IDOSO COM DEMÊNCIA E O CUIDADO DE ENFERMAGEM: RELATO DE EXPERIÊNCIA

GABRIELLY MARIA MESQUITA ALVES

Co-autores: FERNANDA SILVA FARIAS, THAYNÁ CÂNDIDO DAY, THAYNARA FERREIRA LOPES, NARA DA SILVA PINTO e MARIA CÉLIA DE FREITAS
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

IDOSO COM DEMÊNCIA E O CUIDADO DE ENFERMAGEM: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Gabrielly Maria Mesquita Alves 1

Fernanda Silva Farias 2

Thayná Cândido Day 2

Thaynara Ferreira Lopes2

Nara da Silva Pinto2

Maria Célia de Freitas 3

EIXO 4: Enfermagem em Saúde do idoso

RESUMO:

Introdução: As demências são prevalentes em idosos e são responsáveis pela produção de incapacidades e morbidade. Essa condição leva a institucionalização do idoso, que passa a viver sobre os cuidados da equipe de enfermagem. Objetivo: Relatar a experiência das práticas de cuidado de enfermagem dirigidos aos idosos com demência e residente na instituição de longa permanência. Metodologia: trata-se de um relato de experiência, em uma instituição de longa permanência na cidade de Fortaleza, no período de fevereiro a março de 2018, durante a pesquisa do projeto de iniciação cientifica da acadêmica de enfermagem. Relato de experiência: A demência trás danos cognitivos, como desorientação no tempo e espaço, falas desconexas, agressividade, tornando importante os cuidados de enfermagem para a avaliação do impacto da doença, afim de planejar ações que visem a manutenção da autonomia e independência. No entanto, observou-se que os profissionais de enfermagem, não realizavam cuidados específicos e diretos aos idosos demenciados, que dentro da sua condição clínica, necessitam de um olhar mais criterioso para a redução dos comprometimentos que surgem, e que são irreversíveis. Conclusão: Avalia-se a necessidade de uma aprofundamento dos profissionais no tocante as demências, e nas alterações do envelhecimento, afim de proporcionar ao idoso cuidados que visem a sua qualidade de vida.

INTRODUÇÃO

A transição demográfica, é uma realidade de muitos países, na qual ocorre um aumento da população idosa, com 60 anos ou mais de idade. Proporcionalmente a esse fato, é o aumento do número de casos de doenças degenerativas não-transmissíveis, em especial as demências. No Brasil, a prevalência da doença é estimada em 7,1% entre os idosos. Estima-se que a prevalência de demência é de aproximadamente 1.500.000 idosos. (CINTRA; REZENDE; TORRES, 2016).

Aproximadamente 15% das pessoas desenvolvem incapacidade cognitiva progressiva, em média 5% daquelas acima de 65 anos e 20% acima de 80 anos desenvolvem a doença de forma moderada a grave. A demência é comum em idosos, representando um grande problema de saúde pública. Esta doença atinge diferentes funções cognitivas (o raciocínio, a memória, a orientação, o pensamento, a percepção, a atenção, a capacidade de reconhecimento, a fala e a personalidade), sendo considerada, a maior causa de incapacidade e mortalidade. A prevalência da demência se duplica a cada cinco anos depois dos 65 anos, aumento exponencialmente com a idade. Estima-se que a demência contribua com mais de 11,9% dos anos vividos com incapacidade nas pessoas acima dos 60 anos (BERTOLDI; BATISTA; RUZANOWSKY, 2015; BRUM, et al, 2013; SANTANA, et al., 2015).

No idoso com demência, existe uma dependência contínua para o autocuidado, refletida em ações como o mover, caracterizado pela perda progressiva da capacidade de andar, causando a imobilidade. Além, de outras atividades, como banho, vestir-se, alimentar-se (CINTRA; REZENDE; TORRES, 2016). A perda da independência e da capacidade de realizar atividades de vida, aliadas à falta de assistência social, da família e sociedade, e, de políticas públicas para a população idosa, são fatores que proporcionam a institucionalização do idoso. A mudança de ambiente provocada pela institucionalização é uma das situações que desencadeiam a depressão no idoso, apontada, na literatura, como fator de risco para o déficit cognitivo e demência. (BERTOLDI; BATISTA; RUZANOWSKY, 2015)

O enfermeiro participa do cuidado ao idoso em todos os estágios da doença e ainda, orienta a família quanto as complicações da doença, a dependência do idoso e ações que permitam manter o máximo de tempo a capacidade de autocuidado do idoso. Dessa forma, necessidade de cuidados de enfermagem exige-se que seja sistematizado, priorizando aqueles relacionados às atividades de vida diária, com vistas a prevenção de incapacidades e complicações.

OBJETIVO

Relatar a experiência das práticas de cuidado de enfermagem dirigidos aos idosos com demência e residente na instituição de longa permanência.

METODOLOGIA

Trata-se de um relato de experiência que pode ser definido como uma metodologia de observação sistemática da realidade, sem o objetivo de testar hipóteses, mas estabelecendo correlações entre achados dessa realidade e bases teóricas pertinentes (DYNIEWICZ, 2009).

Realizou-se em uma Instituição de longa permanência na cidade de Fortaleza-CE, no período de fevereiro a março de 2018. A experiência ocorreu enquanto a estudante de enfermagem, na realização da coleta de dados referente a pesquisa da bolsa de iniciação científica, no referenciado campo, que trata da avaliação do grau de vulnerabilidade de idosos residentes em uma instituição de longa permanência. A pesquisa permitia, também, a observação das práticas clinicas de enfermagem e chamou a atenção aqueles dirigidas ao idoso residentes com o diagnóstico demência independente do estágio. Parecer do comitê de ética do projeto de pesquisa nº849.116/14.

