RESUMO
O conceito de atenção humanizada ao parto envolve um conjunto de conhecimentos, práticas e atitudes que visam a promoção do parto e do nascimento saudáveis e a prevenção da morbimortalidade materna e perinatal. A tecnologia e a humanização podem esta interligadas para proporcionar um cuidado adequado à saúde, pois uma não extingue a outra. Objetivou-se conhecer quais as tecnologias em saúde utilizadas por enfermeiros para condução do parto humanizado. Trata-se de revisão integrativa da literatura que teve como pergunta norteadora: quais as tecnologias em saúde utilizadas por enfermeiros na condução do parto humanizado? Os dados foram coletados na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando-se os Descritores em Ciências da Saúde (DECS): cuidados de enfermagem; saúde da mulher; parto obstétrico; parto humanizado e tecnologias. Após a aplicação dos critérios foram selecionados 29 artigos. Realizada a análise minuciosa dos artigos emergiram duas categorias, sendo a primeira intitulada "Tecnologias em saúde utilizadas pelo profissional enfermeiro durante a condução do trabalho de parto e parto"; a segunda, "Fatores limitantes e facilitadores do processo de humanização do cuidado".
INTRODUÇÃO
O processo de parto, compreendido como o trabalho de parto e o parto, é complexo e envolve a equipe de saúde juntamente com a mulher e sua família, em um momento intenso de transformações em suas vidas (FRELLO; CARRARO, 2010). Este momento se caracteriza por ser um processo natural que envolve fatores biológicos, psicológicos e socioculturais. Portanto, constitui para a mulher uma experiência de impacto emocional significativo (LONGO; ANDRAUS; BARBOSA, 2010).
A partir de 1980, iniciou-se um movimento organizado para priorizar as tecnologias apropriadas ao parto, a qualidade da assistência à parturiente e a inutilização das tecnologias danosas. No Brasil, esse movimento recebeu a denominação de humanização do parto (LONGO; ANDRAUS; BARBOSA, 2010). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a humanização do parto compreende um conjunto de práticas que incluem o respeito ao processo fisiológico e a dinâmica de cada nascimento, nas quais as intervenções devem ser cuidadosas, evitando-se os excessos e utilizando-se criteriosamente os recursos disponíveis (OMS, 1996).
O cuidado de enfermagem prestado a mulher no ciclo gravídico puerperal é de fundamental importância à mulher quando ofertado no pilar do cuidado humanizado, sendo, assim o profissional enfermeiro é privilegiado, pois tem a oportunidade de acompanhar a mulher durante todo o processo de trabalho de parto e parto (PEREIRA; BENTO, 2011). Assim, busca-se reunir, por meio de evidências científicas atualizadas, as tecnologias em saúde utilizadas por enfermeiros durante a condução do parto humanizado visando subsídios para a criação de novas ferramentas em saúde e o incentivo ao uso rotineiro das tecnologias em saúde voltadas à humanização do parto.
OBJETIVO
Conhecer quais as tecnologias em saúde utilizadas por enfermeiros para condução do parto humanizado.
METODOLOGIA
Trata-se de revisão integrativa que foi motivada a ser realizada para contribuição no projeto intitulado "Validação de um questionário de avaliação do cuidado à mulher no pré, trans e pós-parto". Segundo Mendes, Silveira e Galvão (2008), a revisão integrativa é uma ferramenta importante no processo de comunicação dos resultados de pesquisas, facilitando a utilização destes na prática clínica, uma vez que proporciona uma síntese do conhecimento já produzido e fornece subsídios para a melhoria da assistência à saúde.
A revisão foi desenvolvida pelas seis etapas propostas por Mendes, Silveira e Galvão (2008). Na primeira foi realizada a identificação do tema e a seleção da hipótese ou questão de pesquisa para a elaboração da revisão integrativa. Buscou-se responder a seguinte questão norteadora: quais as tecnologias em saúde utilizadas por enfermeiros na condução do parto humanizado?
