CIDADES, MEMÓRIA E IDENTIDADE ÉTNICA: DIÁLOGOS E EMBATES

MANUEL COELHO ALBUQUERQUE

Co-autores:
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

 

CIDADES, MEMÓRIA E IDENTIDADE ÉTNICA: DIÁLOGOS E EMBATES

Eixo Temático: História, Memória e Oralidade

 

Manuel Coelho Albuquerque - Doutorando UFC

manuelbuquerque@gmail.com

 

Ao longo do século XX o Ceará vivenciou a ideia da extinção e do desaparecimento completo dos povos nativos de seu território. Nos anos 1980, quando os Tapeba reivindicaram terra e identidade indígena para si, foram intensamente combatidos pelos proprietários ou pretensos donos de suas terras. A intensa mistura com a população não indígena justificou, muitas vezes, os argumentos para lhes negar o direito à terra e a identidade étnica. O fato é que a sociedade, em grande medida, ainda requeria e requer a imagem tradicional do índio vivendo nas matas e distanciado dos centros urbanos. Para atender tais concepções e imprimir legitimidade à causa indígena, a Igreja Católica empenhou-se, ainda nos anos 1980, nos "resgates" da cultura e da história desse grupo étnico, reconstruindo e em certa medida inventando uma história para os Tapeba. Nessa (re)construção histórica, o esforço em vincular os índios ao ambiente tradicional e não urbano. A cidade de Caucaia, oriunda do Aldeamento Jesuítico e da Vila Nova de Soure, cresceu, expulsou os índios para as periferias e áreas de matas preservadas, regiões identificadas por eles como dos ancestrais. Em alguns bairros de Caucaia, todavia, muitos índios residem e trabalham. Ali também é território indígena, lugar de vivências e memórias. Neste trabalho, analiso as relações dos Tapeba com seus territórios e com o fenômeno da urbanidade, cada vez mais presente em suas vidas. Ao mesmo tempo, analiso como vem se construindo, desde os anos 1980, uma determinada memória sobre esse povo. Localizado entre as cidades de Fortaleza e Caucaia, e entre mangues, rio, riachos e lagoas, o território indígena é constantemente ameaçado por várias forças econômicas, o que levou os índios a se "armarem" de estratégias para a luta permanente. Espaços de trabalho e moradia, as cidades são também palcos de negociações, lutas políticas e simbólicas. O que significa ser índio neste contexto? Em que medida as cidades representam ameaças ou colaboram para a afirmação identitária e demais reivindicações desses índios? Realizamos diálogos com uma recente produção antropológica sobre índios urbanos no Brasil e com a História Ambiental. Fontes diversas como fotografias, documentos escritos, jornais, audiovisuais, entrevistas, possibilitam entrelaçar o sincrônico e o diacrônico, a história e a memória. Modos de vida e temporalidades se confrontam. Os Tapeba se movimentam por caminhos sinuosos.