AÇÕES DO ENFERMEIRO NA SELEÇÃO DO RECEPTOR DE TRANSPLANTE RENAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Vanessa Damasceno Jales1
Samla Sena da Silva Souza2
Antonio Jackson dos Santos Cruz1
Máguida Gomes da Silva3
Elenice Maia Pinheiro Araújo4
Rhanna Emanuela Fontenele Lima de Carvalho 5
EIXO 2: SABERES E PRÁTICAS DE ENFERMAGEM: ENCONTRO NOS TERRITÓRIOS
INTRODUÇÃO
A doença renal crônica (DRC) é caracterizada por uma perda progressiva e irreversível da função dos rins. Trata-se de um grande problema de saúde pública no Brasil e está associada a elevadas taxas de morbimortalidade e altos custos para o Estado com o tratamento. (BRASIL, 2015; BATISTA et al, 2017)
A terapia renal substitutiva está indicada para os pacientes com DRC em estágio cinco, sendo as opções de tratamento: hemodiálise, diálise peritoneal e transplante. O transplante renal caracteriza-se pela transferência de um rim saudável de doador vivo ou falecido, para um paciente com DRC (receptor), objetivando compensar ou substituir a função dos rins nativos. (SANTOS, et al, 2015; SANTOS, et al, 2016; SIQUEIRA, COSTA E FIGUEIREDO, 2017)
Para aqueles pacientes renais que não possuem contra-indicações e que não encontraram um doador entre seus familiares, a única opção é a lista de espera pelo órgão de doador falecido. Em todos os estados da federação a fila é única, a alocação dos órgãos é regulamentada pela legislação específica e controlada pelo Sistema Nacional de Transplante e a distribuição é feita com base no exame de compatibilidade HLA (Human Leucocyte Antigen). No Ceará, a Central de Transplantes do Estado é a responsável pela coordenação das atividades de transplantes no âmbito estadual, tendo como uma de suas principais responsabilidades regular a lista dos receptores de órgãos e tecidos.
O enfermeiro, como membro da equipe de saúde tem papel fundamental no processo de transplante de órgãos, desempenhando diversas atividades. Dentre estas, a seleção do paciente que receberá o órgão é de grande relevância, visto que uma falha no processo pode ocasionar danos irreversíveis ao paciente e a perda do órgão a ser transplantado.
OBJETIVO
O presente estudo tem como objetivo descrever as ações do enfermeiro no processo de seleção do receptor de transplante renal em uma unidade de clínica cirúrgica especializada em transplante renal de um Hospital Universitário em Fortaleza-CE.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, vivenciado por enfermeiros e residentes de Enfermagem em Assistência em Transplante de Órgãos, que fazem parte do programa de Residência Multiprofissional do serviço, em um setor de clínica cirúrgica especializada em transplantes renais de um hospital de referência localizado em Fortaleza-CE, o qual retrata a sequência de ações realizadas pelos profissionais na seleção de receptor de transplante renal. A unidade é composta por 11 enfermeiros, que se distribuem nos turnos da manhã, tarde e noite. Durante o ano, cada residente de enfermagem em Assistência em Transplante de Órgãos é alocado no setor por três meses, o estudo se deu no período de setembro a novembro de 2017, momento em que os residentes estavam no serviço.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O processo de transplante renal envolve diversas etapas desde o momento da captação do órgão no doador até o seu implante no receptor, que deve ser o mais compatível possível, no aspecto imunológico, a fim de reduzir ao mínimo o risco de rejeição.
Durante o procedimento de captação renal, são colhidos exames específicos no doador, para determinar a compatibilidade daquele órgão com os pacientes que se encontram na lista de espera por um órgão. Estes são encaminhados a central de transplante para que a lista com os possíveis receptores seja gerada. A central de transplantes encaminha através de e-mails aos Centros Transplantadores (CT) a lista com os potenciais receptores daquele órgão. (PARANÁ, 2016)
Para o receptor de transplante renal são três as etapas de compatibilidade, cada etapa é realizada pelos laboratórios de histocompatibilidade e encaminhadas as listas para os CT ao fim de cada uma delas.
Primeiramente é gerado um ranking com os pacientes de mesmo grupo sanguíneo do doador e compatibilidade HLA. No segundo ranking estão demarcados por símbolos apenas os possíveis receptores com fator inibidor de migração de macrófagos (MIF) menor que 3000; dentre esses pacientes é gerado o terceiro e último ranking, constando os receptores aptos ao transplante após a prova cruzada, o crossmatch.