Na segunda, o estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos/amostragem e a busca na literatura. Foram estabelecidos como critérios de inclusão: artigos originais, disponíveis na integra e publicados nos últimos cinco anos (2010 a 2014); redigidos em português, inglês ou espanhol e que abordem temas relacionados ao parto humanizado. Foram excluídas publicações duplicadas, dissertações, teses, revisões integrativas e sistemáticas, guidelines, artigos com método de história contada e artigos que não respondiam à pergunta norteadora do estudo. As bases de dados LILACS, BDENF e SCIELO foram selecionadas no sítio da BVS. A busca ocorreu nos meses de março a maio de 2015, utilizando-se os seguintes descritores disponíveis no DECS: parto humanizado, parto obstétrico, saúde da mulher e tecnologias. Os operadores booleanos utilizados foram "and" e "or". O descritor parto humanizado foi repetido em todos os cruzamentos na tentativa de esgotarem-se todas as possibilidades de estudos abordando este tema. Houve a leitura dos títulos e resumos para verificar a adequação dos artigos com o tema do estudo em questão.
Na terceira, foram definidas as informações a serem extraídas dos estudos selecionados com a leitura dos artigos na íntegra. Para a coleta das informações dos estudos, foi construído um instrumento previamente elaborado adaptado de Ursi (2005). Os dados retirados dos estudos foram: título, autor, ano de publicação, objetivo, metodologia, recomendações e conclusão. A análise dos estudos selecionados se deu da seguinte maneira: a) os artigos foram lidos na íntegra para verificar sua adequação aos objetivos do estudo; b) para coleta de dados foi utilizado o instrumento acima citado para análise do título, autor, ano de publicação, objetivo, periódico, metodologia, recomendações e conclusão dos artigos; c) realizou-se a sintetização das principais contribuições das publicações em relação ao tema estudado, buscando identificar as tendências nos estudos sobre a utilização de tecnologias por enfermeiras na condução do parto humanizado.
Na base de dados LILACS foram encontrados 95 artigos, sendo 24 incluídos na amostra do estudo. Foram excluídos: 05 que não estavam disponíveis na íntegra, 01 dissertação, 07 que não se adequavam à pergunta norteadora do estudo, 12 que abordavam outros temas, 09 revisões, 02 guidelines, 01 com método de história contado e 34 duplicidades, totalizando 71 artigos excluídos da amostra; na SCIELO foram encontrados 13 artigos e nenhum foi incluído na amostra. Os artigos excluídos foram: 01 que não se adequava à questão norteadora, 02 que abordavam outros temas, 01 com método historia contada e 09 duplicidades, totalizando 13 artigos excluídos; na BDENF foram encontrados 70 artigos, em que 05 compuseram a amostra do estudo. Foram excluídos: 04 não disponíveis na íntegra, 06 que não se adequavam à pergunta norteadora, 07 que abordavam outros temas, 02 com método de história contada, 07 revisões e 39 duplicidades, totalizando 65 artigos excluídos. De um total de 178 artigos encontrados, a amostra foi composta por 29 artigos.
Na quarta etapa foi realizada a avaliação dos estudos incluídos por meio de leitura crítica e pela agregação dos dados extraídos por meio do instrumento de coleta de dados. Na quinta etapa foi realizada a interpretação dos resultados por meio da agregação de conteúdos similares que resultaram em categorias que, por sua vez, apresentaram convergências, divergências ou complementaram-se sobre os diversos aspectos do tema em estudo.
Na sexta etapa foi realizada a apresentação da revisão/síntese do conhecimento de maneira categorizada. Para fins de apresentação e discussão emergiram duas categorias - "Tecnologias em saúde utilizadas pelo profissional enfermeiro durante a condução do trabalho de parto e parto" e "Fatores limitantes e facilitadores do processo de humanização do cuidado".
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quanto ao ano de publicação dos estudos, foram identificados artigos de 2010 a 2014 com mais publicações de 2010 a 2012. Em relação aos periódicos, destacaram-se - Escola Anna Nery, Revista Eletrônica de Enfermagem, Texto Contexto de Enfermagem e Revista Enfermagem UERJ e Brazilian Journal of Nursing. Observou-se que 51,7% (15) dos estudos foram publicados em periódicos com Qualis B1, aproximadamente 27,5% (8) em periódicos com Qualis B2 e 24,1% (7) da amostra do estudo em periódicos com Qualis A2 (WEBQUALIS, 2014). Logo, a amostra foi composta por periódicos criteriosos e sistemáticos em seus processos de avaliação, exigindo que as produções científicas apresentem boa qualidade e relevância significativa para os temas abordados.
Quanto ao tipo de estudo, a maioria dos estudos eram pesquisa qualitativa (79,3%), sendo 55,1% (16) descritivo-exploratório, 41,3% (12) descritivos e 6,8% (2) exploratórios.
