A CONSTRUÇÃO DO NORDESTE NA OBRA DE LUIZ GONZAGA

ANTÔNIO ROBERTO SOARES CAVALCANTE

Co-autores: ANTÔNIO ROBERTO SOARES CAVALCANTE e MARIA VALÉRIA ABREU PONTES
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

Luiz Gonzaga do Nascimento iniciou sua carreira como artista no ano de 1941 como instrumentista e em 1945 estreia como cantor, ganhando espaço no mercado nacional como o "Rei do Baião", imagem que marca o seu vínculo com a cultura nordestina. As discussões sobre Nordeste e a política de regionalização do país fazem parte dos percursos instituidores das dinâmicas da historia, configurando-se enquanto debates que perpassam por todos os discursos e esferas de poder, tanto do ponto de vista acadêmico, político e artístico como do ponto de vista literário. Esse contexto forneceu elementos estruturantes do que se pode chamar de invenção ou reinvenção de identidades. O presente trabalho discorre sobre a produção musical e trajetória artística de Luiz Gonzaga, precisamente sobre a invenção do baião e os outros gêneros apropriados pelo sanfoneiro, os quais serviram como discursos fundantes dos referidos marcadores identitários. Verifica-se que as músicas (letras e ritmos) e a performance do autor serviram como tática discursivas para a construção de um imaginário de Nordeste. O baião e outros gêneros tocados pelo trio musical forjaram uma prática de musica que entrou nos processos de negociação identitárias com o seu público/ouvinte. A tradução discursiva de Nordeste e de nordestino foi engendrada também por imagens e símbolos a partir de uma indumentária retirada das tradições regionais (cangaceiros e vaqueiros) e resignificada pelo artista dentro de um contexto social urbano. A musicalidade de Gonzaga foi construída na antítese entre sertão nordestino/terras civilizadas. Sua produção de sons e temáticas artisticamente combinados, foi vinculada ao regionalismo nordestino. A sonoridade gonzagueana teve a capacidade de expressar um sentimento de nordestinidade que reverberou em seus ouvintes/receptores. Suas músicas servem como marcos identitarios nos aspectos de territorialidade nordestina. Deve-se salientar que o emprego de tais temáticas se relacionou com experiências sociais vividas e a musicalidade de Gonzaga; assim os temas que se apresentam em seu repertorio foram: seca, sofrimento, saudade, baião, sertão, aboio, vaqueiros, entre outros. A pesquisa desenvolveu-se na perspectiva da Historia Cultural, abordando em seus aspectos teóricos as categorias conceituais de identidade, representação, imaginário, performance, campo/cidade, hibridação e ritmos, categorias estas abordadas sob a óptica dos modos de vida, dos valores simbólicos, dos costumes e da arte musical. Enfim, este trabalho se constrói numa relação de historia com a musica e seus formas de interpretação.