O Destruidor das Cruzes: o imaginário de demonização na construção literária de Valgarðr inn grái na Brennu-Njáls saga (Séc. XIII)
Prof. Me. José Lucas Cordeiro Fernandes (UECE/NEVE/ARCHEA)
Eixo Temático: Cultura Escrita na Antiguidade e Medievalidade
Durante a cristianização da Escandinávia, a Islândia produziu, por inúmeros fatores, uma literatura única em toda a Europa, como afirma Jacques Le Goff. Esta literatura, conhecida como sagas, tiveram uma vasta produção ao longo dos séculos XII e XIV, dividindo-se em vários subgêneros. Um deste subgêneros, se refere as sagas de islandeses/sagas de família, as chamadas Íslendingasögur, em que se insere a Brennu-Njáls saga ou Saga de Njáll, do incêndio. Tal texto, escrito ao longo de 1280-1285, mas narrando eventos ocorridos entre 950-1020 (Ter duas temporalidades é algo típico deste gênero), é considerado uma das maiores sagas de famílias já escrita, contendo várias tramas e elementos. O enredo gira em torno de Njáll Þorgeirsson, que é morto em um incêndio dentro de sua própria residência e Gunnar Hámundarson ou Gunnarr á Hlíðarenda (Gunnar de Hlíðarendi) e sua esposa Hallgerðr. Neste trabalho, buscaremos focar na construção literária de uma personagem não principal, que é citado apenas sete vezes ao longo da vasta trama, mas que tem um papel fundamental no que tange a condenação do pagão pelo autor anônimo cristão que compõem a narrativa: Valgarðr inn grái ou Valgarðr, o hostil. Tal figura, represente o "restolho do paganismo", sendo instrumento da narrativa para condenar o pagão e movimentar a narrativa, sua figura vai de encontro a narrativa da cristianização composta na trama (Entre os capítulos 100 e 107), quebrando cruzes e amuletos, assim como estimulando conflitos e querelas. Apesar de pouco citado, as referências sublinhares do texto, revelam um cuidado de composição estética específico. Portanto, buscaremos explorar a relação entre cristianização e literatura, observando a construção de uma composição estética literária que intenta demonizar o pagão, usando de um valor escrito para ampliar e consolidar o Cristianismo. Usaremos para este trabalho os aportes da Nova História Cultural, focando nos conceitos de representação e imaginário, assim como o conceito de energia social e estética. Metodologicamente vamos recorrer as acepções da Cultura Escrita e da Nova Escandinavística, para que tenhamos ferramentas apropriadas na manipulação das fontes e da operação historiográfica da análise proposta.
Palavras-Chave: Sagas de Islandeses; Demonização; Valgarðr inn grái.