O Cangaço foi uma modalidade peculiar de banditismo social atuante na região do Nordeste brasileiro principalmente nos séculos XIX até meados do XX. Mesmo após a desestruturação dos cangaceiros podemos constatar a atualidade da memória sobre o fenômeno social - há diversos bens e expressões culturais relacionadas à temática. Segundo o historiador Durval Muniz de Albuquerque Jr. em "A invenção do nordeste", o cangaço teria marcado o nordestino com o valor da macheza, violência e valentia. Percebemos então, um peculiar conjunto de discursos em torno do cangaço relacionado à formação de uma identidade nordestina. O objetivo geral da pesquisa é entender historicamente como a imagem destes bandidos foi sendo inserida no imaginário social nordestino. Após isso, a metodologia utilizada se propõe a identificar, refletir e problematizar as memórias do cangaço na cultura popular cearense com o intuito de perceber as teias de inserção em um contexto específico. Analisamos as memórias discursivas elaboradas sobre Lampião e os cangaceiros no cenário sociocultural cearense na década de 1990 por meio da imprensa local, onde percebemos diversas significações e apropriações em torno da (re)construção e preservação da memória social dos bandoleiros. Identificamos importantes rememorações, sendo uma das principais, a série de publicações realizada pelo jornal cearense "O Povo" em comemoração ao centenário do nascimento de Lampião. Segundo o periódico, a pretensão é ir "ao encontro da tradição popular e relatar o mundo imaginário do mito-herói Lampião. Em reconhecimento à herança do cangaço na cultura nordestina". Interessante destacar estes vestígios, pois o entendemos como vertentes culturais produtoras de discursos por legitimarem valores, significados e ideais a um Ceará historicamente construído.