Estudo Avaliativo da Atividade Antiacetilcolinesterase em Méis
Marília Gabriela Gomes de Menezes ¹²* (IC), Francisca Tatiana Regis Pinto¹² (IC), Glemilson Moita de Aguiar ² (IC), Natália de Sousa Augusto² (IC), Hanna Sabrina Lima Amorim² (IC), Victória Réggina Paulino Albuquerque² (IC), Maria da Conceição Tavares Cavalcanti Liberato (PQ)
1. Universidade Estadual do Ceará - FUNCAP
2. Universidade Estadual do Ceará - Curso de Química Licenciatura Plena
Palavras-chave: Méis. Antiacetilcolinesterase. Alzheimer.
Resumo
O mel é uma substância viscosa natural, que apresenta composição altamente variada. Entre seus constituintes encontram-se compostos fenólicos e flavonoides, minerais, enzimas, aminoácidos, vitaminas, ésteres, aldeídos etc. A Doença de Alzheimer (DA) é um dos maiores problemas de demência que se tem conhecimento, que assim como outras doenças neurodegenerativas é caracterizada pela perda da função e morte dos neurônios. O número de pessoas acometidas pela DA em todo mundo vem crescendo assustadoramente em todo mundo. Tendo em vista a importância da inibição da Enzima Acetilcolinesterase para os portadores da Doença de Alzheimer, o presente trabalho teve como objetivo investigar e comparar a Atividade Antiacetilcolinesterase de méis da região Nordeste possuindo diferentes abelhas produtoras. Foi utilizado o teste adaptado para cromatografia em camada delgada por RHEE. Os méis analisados apresentaram Atividade Antiacetilcolinesterase, Dentre as amostras estudadas o melhor resultado foi do mel de Barroquinha-CE, com um valor de 8 mm de halo de inibição.
Introdução
O mel é uma substância viscosa natural, que pode ser definido como uma mistura complexa de açúcares altamente concentrada, elaborado a partir do néctar e outras exsudações naturais das plantas que são coletadas, processadas e armazenadas pelas abelhas (CRANE, 1983; HORN et al., 1996).
A composição do mel é altamente variada, estimando os pesquisadores que o mel contenha cerca de 200 substâncias, considerando o mesmo, como parte importante da medicina tradicional (MEDA et al., 2005). É principalmente constituído por frutose e glucose, mas apresenta, também, outros carboidratos, água e diversos constituintes nos quais se incluem compostos fenólicos e flavonoides, substâncias com atividade antioxidante, minerais, enzimas, aminoácidos e vitaminas (GHELDOF, 2002).
A Doença de Alzheimer (DA) é um dos maiores problemas de demência de que se tem conhecimento. Doenças neurodegenerativas como a DA são caracterizados pela perda da função e morte dos neurônios no cérebro (ALMEIDA, 1997). Afeta cerca de 35,6 milhões de pessoas atualmente, em sua grande maioria, idosos. É uma enfermidade neurodegenerativa irreversível, de aparecimento insidioso, que acarreta vários distúrbios cognitivos como perda de memória, linguagem, razão e habilidade de cuidar de si próprio (SMITH, 1999).
A acetilcolinesterase é uma enzima pertencente a família das colinesterases, sendo responsável pela finalização dos impulsos nervosos nas sinapses colinérgicas pela hidrolise do neurotransmissor acetilcolina (RANG, 2001). Uma vez transmitido, o impulso nervoso é importante que o processo de interação da acetilcolina com o receptor seja interrompido, para evitar o excesso de transmissão nervosa, que pode levar a problemas de funcionamento do corpo (PATRICK, 2001).
Os antioxidantes em alimentos e suplementos podem atuar na Doença de Alzheimer. A vitamina C bloqueia a formação de nitrosaminas através da redução de nitritos, já os carotenos afetam a peroxidação lipídica. Esses e outros fatores podem sugerir que a baixa ingestão de antioxidantes estaria associada com alto risco de Doença de Alzheimer (LUCHSINGER, 2004).
Tendo em vista a importância da inibição da acetilcolinesterase e sua aplicação para os portadores da Doença de Alzheimer, o presente trabalho teve como objetivo investigar e comparar a Atividade Antiacetilcolinesterase de méis da região Nordeste possuindo diferentes abelhas produtoras.
Metodologia
Obtenção das Amostras
Foram utilizados 4 méis diferentes, sendo 2 méis da espécie de abelha produtora Apis mellifera L., possuindo a mesma florada. E 2 méis da espécie de abelha produtora Melipona subnitida (Jandaíra), possuindo floradas distintas. A relação dos méis está expressa na Tabela 1.