A partir do segundo ranking, os enfermeiros da clínica cirúrgica, que estão no serviço, verificam na lista os pacientes pertencentes ao hospital, então selecionam "as pastas" dos seis primeiros candidatos cadastrados pelo CT que se encontram na lista geral. Nas pastas contêm informações de identificação e contato, além de dados clínicos e exames realizados durante a fase pré-transplante, em seguida é realizado contato telefônico informando aos candidatos sobre a seleção do transplante.
Preenchendo um check-list confeccionado pelo setor, que contêm uma sucinta avaliação clínica, os enfermeiros perguntam ao candidato sobre sua condição atual de saúde, presença de infecção, uso de antibióticos, transfusão sanguínea há menos de três meses, tipo e data da última diálise e se tem exames pendentes. A partir dos dados, o enfermeiro analisa o estado de saúde do candidato, avaliando se o mesmo está em condições de ser submetido ao implante do órgão.
Estando apto, o enfermeiro orienta, caso seja necessário, que eles realizem sessão de hemodiálise antecipada, em sua clínica de origem sem heparina, saindo 0,5 kg acima do peso seco e em seguida se deslocar para o hospital para a coleta de exames. Caso o processo aconteça no período noturno ou aos domingos quando as clínicas de diálise não funcionam, o candidato realizará diálise no próprio hospital. Em casos que o ranking HLA seja liberado após 3hs da manhã, o candidato deverá ser encaminhado para a clínica no primeiro turno, realizar diálise por 3 horas e em seguida se direcionar imediatamente ao hospital para coleta de exames laboratoriais (hemograma completo, coagulograma, bioquímica, uréia e creatinina) e de imagem (Raio X de tórax) e aguardar resultado de crossmatch.
O resultado do crossmatch, encaminhado pela central de transplantes do estado, define os candidatos compatíveis com o doador. Por fim, o primeiro paciente desta última lista será o mais apto a receber o órgão, embora os seguintes permaneçam em jejum e sobreaviso, até que o órgão seja implantado no primeiro receptor. Nesse momento, a equipe de enfermagem informa qual dos pacientes será contemplado com o transplante e a partir de então, é iniciada a preparação para o ato cirúrgico.
CONCLUSÃO
As ações que cabem ao enfermeiro na seleção do receptor de transplante renal exigem habilidade, atenção, agilidade e pensamento crítico, pois se trata de um processo em que falhas são inadmissíveis, pois podem ocasionar danos irreversíveis ao paciente e a perda do órgão a ser transplantado.
REFERÊNCIAS
BATISTA, C.M.M. et al. Perfil epidemiológico dos pacientes em lista de espera para o transplante renal. Acta paul. enferm., São Paulo , v. 30, n. 3, p. 280-286, May 2017 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002017000300280&lng=en&nrm=iso>. access on 31 Mar. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/1982-0194201700042.
BRASIL. Ministério da Saúde. Governo Federal. DATASUS. Indicadores de Morbidade. Prevalência de pacientes em diálise SUS - Brasil. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2015.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Sistema Estadual de Transplantes. Manual para Notificação, Diagnóstico de Morte Encefálica e Manutenção do Potencial Doador de Órgãos e Tecidos. - Curitiba: SESA/SGS/CET, 2016. 52 p.
PEREIRA, W.A. Manual de transplantes de órgãos e tecidos. 3ºed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
SANTOS, B. P.; et al. Foi/não foi tudo o que pensava: facilidades e dificuldades após o transplante renal. Rev. Gaúcha Enferm., Porto Alegre , v. 37, n. 3, e60135, 2016 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-14472016000300416&lng=en&nrm=iso. Acessado em: 31 março de 2018.
SANTOS, C. M.; et al. Percepções de enfermeiros e clientes sobre cuidados de enfermagem no transplante de rim. Acta paul. enferm., São Paulo , v. 28, n. 4, p. 337-343, Aug. 2015 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002015000400008&lng=en&nrm=iso. Acessado em 31 de marca de 2018.
SIQUEIRA, D. S.; COSTA, B. E. P.; FIGUEIREDO, A. E. P. L. Coping e qualidade de vida em pacientes em lista de espera para transplante renal. Acta paul. enferm., São Paulo , v. 30, n. 6, p. 582-589, Dec. 2017 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002017000600582&lng=en&nrm=iso. Acessado em 31 março de 2018.