações alheias, mas sendo a representação mais fiel que possamos ter do real neste momento. As atividades expostas são decorrentes das aulas de educação física ministradas para três turmas de ensino médio-integrado que somam o total de 67 alunos entre gênero masculino e feminino. As aulas ocorreram durante todo o semestre de 2019.2. Os conteúdos das aulas obedeceram o Plano de Unidade Didática (PUD) que integra a instituição.
A confirmação da postura negativa sobre determinados conteúdos que foram derivadas por motivos religiosos foram confirmadas em diálogo pessoal com os referidos alunos. Outros motivos que possam ter levado alunos a não terem participado das aulas que não seja por orientação doutrinária religiosa não será relatado aqui. Como forma de prezar pelo o anonimato dos envolvidos, os mesmo serão descritos pelas primeiras letras do seu nome em caixa alta e a idade representada em números naturais e seguido do símbolo (-) quando se tratar de gênero masculino e (+) quando se tratar de gênero feminino. Os cursos pertencentes serão identificados por MEC quando se tratar de Mecânica, INF quando Informática e ELET quando for Eletrotécnica.
Como forma de manter uma coerência estruturada os fatos serão expostos pelo conteúdo ministrado, e dentro deste a ordem cronológica. Os fatos narrados podem possuir registros multimídia que ficarão restritos a uma futura apresentação em power point. A composição dos resultados ficará restrita aos fatos mais interessados desta pesquisa, se abstendo de ampliações sobre os conceitos dos conteúdos por mera composição metodológica limitada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Avaliação física: Aula.01 - Após a entrega das fichas de anamnese e a explicação do seu conteúdo e a aplicação dos testes, optou-se inicialmente pela aferição de FC, medição de peso e altura e cálculo de IMC, onde todos participaram. Por seguinte fora proposto o início da avaliação antropométrica, na qual é desejado que as vestimentas sejam leves e não cubram partes importantes do corpo para medição, decorre que participantes B+17; J+18, Bi+17 (MEC), L+19; S+17; M+17; Mi+18; Lo+17 (INF) e E+18; V+17; G-18 (ELET) se posicionaram contra a participação na referida atividade, ao serem questionados por qual motivo, se obteve que a orientação religiosa não permitia o uso de trajes curtos e a exposição de partes "íntima" do corpo. Aula.02: Iniciou-se a aula com as definições conceituais históricas do que é considerado "normal". Posterior a introdução da temática os alunos foram informados como seria feita a avaliação postural, que consiste em registro fotográfico com uso de aparelho de simetrógrafo. Por mais uma vez fora solicitado o uso de trajes apropriados que permitissem a visualização das articulações para detectar possíveis desvios posturais. Os mesmos alunos B+17; J+18; Bi+17 (MEC), L+19; S+17; M+17; Mi+18; Lo+17 (INF) e E+18; V+17; G-18 (ELET) novamente se recusaram participar com base nas mesmas posturas dogmáticas anteriores. Aula.03: Dando prosseguimento as avaliações propostas, as atividades a serem desenvolvidas foram contextualizadas e sua importância comparada aquelas exigidas em concurso público. Os testes foram compostos por Teste de Cooper e Teste de Barra Fixa. Neste momento não houve restrições por parte dos discentes por motivos que seguiam anteriormente.
