A caça predatória de animais silvestres é uma problemática para o risco de extinção de diversas espécies, desse modo é atribuído ao poder público a função fiscalizadora de amenizar as causas e efeitos desse problema. Em décadas passadas, a caça de tatus em regiões como Nordeste, era tido como "um meio de sobrevivência", mas atualmente essa prática é inaceitável. Diante da situação presenciada em uma localidade do sertão do município de Beberibe-CE, objetivou-se investigar o que motiva estes caçadores a continuarem caçando tatus, sobretudo, como ocorre essa prática e como os mesmos se justificam. Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, sendo o instrumento utilizado para o levantamento dos dados, uma roda de conversa com caçadores de diferentes faixas etárias, e que tiveram suas identidades preservadas. Como resultado, a roda de conversa ocorreu com cinco pessoas contando com o mediador. Durante a conversa, os caçadores expuseram que as caçadas têm foco apenas na captura dos tatus-galinhas (Dasypus novemcinctus), quando questionados se os tatus capturados são usados para alimentação, os participantes responderam que raramente, só em casos em que o cão de caça causa ferimentos graves na presa, mas que quase todos são soltos em um perímetro considerável seguro para o animal se reproduzir, e que em períodos onde as fêmeas estão acasalando e tendo filhotes (setembro a meados de janeiro) não caçam essa espécie. Ao serem questionados o porquê de soltarem os tatus-galinhas, os caçadores disseram que é para preservar a espécie e que para eles caçar é uma pratica esportiva, inclusive que existe torneios de caça onde ganha a equipe que capturar mais animais silvestres, no entanto, o grupo que ocasionar a morte de um desses animais é eliminada imediatamente. Os caçadores também explicaram que não caçam tatupebas (Euphractus sexcinctus) porque não tem interesse nessa espécie, e em casos que o capturam por engano não o soltam no perímetro onde estão os tatus galinhas, pois o tatupeba preda os filhotes de tatu-galinha, algo que chamamos de interação desarmônica interespecífica. Os caçadores também afirmaram que notaram um crescimento significativo das populações de tatus-galinha. Conclui-se que os participantes têm noções de que a caça predatória pode ocasionar a extinção da espécie caçada, por esse motivo, não a praticam com o intuito de preservar a existência local do tatu-galinha, no entanto, essa preocupação se apoia no desejo de garantir que essa pratica "esportiva" persista.