Tabela 1: Relação dos méis utilizados no trabalho
Espécie de Abelha Produtora |
Florada |
Local de Produção |
Apis Mellifera L |
Marmeleiro |
Barroquinha - CE |
Apis Mellifera L |
Marmeleiro |
Umirim - CE |
Melipona Subnitida (Jandaíra) |
Silvestre |
Mossóro - RN |
Melipona Subnitida (Jandaíra) |
Carqueja |
Capistrano - CE |
Atividade Antiacetilcolinesterase
Consiste em um ensaio adaptado para cromatografia em camada delgada por RHEE et al. (2001). As soluções utilizadas foram os reagentes ácido 5,5'-ditiobis-2-nitrobenzóico (DTNB) e iodeto de acetilcolina (ATCI) em tampão. As amostras foram aplicadas na cromatoplaca. Após a evaporação do solvente pulverizou-se o substrato (ATCI, 1mm em tampão) e o reagente de Ellman (DTNB, 1 mm em tampão 1). Após secagem por 3 a 5 minutos, borrifou-se a enzima a uma concentração de 3 U/mL, e após 10 minutos a cromatoplaca desenvolveu uma coloração amarela. O aparecimento de halos brancos em torno das amostras indicou a inibição da enzima acetilcolinesterase. Após verificação do tamanho dos halos, comparou-se com o padrão fisostigmina.
Resultados e Discussão
Tabela 2: Resultados de Inibição de Acetilcolinesterase obtidos para os méis analisados
Amostras |
Inibição da Acetilcolinesterase |
Fisostigmina |
9 mm |
Apis - Marmeleiro - Barroquinha (CE) |
8 mm |
Apis - Marmeleiro - Umirim (CE) |
6,5 mm |
Jandaíra - Silvestre - Mossóro (RN) |
6 mm |
Jandaíra - Carqueja - Capistrano (CE) |
7,5 mm |
Todos os méis avaliados ficaram abaixo dos valores de inibição da Fisostigmina utilizada como padrão. No entanto, o mel de Apis mellifera produzido no município de Barroquinha obteve maior inibição da acetilcolinesterase, pois o mel obteve um halo de inibição apenas 1 mm inferior ao halo de inibição apresentado pelo padrão Fisostigmina. Enquanto que o de menor valor apresentado foi do mel de Mellipona subnitida de 6 mm de inibição.
Os valores de inibição diferentes apresentados podem ser justificados pela diferença da espécie de abelha produtora do mel e da florada utilizada pela mesma.
Conclusão
Estudos como este que visem buscar novas substâncias que apresentem inibição da Enzima Acetilcolinesterase, são de suma importância, visto que o tratamento para a Doença de Alzheimer (DA) ainda não apresenta resultados consideráveis sobre o avanço da doença. Além disso, apresentam uma iniciativa para o enriquecimento social e para o trabalho científico.
Referências
ALMEIDA, O.P. Rev. Ass. Med. Brasil. 1997. 43, 77.
GHELDOF, N., Wang, X., Engeseth, N. 2002. Identification and Quantification of Antioxidant Components of Honeys from Various Floral Sources, Journal of Agricultural and Food Chemistry, 50, 5870-5877.
HORN, H. Méis brasileiros: resultados de análises físico-químicas e palinológicas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA, 11., 1996, Teresina, PI. Anais...Teresina: Confederação Brasileira de Apicultura, 1996. p.403-429.
LUCHSINGER JA; Mayeux R. Dietary factors and Alzheimer's disease. Neurology; 3:579-587. 2004.
MEDA, A., LAMIEN, C. E., ROMITO, M., MILLOGO, J., NACOULMA, O. G. 2005. Determination of the Total Phenolic, Flavonoid and Proline Contents in Burkina Fasan Honey, as well as their Radical Scavenging activity. Food Chemistry, 91: 571-577.
PATRICK, G. L.; An Introduction to Medicinal Chemistry. 2th ed.,Ed. Oxford, 432, 2001.
RANG, H. P.; Dale, M. M.; Ritter, J. M.; Drogas que Inibem a Cholinesterase. 4ª edição, Guanabara Koogan, 2001,110-115.
RHEE, I. K.; MEENT, M.; INGKANINAN, K.; VERPOORTE, R. Screening for acetylcholinesterase inhibitors from Amaryllidaceae using silica gel thin-layer chromatography in combination with bioactivity staining. Journal of Chromatography A, v. 915, p. 217-223, 2001.
SMITH, M. A. C.; Doença de Alzheimer. Revista Brasileira de Psiquiatria, 1999, 21, SII 3
SODRÉ, G.S. CARVALHO, C.A.L. et.al. Caracterização físico-química de amostras de méis de Apis melliferaL. (Hymenoptera: Apidae) do Estado do Ceará. Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), Piracicaba, São Paulo, Brasil. Ciência Rural, jul-ago, 2007.
Agradecimentos
Á FUNCAP e a Universidade Estadual do Ceará.