Em relação aos temas discutidos destacaram-se: cuidado de enfermagem (8), presença do acompanhante no processo parturitivo (5), assistência ofertada a gestante adolescente (5), parto (3), humanização do parto (2), práticas prejudiciais ao parto normal (1), parto domiciliar (1), práticas educativas voltadas ao processo parturitivo (2), cuidado ao binômio mãe-bebê (1) e processo de tomada de decisão pela gestante (1). Observa-se que o tema cuidado de enfermagem (27,5%) é predominante na amostra do estudo. Pode-se afirmar que a assistência de enfermagem obstétrica pode promover o conforto e empoderamento da mulher durante o processo de trabalho de parto e parto, contribuindo para que ela, seu cônjuge e sua família vivenciem o momento do nascimento como único, singular e insubstituível (GUIDA; LIMA; PEREIRA, 2013).
Na categoria "Tecnologias em saúde utilizadas pela equipe de enfermagem durante o trabalho de parto e parto" foram abordados os métodos não farmacológicos de alivio da dor. Pesquisadores afirmam que as formas de relaxamento durante o trabalho de parto são as técnicas de respiração, o banho morno, a deambulação e a massagem lombar. O uso de métodos não farmacológicos para alívio da dor, além de proporcionar conforto à parturiente, evita que o processo fisiológico do parto seja influenciado por substâncias farmacológicas que podem causar efeitos adversos, influenciando de maneira negativa na experiência vivenciada pela mulher (BUSANELLO et al., 2011).
A segunda categoria classificou os fatores em limitantes e facilitadores do processo de humanização do parto. Os fatores facilitadores foram: criação de vínculo entre parturiente e profissional de saúde, ambiente agradável, acolhimento, escuta ativa, comunicação terapêutica, valorização da presença do acompanhante, toque terapêutico, autonomia, individualidade e privacidade; já os fatores limitantes envolveram ausência da criação de vínculo, uso da ocitocina intravenosa, restrição ao leito, imposição da posição horizontalizada a parturiente, desconsideração da mulher de forma holística, restrição da alimentação parto e desconsideração da presença do acompanhante.
CONCLUSÃO
As tecnologias em saúde utilizadas por enfermeiros na condução do parto humanizado encontradas neste estudo foram: banho de aspersão/imersão/térmico, técnicas respiratórias, posição vertical, deambulação, a massagem lombar, movimentação livre da parturiente, plano de parto e exercícios na bola suíça. O enfermeiro obstetra deve utilizar esses métodos para fundamentar a prática profissional, fortalecer a confiança entre a equipe e a parturiente e ofertar à mulher uma visão positiva acerca do processo de parir.
REFERÊNCIAS
BUSANELLO, J.; KEBER, N. P. C.; MENDOZA-SASSI, R. A.; MANO, P. S.;SUSIN, L. R. O.; GONÇALVES, B. G. Atenção humanizada ao parto de adolescentes: análise das práticas desenvolvidas em um centro obstétrico. Rev. Bras. Enferm., v. 64, n.5, p.824-832, 2011.
FRELLO, A. T.; CARRARO, T. E. Componentes do cuidado de enfermagem no processo de parto. Eletr. Enf., v.12, n.4, p.660-8, 2010.
GUIDA, N. F B.; LIMA, G. P. V.; PEREIRA, A. L. F. O ambiente de relaxamento para humanização do cuidado ao parto hospitalar . REME rev. min. Enferm., v.17, n.3, p.531-537, 2013.
LONGO, C. S. M.; ANDRAUS, L. M. S.; BARBOSA, M. A. Participação do acompanhante na humanização do parto e sua relação com a equipe de saúde. Rev. Eletr. Enf, v.12, n.2, p.386-91, 2010.
MENDES, K. D. S.; SILVEIRA, R. C. C. P.; GALVÃO, C. M. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto-Contexto Enferm, v.17, n.4, p.758-764, 2008.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Maternidade segura. Assistência ao parto normal: um guia prático. Genebra, 1996.
PEREIRA, A. L. F.; BENTO, A. D. Autonomia no parto normal na perspectiva das mulheres atendidas na casa de parto. Rev Rene, v.12, n.3, p.471-7, 2011.
URSI, E. S. Prevenção de lesões de pele no perioperatório: revisão integrativa da literatura. 2005. 130f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto (SP), 2005.