EDUCAÇÃO EM SAÚDE SOBRE DIABETES MELITUS GESTACIONAL EM SALA DE ESPERA: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Sarah Ellen da Paz Fabricio1
Samuel Miranda Mattos2
Irialda Saboia Carvalho3
Thereza Maria Magalhães Moreira 4
EIXO 6: Enfermagem em Saúde da Mulher
INTRODUÇÃO
O diabetes mellitus gestacional (DMG) é uma intolerância aos carboidratos diagnosticada pela primeira vez durante a gestação e que pode ou não persistir após o parto. A doença se baseia em um problema metabólico comum na gestação que, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2017) tem prevalência entre 3% e 25% das gestações, dependendo do grupo étnico, da população e do critério diagnóstico utilizado.
Muitas vezes, o aparecimento de DMG propicia o aparecimento do diabetes mellitus tipo 2 (DM2) durante o puerpério e até mesmo persistência durante o resto da vida da mãe. Ademais, dependendo da gravidade dos índices glicêmicos durante a formação do bebê, o problema de saúde pode se estender e afetar o desenvolvimento fetal, levando a danos futuros para a criança.
Na sociedade contemporânea, a incidência de DMG está aumentando em paralelo com o aumento do DM2, pois os hábitos saudáveis de vida estão diminuindo em detrimento do ritmo acelerado dos brasileiros inseridos em uma sociedade capitalista. Nesse cenário, também é possível observar que, mesmo com o aumento de meios para informação sobre saúde no país e no mundo, muitas vezes a população não tem oportunidade de discutir assuntos importantes para a sua saúde e da sua família na atenção primária, como DMG. De acordo com Ribeiro e Sabóia (2015), atividades de educação em saúde aumentam a qualidade de vida dos pacientes em longo prazo e, se obtiverem uma repercussão positiva, motiva a população da região a se aproximar dos programas educacionais oferecidos na atenção básica. Complementar a isso, Mendonça e Nunes (2015) apontam a necessidade de preparação do profissional como um fator determinante de sucesso da estratégia.
Dito isso, torna-se necessário o intermédio do enfermeiro na criação de programas educativos que atinjam a população de forma que as pessoas consigam entender e colocar em prática a intervenção, tanto em relação ao DMG, quanto ao conhecimento de doenças crônicas em geral.
OBJETIVO
Relatar a experiência de uma discente de enfermagem durante atividade educativa para a promoção da saúde em pacientes com DMG em sala de espera de uma unidade de Atenção Básica.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência tomando como base a vivência de uma acadêmica de enfermagem da Universidade Estadual do Ceará (UECE) ao realizar uma atividade de educação em saúde em uma sala de espera na Unidade de Atenção Básica em Saúde do município de Maracanaú. A ação foi realizada no dia 11 de dezembro de 2017. A atividade contou com a presença de 11 gestantes com faixa etária entre 16-35 anos, sendo 3 delas primíparas e 8 delas multíparas e com o apoio da enfermeira responsável pelo pré-natal. Das 11 participantes, nenhuma possuía DM2, porém 2 delas apresentavam histórico na família, constituindo um fator de risco para a ocorrência de DMG.
A primeira etapa consistiu na apresentação da acadêmica ao grupo e, posteriormente, a apresentação de cada gestante por nome, idade, tempo e número de gestações, ocorrência e histórico de DM2. Na segunda etapa, interrogaram-se às gestantes sobre o que seria DMG e depois, utilizamos um material confeccionado que simulava um vaso sanguíneo para explicar o acúmulo de glicose no sangue, característico do diabetes. Na terceira etapa, foram demonstradas imagens de alimentos ricos em carboidratos para desmistificar a ideia de que o diabetes só era causado por doces ou açúcar refinado. Somado a isso, também distribuímos folders contendo informações importantes sobre o que é DMG e como preveni-la. Na quarta e última etapa, foram feitas perguntas oralmente às gestantes sobre o que havia sido apresentado e o que elas tinham aprendido com a atividade.
