Eixo Temático: Mundos do Trabalho: Classe, Cultura e Trabalho na História.
Nome: Mário Martins Viana Júnior; mario_ufc@hotmail.com
Título: Mundos do trabalho no campo: conflitos no Baixo e Médio Jaguaribe cearense.Seguindo as diretrizes do Estado Mínimo e das políticas neoliberais, governos federal, estadual e municipal alinharam suas ações no sentido de promover, através de órgãos como o Departamento Nacional de Obras contras as Secas (DNOCS), alterações estruturais no âmbito rural que estimulassem o avanço do agronegócio no Estado do Ceará. A partir da década de 1970 ocorreu uma alteração contundente na Política Nacional de Irrigação (Lei n° 6.662 de 1979) viabilizando a criação e expansão de perímetros de irrigação artificial na região Nordeste. Através de decretos federais, muitas áreas foram definidas como de utilidade pública e interesse social, o que significou a desapropriação e expropriação de milhares de camponeses. No Ceará, o DNOCS construiu quatorze perímetros federais com a desapropriação de 116.303 hectares, isto é, aproximadamente 108 mil campos de futebol ou quase quatro cidades do tamanho de Fortaleza. Essa "modernização agrícola" permitiu que grandes empresas nacionais e internacionais assumissem a dianteira da produção nos perímetros, principalmente na área da fruticultura irrigada, fazendo do Estado o maior exportador de melão do Brasil. O impacto ambiental e humano dessas ações tomaram proporções lastimáveis, dentre as quais pontuamos a dissolução e extinção de comunidades agrícolas, a desqualificação do trabalho do pequeno agricultor(a), a profunda transformação dos modos de vida locais. Diante desse contexto, vimos atuando através do Núcleo de Estudos sobre Memória e Conflitos Territoriais (COMTER) na região do Baixo e Médio Jaguaribe cearense no sentido de identificar, analisar e preservar as memórias e os patrimônios, bem como as lutas e resistências impelidas pelos sujeitos que vivem no campo. Metodologicamente o trabalho assume variações conforme o território. Por um lado, em Russas, onde 22 comunidades foram simplesmente extintas pela construção do perímetro irrigado, lançamos mão da História Oral como principal método (auxiliado pela pesquisa em periódicos e outros documentos disponíveis nos acervos do DNOCS e de outros organizações/movimentos sociais, como a Cáritas Diocesana) para compreender as questões concernentes ao mundo do trabalho. Por outro lado, na região do Açude Figueiredo, fazemos uso de metodologias participativas que envolvem a juventude rural na identificação, salvaguarda e preservação de seus modos de vida/trabalho, patrimônios e memórias, cujo resultado pode ser matizado na presente construção de um museu comunitário. De maneira objetiva, em ambos os territórios, acreditamos que nossa atuação ajuda a dirimir a amnésia social deliberadamente produzida pelo Estado e capital privado e a entender os ataques produzidos sobre os trabalhadores do/no campo que teimam em resistir.