Lutas: aula.01: Após contextualização histórica das lutas na evolução humana, desde modo de sobrevivência a espetáculo-mercadoria, os alunos foram levados para área reservada com tatame. Distribuídos primeiramente em duplas, foram exemplificados exercícios que envolvem desequilíbrio, força, agilidade e contato físico com outrem. Nesse momentos os trajes específicos não possuíam grande relevância quanto no conteúdo anterior. Novamente houve repulsa quanto ao conteúdo por parte dos discentes, deste vez pelos L+18; M+17; Mi+18; Lo+17 (INF). Com um número reduzido pelo motivo religioso, porém não menos importante, os motivos que seguiram pela rejeição a aula foram que o contato físico da forma que estava sendo posto causava constrangimento físico que não é bem aceito pela igreja que frequentava e concomitantemente pelo medo de castigo dos familiares caso soubessem. Ainda mais que tocar o corpo de outros, mesmo que colegas, deve ser evitado, para não cometer pecados. Aula.02: Fora abordado a questão da violência doméstica e contra mulheres em números reais. A luta como elemento de lazer mas também de defesa da integridade física. Novamente na área do tatame, foram explicados e exemplificados golpes de defesa pessoal com base em técnicas de Jiu-Jtsu. Foram solicitados a composição de duplas e que aleatoriamente realizassem trocas com outros colegas. A participação foi unânime, porém quando os golpes começaram a ser feitos com imobilizações em solo, houve imediata repulsa por parte dos discentes B+17; J+18; Bi+17 (MEC), L+19; S+17; M+17; Mi+18; Lo+17 (INF) e E+18; V+17; G-18 (ELET). A justificativa dada é que os movimentos eram "imorais", que a realização destes os levaria ao inferno e que a exposição em dadas posições não condiz com a postura religiosa que leva na vida. Aula.03: Sentados em círculos na quadra esportiva, os alunos ouviam atentamente a história da capoeira no Brasil. Durante a exposição surgiu feições de reprovação da fala que seguia, isto deve ao fato explicado da origem da palavra macumba e a relação entre capoeira e candomblé. Em seguida ao início dos primeiros movimentos básicos da capoeira, fora posto em caixa de som as músicas que compõe a musicalidade da capoeira. De imediato os alunos B+17; J+18; Bi+17 (MEC), L+19; S+17; M+17; Mi+18; Lo+17 (INF) e E+18; V+17; G-18 (ELET) se retiraram prontamente da quadra. Quando abordados sobre o motivo da saída da aula, as justificativas se baseiam que a capoeira pertence ao inimigo, que as músicas são invocações do demônio, que se o pastor soubesse desta prática na escola poderia puni-los. Aula.03: Em sala de aula fora exposto o filme Besouro (2009), que narra a história do capoeirista Besouro. Em dado momento do filme quando do surgimento dos Orixás, as alunas L+19; S+17 (INF) optaram por se deslocar para o final da sala com os fones de ouvido. Sabendo do histórico das alunas a atitude não foi punida. Posteriormente em conversa com ambas, a posição de que não compactuam com formas de artes desta natureza que ilustram figuras "satânicas".
Primeiros socorros: Aula.01: Teorização e exemplificação de primeiros socorros, dentre eles, desmaios, parada cardíaca, engasgos, queimaduras. Abordagem anatômica e fisiológica Aula.02: Luxação, fratura, hemorragia, AVC. Todos alunos participaram das atividades, sem objeções.
Dança: Aula.01: Exposição histórica da dança e suas diversas manifestações e significados em culturas distintas. Atendendo a pedidos anteriormente solicitados, fomos dirigidos para sala ampla que permitisse a prática de dança de modo confortável e reservado. Optou-se pela dinâmica de dança mimética através da mídia YouTube que contém vídeos de Just Dance. A escolha dos vídeos ficou a critério dos discentes, que se revezavam para a troca da música. Os estilos musicais variaram entre funk, pop, hip-hop e axé. Os discentes B+17; J+18; Bi+17 (MEC), L+19; S+17; M+17; Mi+18; Lo+17 (INF) e E+18; V+17; G-18 (ELET) não participaram de nenhuma coreografia selecionada, por vezes se retirando do local. Somente L+19, S+17 (INF) aguardaram a vez de escolha e selecionaram um música em língua alemã, onde a letra da música possuía características simples e uma coreografia que simulava gestos de corrida, natação, aviação, palmas e saltos. Aos demais se posicionaram que jamais dançariam em público um tipo de música tão absurdas quanto essas, era um afronta sobre aquilo que sua fé acreditava e que só dançava músicas da igreja para louvar a Deus.
Aula.02 e 03: ainda irá ocorrer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As consideração expostas até aqui revelam que a religião possui grande influência nas vidas dos discentes e consequentemente na suas posturas, atitudes e limitações. Vem sendo observado que os discentes vinculados a congregações protestantes são os mais limitados dentro da cultura corporal nas aulas de educação física. Os resultados corroboram com pesquisa feitas por Daólio (2014) e Rigoni (2013). Apesar de existir outras determinações que possa impedir a participação nas aulas, este elemento religioso mostra-se rigoroso e opressor, não permitindo que os alunos possuam uma educação omnilateral, comprometida com a formação total do aluno, em suas dimensões, estéticas, emocionais, espirituais e sociais. A educação física escolar encontra-se diante de um grande desafio que põe sua capacidade de obrigatoriedade em situação delicada, onde não possa perder sua autonomia e não ferir as individualidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da educação da física. Ed. Cortez. São Paulo. 1992.
DAÓLIO, J. A. Corpos na escola: reflexões sobre educação física e religião. Movimento. Porto Alegre. 2014.
FEUERBACH, L. A essência do cristianismo. Editora Vozes; Edição: 4ª. 2013.
GIL, A, C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5 ed. São Paulo. Atlas. 2007.
LUKÁCS, G. Ontologia do Ser Social II. São Paulo. 2013.
