Simpósio Temático: História, Memória e Oralidade
Fios da vida na cidade lembrada - as memórias de Luiz Motta Filho
Katyuscia Kelly Catão de Sousa
Químico industrial, Luiz Motta Filho dirigia o curtume da família, empreendimento de relevo em Campina Grande, no início dos anos 1970. Além disso, atuava como líder em órgãos de classe, empresas e autarquias. Detentor do capital social que resultava de relações familiares e amizades, ele foi nomeado em 1970 Interventor Federal na sua cidade - posto que ocuparia até 1973. Motta Filho liderou uma equipe de planejadores que traçou o que seriam os contornos e o espírito da urbanização em Campina Grande pelos próximos vinte anos. Após deixar a interventoria, voltou a se dedicar aos seus interesses empresariais, chegando, inclusive, a mudar-se para João Pessoa. No presente, com mais de oitenta anos, Motta Filho tem narrado a sua história de vida, a qual tem sido colhida no âmbito de uma investigação mais ampla, que tem por objetivo a construção de um livro autobiográfico. O objetivo desta comunicação é o de apresentar o primeiro resultado da exploração daquele relato - no sentido de inventariar as linhas de força das memórias contadas. Tem-se destacado, na fala de Motta Filho, a sua preocupação em falar de si a partir de um lugar: o de homem interessado de forma permanente na dinâmica urbana de Campina Grande. Luiz Motta Filho, nas suas memórias, é um homem do espaço; a cartografia de suas reminiscências é tramada em meio aos caminhos, aos lugares, às relações vividas no mundo. De tantos espaços, sobressai-se Campina Grande, baliza para suas referências em quase todos os momentos. É a partir daí que ele elabora sua fala, em relação à qual colocamos algumas questões básicas: quais os eventos considerados, por Motta Filho, como mais relevantes na sua vida? Quais os personagens mais destacados? Quais os temas de eleição? Considerando-se que este é apenas o primeiro gesto de apropriação historiográfica das memórias de Motta Filho, estamos propondo um diálogo teórico restrito, ancorado no conceito de ilusão biográfica, de Pierre Bourdieu e nas formulações acerca dos jogos entre práticas e representações, tal como é proposto por Roger Chartier. Neste sentido, se não nos interessa desconfiar do relato que nos é apresentado, não nos é possível pensá-lo sem considerar os seus elementos fabulosos. Além disso, nos inquieta pensar como, ali, são registrados ações e pensamentos que, em vários graus, se enredaram na construção de um olhar sobre si interessado em dar sentido a uma vida longa e ativa.