José de Alencar. O indígena e o popular na formação da
nacionalidade brasileira.
Prof. Dr. Manoel Carlos Fonseca de Alencar
Entre-Lugares: História, Cultura e Artes.
Em 1865 foi publicado Iracema. Neste romance, José de Alencar realizou o conjunto de propostas suas relativas à apropriação das tradições indígenas - com destaque para a língua - para a feitura de uma literatura nacional. O escritor cearense havia persistido neste propósito desde 1856, ano em que publicou a Carta sobre a Confederação dos Tamoios, uma crítica ao poema épico de Gonçalves de Magalhães. Posteriormente à Carta, ele publicou o romance histórico O Guarani (1858), rascunhou o poema épico Os filhos de Tupã, que não publicou, e, finalmente, Iracema. Os três escritos, cada um com sua especificidade, representam o esforço de Alencar em ancorar o nacionalismo literário nos usos e costumes dos indígenas. Depois de Iracema, contudo, Alencar enveredou-se por um novo caminho. O romance foi alvo de muitos elogios, mas também de muitas críticas. Dentre elas destacam-se as desenvolvidas pelo crítico português Pinheiro Chagas, em seu livro Novos ensaios críticos, as de Franklin Távora, que escreveu em 1871 as denominados Cartas a Cincinato, assinando-as com o codinome Semprônio, e as de Antônio Henriques Leal, filólogo português, com o título "Questão filológica" (1871). As ressalvas de Chagas e Henriques Leal dizem respeito, sobretudo, a questões filológicas. Eles acusaram Alencar de ter inventado um idioma novo, o que não cabia ao escritor, mas ao povo. Isso porque o autor cearense serviu-se dos vocábulos indígenas, aqueles não contatados pela civilização, manipulando-os muito livremente. Franklin Távora, por sua vez, além das questões levantadas por Chagas, criticou a imagem ideal do indígena, apontando o estudo científico das tradições populares como mais adequadas para se alcançar uma literatura nacional autêntica. Diante dessas desaprovações, José de Alencar não se aquietou. Ele publicou três ensaios visando a responder essas indagações: o pós-escrito de Iracema (1870), "questão filológica" (1874) e "O nosso cancioneiro" (1874). Por meio desses debates percebe-se que Alencar vai gradativamente abandonando a noção de uma nacionalidade baseada no aproveitamento das tradições indígenas e encaminhando-se no sentido de pensar as tradições populares, desde então tidas como provenientes do mestiço, como as portadoras por excelência da peculiaridade literária brasileira.