PAURILLO BARROSO (CE, 1894 – 1968): UM FITZCARRALDO EM TERRAS ALENCARINAS

LUCILA PEREIRA DA SILVA BASILE

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

 

Simpósio: Entre-lugares: história, cultura e artes

Lucila Basile

Drª.em História (UFMG) e professora Curso de Música (UECE) 

basile.lu@gmail.com

Paurillo Barroso (1894 -1968) é um compositor cearense de peças para piano, (canções e valsas), além da opereta Valsa Proibida, estreada em 1941, no Theatro José de Alencar. Paurillo é uma figura curiosa, durante quase toda a vida vestiu-se como um cidadão da Belle Èpoque, roupas de linho branco, óculos pince-nez, bengala com castão de prata e flor na lapela. A personalidade era igualmente marcante: facilmente irritável, possuía um riso que o singularizava, um famoso agudo, qui, qui, qui como é recordado por amigos. Era funcionário dos Correios, no entanto, teve uma prolífica atuação como articulador cultural da cidade. Fundou com amigos a Sociedade de Cultura Artística (1935) e o Conservatório Alberto Nepomuceno (1938). Durante o período de atividades  nessas organizações, em Fortaleza promoveu uma média de 10 concertos anuais de artistas visitantes, até 1942, quando passou a residir no Rio de Janeiro, em segunda temporada. Como compositor era autodidata, tocava piano de ouvido e transitou entre o pianismo de salão e familiarizado com os maxixes e cançonetas da sua juventude. Paurillo é um artista eclético, forjado sob o signo da Modernidade, um obstinado amante da música e um empreendedor musical, tal qual a personagem Fitzcarraldo (1982) do filme de mesmo nome, de Werner Herzog. No Rio de Janeiro, o compositor atuará como diretor do Cassino Atlântico e estará responsável pelos shows daquela casa de diversões da elite carioca. Paurillo realizará shows nos moldes da Broadway e fará grande sucesso com ideias curiosas como girls saídas de garrafas gigantes de bebidas, e ritmos novidades como a estreia de Lauro Maia e o musical Balanceio, na capital. A trajetória de Paurillo nos permite refletir sobre a música contingente das cidades, a emergência do campo profissional dos músicos, além de saber um pouco mais sobre esse entre lugar, que identificamos como o de uma música, de influências múltiplas que não é nem a música da tradição e não é também, o da música culta, ainda que, por vezes denote alguns de seus aspectos. A pesquisa examinou o acervo Paurillo Barroso quando ainda se localizava no Rio de Janeiro, (2002) jornais, revistas, e alguns memorialistas. Como referencial teórico para essa interpretação nos apoiamos nas categorias Modernidade (Benjamim; Kracauer; Simmel) e nas maneiras de fazer e apropriação (Certeau; Chartier).