NIETZSCHE, F. Vontade de poder. Editora Vozes. 2011.
RIGONI, A. PRODÓCIMO, E. Corpo e religião: Marcas da educação evangélica no corpo. Rev. Bras. Ciênc. Esporte. Florianópolis. 2013
SAVIANI, Demerval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Autores Associados. 2014.
[1] Professor de educação física substituto do Instituto Federal do Ceará - IFCE
[2] Professor de educação física do Município de Russas - Ceará
o física enquanto disciplina escolar que tem por objetivo a transmissão dos elementos componentes da cultura corporal de movimento, sejam eles, os jogos, esportes, danças, ginástica, capoeira (COLETIVO DE AUTORES, 1992), possui na sua prática docente cotidiana desafios que colidem seus interesses com as práticas educativas. A escola enquanto espaço democrático é consubstanciada por diferentes singularidades nas quais encontram-se em si as extensões e reproduções de forças ideológicas, políticas, doutrinárias e religiosas. Essas diversas correntes que constituem o ser também lhe dão significados, ou seja, a ideologia é transcrita em práxis cotidiana.
As forças institucionais e abstratas são concebidas, na visão de Lukács (2013), como complexos sociais. Em outras palavra, religião, leis, política, educação, esportes, etc, são categorias fundadas pelo ser social e não categorias que dão origem a este ser - apesar que suas presenças exerce demasiada influência sobre a subjetividade dos indivíduos. Dito isto, iremos nos ater ao complexo da religião como elemento integrante da pesquisa que segue.
Nossa análise parte de autores filósofos de corrente materialista, dentre eles podemos destarcar, Feuerbach, Nietzsche e Marx, como os maiores expoentes da religião como forma de alienação humana. Esses autores alemães nos auxiliam na compreensão científica deste complexo social e universal.
Partindo das análises dos pensadores acima, nos deparamos com sínteses dos seus pensamentos a respeito do complexo em questão (o modelo do trabalho não permite maiores explanações). Iniciando por Feuerbach (2013), o homem não é feito a imagem e semelhança de Deus, mas Deus é feito a imagem e semelhança do homem, ou seja, o homem projeta suas emoções e sentidos a um ser abstrato morador dos céus. Em Marx (2013), a definição anterior é bastante contundente porém apresenta fragilidades, assim colocando a sociedade de classes como motor da história, ele compreende a religião como "ópio do povo". Por último, Nietzsche (2011) um feroz crítico da religião, questiona que a religião é essencialmente uma doutrina de hierarquia, uma tentativa para recriar uma ordem cósmica de posições e poderes.
Decorre dos fatos expostos até aqui, que a EF escolar e a religião se entrecruzam dentro de uma complexo social chamado Educação. Apesar deste complexo no Brasil ter sido utilizado pela vertente religioso jesuítica como modo de propagação cristã por mais de dois séculos (SAVIANI), este movimento perdeu significativa influência no âmbito escolar - mas jamais sendo extinta. O entrecruzamento apontado aqui se direciona ao fato da imensa parcela de alunos possuírem forte ligação com as congregações pentecostais. Em um país onde a religião evangélica veem crescendo constantemente essa dimensão de alunos não é inesperada.
As inquietações que emergem desta relação se apresentam no cotidiano da práxis docente em educação física, assim nos indagamos: como a religião pode afetar a formação dos discentes? A religião pode afetar a participação nas aulas de educação física? Como a educação física deve responder a essas situações? Este trabalho se origina a partir da prática docente como professor de educação física em uma escola de ensino profissional e tecnológico no interior do Ceará, se justifica o prosseguimento da investigação pela possiblidade de superação de barreiras que impeçam o progresso da educação, da formação dos professores e do desenvolvimento discente.
OBJETIVOS
O trabalho tem como objetivo geral compreender como a religião afeta a participação dos alunos nas aula de educação física. Segue que os específicos se definem por entender os principais motivos que levam a desistência de determinadas atividades nas aulas de educação física; de que forma essa renúncia pode atingir o desenvolvimento do aluno; quais estratégias devem ser elaboradas para não prejudicar a formação dos discentes.
METODOLOGIA
A pesquisa se caracteriza como relato de caso, que para GIL (2007) é o envolvimento com um estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento. Os fatos aqui relatados são explanações do sujeito que vos escreve, sendo passível de outras interpretações alheias, mas sendo a representação mais fiel que possamos ter do real neste momento. As atividades expostas são decorrentes das aulas de educação física ministradas para três turmas de ensino médio-integrado que somam o total de 67 alunos entre gênero masculino e feminino. As aulas ocorreram durante todo o semestre de 2019.2. Os conteúdos das aulas obedeceram o Plano de Unidade Didática (PUD) que integra a instituição.