Discutimos com as participantes o que elas entendiam por DM2, DMG, quais os malefícios dessa alteração metabólica e como isso poderia repercutir no período da gestação e no resto da vida. Foram discutidos temas, como a importância da alimentação saudável, da autonomia da mulher sobre seu corpo, a realização de exercícios físicos durante a gravidez e sobre a fisiologia do corpo humano. Durante a intervenção os participantes tiveram a oportunidade de tirar dúvidas sobre o tema, realizaram trocas de experiências com os profissionais, as alunas e os estagiários presentes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente, as gestantes demonstraram-se retraídas, porém, após a apresentação da discente e a explicação da atividade, houve o interesse para a proposta que seria desenvolvida. A linguagem verbal utilizada pela estudante foi um desafio durante a intervenção, pois as gestantes possuíam graus de escolaridade diferentes, tendo que adequar a fala de acordo com o que estava sendo exposto. Ao interrogar as 11 gestantes sobre o que seria DM2, pelo fato de terem perdido familiares, 2 delas apresentaram-se temerosas em relação à doença, 5 definiram como sendo um problema comum na sociedade contemporânea e 4 comentaram ser uma doença silenciosa e que exige alimentação regrada. Já no que se refere à DMG, todas apresentaram ausência de conhecimento dessa especificidade.
Quanto às dúvidas inerentes à atividade, destacaram-se questionamentos referentes aos alimentos prejudiciais à saúde de uma mulher com DMG e os impactos da doença para a mulher e para o feto. Segundo Schmalfuss (2015), diversas são as implicações causadas pelas restrições alimentares na vida diária de mulheres com DMG e estas incluem desde dificuldades de adaptação à nova dieta até privações importantes na vida diária, principalmente àquelas relacionadas aos momentos de lazer. Para Landim (2008), propor um novo tipo de dieta às gestantes significa conhecer seus hábitos alimentares e criar propostas alternativas que facilitem futuras mudanças, evitando a privação brusca de seus prazeres alimentares. Nesse contexto, o enfermeiro atua como um dos principais agentes na construção da autonomia e no autocuidado das gestantes, na medida em que trabalha com medidas de prevenção e promoção da saúde durante o pré-natal e a sala de espera consiste em um ambiente oportuno para essas intervenções.
A ação resultou em uma devolutiva positiva das mulheres e permitiu um debate construtivo de troca de conhecimentos e experiências. Ressalta-se ainda o interesse das gestantes em ações futuras ao mencionarem temas como câncer de mama e aleitamento materno e que a maioria respondeu corretamente às perguntas realizadas na avaliação oral.
CONCLUSÃO
A discussão sobre os cuidados durante a gestação e doenças crônicas não transmissíveis é essencial para o processo de promoção e prevenção da saúde, pois essas auxiliaram na construção de conhecimento e desenvolvem a autonomia, o senso crítico e o autocuidado na população alvo. Quanto à concepção das acadêmicas, após encarar os desafios, essas julgaram a experiência como necessária para o processo de qualificação profissional e aperfeiçoamento de estratégias de educação em saúde.
REFERÊNCIAS
DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES - SBD (2015 -2016). São Paulo: A.C. Farmacêutica, 2016.
LANDIM, C. A. P.; MILOMENS, K. M. P., DIÓGENES, M. A. R. Déficits de autocuidado em clientes com diabetes mellitus gestacional: uma contribuição para a enfermagem. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) v. 29, n. 3, p. 374-81, 2008.
MENDONCA, F.F.; NUNES, E.F.P.A. avaliação de grupos de educação em saúde para pessoas com doenças crônicas. Trab. educ. saúde, Rio de Janeiro, RJ, v. 13, n. 2, p. 397-409, 2015.
RIBEIRO, C. R. B.; SABÓIA, V.M. Educação popular em saúde com pescadores: uma experiência fora da "zona de conforto" da enfermeira. J. res.: fundam. care. online. v. 7, n. 3, p. 2846-2852, 2015.
SCHMALFUSSI, J. M.; BONILHAII, A. L. L. Implicações das restrições alimentares na vida diária de mulheres com diabete melito gestacional. Rev enferm UERJ, Rio de Janeiro, RJ, v. 23, n. 1, p. 39-44, 2015.