É a narrativa em seu fazer-se o foco da problematização que articulamos para a leitura das tramas livianas em sua Ab Urbe Condita Libri (História de Roma). Na vontade de compreender e dialogar com os meandros da prática narrativa em História é que nos propomos a ir à obra de Tito Lívio. Nesse sentido, buscamos articular o que se diz contemporaneamente sobre a ars narratoria e o exercício realizado pelo historiador latino no ambiente de uma Roma que se apresenta sob restauração. Ambiente que embasa a escrita de Lívio e com que ele contribui a partir da produção de uma História enquanto "mestra da vida", que repudia o presente e se volta para o passado. Espaço que evidencia lugar para o ensinamento, fabricado em um ritmo que mais se preocupa em assegurar possibilidades para o espelhar-se em ações virtuosas, elaboradas em detrimento daquelas engendradas sob auspício dos vícios. Lívio é aqui localizado enquanto o narrador que assume a condição de um provinciano arraigado ao seu território, volatilizando saberes que advêm de experiências legadas pela tradição. A ênfase recai sobre dois aspectos pensados em condição relacional, as tramas selecionadas por Lívio da tradição que acessa e a que faz eco; e a visitação à "sementeira latina" para a (re)plantação de uma espécie que foi anotada na letra historiográfica enquanto desaparecida, eclipsada, repudiada e retornada, qual seja: a narrativa.