A confirmação da postura negativa sobre determinados conteúdos que foram derivadas por motivos religiosos foram confirmadas em diálogo pessoal com os referidos alunos. Outros motivos que possam ter levado alunos a não terem participado das aulas que não seja por orientação doutrinária religiosa não será relatado aqui. Como forma de prezar pelo o anonimato dos envolvidos, os mesmo serão descritos pelas primeiras letras do seu nome em caixa alta e a idade representada em números naturais e seguido do símbolo (-) quando se tratar de gênero masculino e (+) quando se tratar de gênero feminino. Os cursos pertencentes serão identificados por MEC quando se tratar de Mecânica, INF quando Informática e ELET quando for Eletrotécnica.
Como forma de manter uma coerência estruturada os fatos serão expostos pelo conteúdo ministrado, e dentro deste a ordem cronológica. Os fatos narrados podem possuir registros multimídia que ficarão restritos a uma futura apresentação em power point. A composição dos resultados ficará restrita aos fatos mais interessados desta pesquisa, se abstendo de ampliações sobre os conceitos dos conteúdos por mera composição metodológica limitada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Avaliação física: Aula.01 - Após a entrega das fichas de anamnese e a explicação do seu conteúdo e a aplicação dos testes, optou-se inicialmente pela aferição de FC, medição de peso e altura e cálculo de IMC, onde todos participaram. Por seguinte fora proposto o início da avaliação antropométrica, na qual é desejado que as vestimentas sejam leves e não cubram partes importantes do corpo para medição, decorre que participantes B+17; J+18, Bi+17 (MEC), L+19; S+17; M+17; Mi+18; Lo+17 (INF) e E+18; V+17; G-18 (ELET) se posicionaram contra a participação na referida atividade, ao serem questionados por qual motivo, se obteve que a orientação religiosa não permitia o uso de trajes curtos e a exposição de partes "íntima" do corpo. Aula.02: Iniciou-se a aula com as definições conceituais históricas do que é considerado "normal". Posterior a introdução da temática os alunos foram informados como seria feita a avaliação postural, que consiste em registro fotográfico com uso de aparelho de simetrógrafo. Por mais uma vez fora solicitado o uso de trajes apropriados que permitissem a visualização das articulações para detectar possíveis desvios posturais. Os mesmos alunos B+17; J+18; Bi+17 (MEC), L+19; S+17; M+17; Mi+18; Lo+17 (INF) e E+18; V+17; G-18 (ELET) novamente se recusaram participar com base nas mesmas posturas dogmáticas anteriores. Aula.03: Dando prosseguimento as avaliações propostas, as atividades a serem desenvolvidas foram contextualizadas e sua importância comparada aquelas exigidas em concurso público. Os testes foram compostos por Teste de Cooper e Teste de Barra Fixa. Neste momento não houve restrições por parte dos discentes por motivos que seguiam anteriormente.
Lutas: aula.01: Após contextualização histórica das lutas na evolução humana, desde modo de sobrevivência a espetáculo-mercadoria, os alunos foram levados para área reservada com tatame. Distribuídos primeiramente em duplas, foram exemplificados exercícios que envolvem desequilíbrio, força, agilidade e contato físico com outrem. Nesse momentos os trajes específicos não possuíam grande relevância quanto no conteúdo anterior. Novamente houve repulsa quanto ao conteúdo por parte dos discentes, deste vez pelos L+18; M+17; Mi+18; Lo+17 (INF). Com um número reduzido pelo motivo religioso, porém não menos importante, os motivos que seguiram pela rejeição a aula foram que o contato físico da forma que estava sendo posto causava constrangimento físico que não é bem aceito pela igreja que frequentava e concomitantemente pelo medo de castigo dos familiares caso soubessem. Ainda mais que tocar o corpo de outros, mesmo que colegas, deve ser evitado, para não cometer pecados. Aula.02: Fora abordado a questão da violência doméstica e contra mulheres em números reais. A luta como elemento de lazer mas também de defesa da integridade física. Novamente na área do tatame, foram explicados e exemplificados golpes de defesa pessoal com base em técnicas de Jiu-Jtsu. Foram solicitados a composição de duplas e que aleatoriamente realizassem trocas com outros colegas. A participação foi unânime, porém quando os golpes começaram a ser feitos com imobilizações em solo, houve imediata repulsa por parte dos discentes B+17; J+18; Bi+17 (MEC), L+19; S+17; M+17; Mi+18; Lo+17 (INF) e E+18; V+17; G-18 (ELET). A justificativa dada é que os movimentos eram "imorais", que a realização destes os levaria ao inferno e que a exposição em dadas posições não condiz com a postura religiosa que leva na vida. Aula.03: Sentados em círculos na quadra esportiva, os alunos ouviam atentamente a história da capoeira no Brasil. Durante a exposição surgiu feições de reprovação da fala que seguia, isto deve ao fato explicado da origem da palavra macumba e a relação entre capoeira e candomblé. Em seguida ao início dos primeiros movimentos básicos da capoeira, fora posto em caixa de som as músicas que compõe a musicalidade da capoeira. De imediato os alunos B+17; J+18; Bi+17 (MEC), L+19; S+17; M+17; Mi+18; Lo+17 (INF) e E+18; V+17; G-18 (ELET) se retiraram prontamente da quadra. Quando abordados sobre o motivo da saída da aula, as justificativas se baseiam que a capoeira pertence ao inimigo, que as músicas são invocações do demônio, que se o pastor soubesse desta prática na escola poderia puni-los. Aula.03: Em sala de aula fora exposto o filme Besouro (2009), que narra a história do capoeirista Besouro. Em dado momento do filme quando do surgimento dos Orixás, as alunas L+19; S+17 (INF) optaram por se deslocar para o final da sala com os fones de ouvido. Sabendo do histórico das alunas a atitude não foi punida. Posteriormente em conversa com ambas, a posição de que não compactuam com formas de artes desta natureza que ilustram figuras "satânicas".
Primeiros socorros: Aula.01: Teorização e exemplificação de primeiros socorros, dentre eles, desmaios, parada cardíaca, engasgos, queimaduras. Abordagem anatômica e fisiológica Aula.02: Luxação, fratura, hemorragia, AVC. Todos alunos participaram das atividades, sem objeções.
Dança: Aula.01: Exposição histórica da dança e suas diversas manifestações e significados em culturas distintas. Atendendo a pedidos anteriormente solicitados, fomos dirigidos para sala ampla que permitisse a prática de dança de modo confortável e reservado. Optou-se pela dinâmica de dança mimética através da mídia YouTube que contém vídeos de Just Dance. A escolha dos vídeos ficou a critério dos discentes, que se revezavam para a troca da música. Os estilos musicais variaram entre funk, pop, hip-hop e axé. Os discentes B+17; J+18; Bi+17 (MEC), L+19; S+17; M+17; Mi+18; Lo+17 (INF) e E+18; V+17; G-18 (ELET) não participaram de nenhuma coreografia selecionada, por vezes se retirando do local. Somente L+19, S+17 (INF) aguardaram a vez de escolha e selecionaram um música em língua alemã, onde a letra da música possuía características simples e uma coreografia que simulava gestos de corrida, natação, aviação, palmas e saltos. Aos demais se posicionaram que jamais dançariam em público um tipo de música tão absurdas quanto essas, era um afronta sobre aquilo que sua fé acreditava e que só dançava músicas da igreja para louvar a Deus.
Aula.02 e 03: ainda irá ocorrer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As consideração expostas até aqui revelam que a religião possui grande influência nas vidas dos discentes e consequentemente na suas posturas, atitudes e limitações. Vem sendo observado que os discentes vinculados a congregações protestantes são os mais limitados dentro da cultura corporal nas aulas de educação física. Os resultados corroboram com pesquisa feitas por Daólio (2014) e Rigoni (2013). Apesar de existir outras determinações que possa impedir a participação nas aulas, este elemento religioso mostra-se rigoroso e opressor, não permitindo que os alunos possuam uma educação omnilateral, comprometida com a formação total do aluno, em suas dimensões, estéticas, emocionais, espirituais e sociais. A educação física escolar encontra-se diante de um grande desafio que põe sua capacidade de obrigatoriedade em situação delicada, onde não possa perder sua autonomia e não ferir as individualidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da educação da física. Ed. Cortez. São Paulo. 1992.
DAÓLIO, J. A. Corpos na escola: reflexões sobre educação física e religião. Movimento. Porto Alegre. 2014.
FEUERBACH, L. A essência do cristianismo. Editora Vozes; Edição: 4ª. 2013.
GIL, A, C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5 ed. São Paulo. Atlas. 2007.
LUKÁCS, G. Ontologia do Ser Social II. São Paulo. 2013.
NIETZSCHE, F. Vontade de poder. Editora Vozes. 2011.
RIGONI, A. PRODÓCIMO, E. Corpo e religião: Marcas da educação evangélica no corpo. Rev. Bras. Ciênc. Esporte. Florianópolis. 2013
SAVIANI, Demerval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Autores Associados. 2014.