RELATO DA EXPERIÊNCIA DA PRÁTICA DE CUIDADO DE ENFERMAGEM AO IDOSO DEMENCIADO

As ILPI são instituições governamentais ou não governamentais que acolhem as pessoas idoso, com 60 anos ou mais, quando os familiares não dispõem de condições para o cuidado. A ILPI utilizada como campo de estudo abriga em média 82 idosos observado no período de coleta de dados. Encontra-se, na maioria, idosos com grau de dependência II (idosos com dependência em até três atividades de autocuidado para a vida diária tais como: alimentação, mobilidade, higiene; sem comprometimento cognitivo ou com alteração cognitiva controlada) e III (idosos com dependência que requeiram assistência em todas as atividades de autocuidado para a vida diária e ou com comprometimento cognitivo), segundo critérios estabelecido pela ANVISA (2005). Outra característica do local são os idosos com demência, evidenciado pelas expressões sem nexo, comunicação prejudicada, isolamento social, repetições constantes de falas, desatenção para o autocuidado e/ou ações de agressividade ocasionada pelo sofrimento psíquico.  Além, dos diagnósticos médicos encontrados nos prontuários, de demência do tipo Alzheimer dentre outros como esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão. Todos com forte tendência ao uso de muitos fármacos, em especial os psicofármacos. A instituição conta com equipe de enfermagem distribuída na semana com pelo menos uma a dois enfermeiros por turno e dois técnicos de enfermagem. Além de cuidadores responsáveis pela higiene e alimentação para os idosos com grau de dependência III e instrutores para aqueles com grau de dependência I e II em cada ala.

Nota-se que a maioria dos idosos precisam de alguma ajuda para a realização das atividades básicas e instrumentais de vida diárias. A exemplo; banho, o vestir-se, a alimentação, manter a postura (realizado nas cadeiras de rodas para prevenir danos), administração de medicamentos. Considerando a realidade, exige-se dos profissionais de enfermagem na instituição, planejamento de cuidados direcionados para os idosos com demência individualmente, com vistas a estimulação da autonomia e independência. No entanto, nos momentos de observações, evidencia-se múltiplas questões que inviabilizam esse cuidado; sendo pelo, o não dimensionamento de pessoal de enfermagem, a sobrecarga de trabalho, acentuada pela redução de profissionais, além da idade destes e conhecimento sobre a senescência e processo de demência na vida dos idosos. Tais lacunas tornam-se risco para a integralidade dos cuidados aos idosos, principalmente, aqueles com grau de dependência III ocasionado pela demência.

Observa-se também, que os enfermeiros não têm conhecimento aprofundado sobre gerontologia e geriatria. Portanto, leva-se a ações menos eficazes no planejamento do cuidado, comprometendo ao idoso, por resumirem em ações generalistas e não individualizadas. De acordo com Talmelli (2013) a avaliação clínica de idosos com demência, é necessário ser realizada para verificar a capacidade dos destes de manter as atividades básicas e instrumentais, observando, o impacto da doença na qualidade de vida, para então, estabelecer as metas com vistas a manutenção da autonomia e independência. No entanto, salienta-se durante a observação, que mínimas ações como a conversa, estimulação da marcha, a observação da pele no momento do banho, principalmente com os idosos demenciados que estão acamados, mudança de decúbito, a utilização de escalas como a de Katz (Avaliação das Atividades Básicas de Vida Diária), Mini Exame do Estado Mental (MEEM), Montreal Cognitive Assessment (MOCA), para avaliar o estado mental e a cognição, que fazem parte do cuidado, não são realizados, ou não encontrados descritos nos prontuários. Tornando, basicamente sob a responsabilidade do cuidador na realização de algumas tarefas como a higiene corporal, banho de sol, alimentação.

O profissional enfermeiro deve ser habilitado e pautado na educação em saúde contribuindo para o planejamento, realização e suporte para o cuidado e atendimento as necessidades dos idosos demenciados, a promoção do funcionamento cognitivo e do bem-estar funcional, abrangendo, cuidados com a pele, prevenção de úlceras de pressão, higiene corporal e oral, vestimenta, nutrição e hidratação e administração de medicamentos (PESTANA; CALDAS, 2009). No entanto, as ações de promoção de bem-estar e prevenção de comprometimentos fica a cargo dos fisioterapeutas que estimulam a marcha e mobilidade daqueles idosos com diagnóstico de demência inicial, fonoaudiólogos, com a estimulação da fala e leitura. Pouco se observou as atividades de relacionamento do enfermeiro, como uso de grupo, jogos ou cuidados para estimular a autonomia, memória, raciocínio lógico. Observou-se somente a preocupação com a troca de curativos e prontuário.

CONCLUSÃO

O relato permitiu refletir sobre as ações de enfermagem e fortalecer em cada estudante a necessidade de estudos e aprofundamentos teóricos para planejamento e realização de cuidados, em especial, dos idosos com demência. Embora, no ensino, a aplicação dos cuidados para cada faixa etária, ou mesmo doenças específicas, não serem tão aprofundados, cabe aos profissionais de enfermagem a responsabilidade e compromisso de alargar os conhecimentos para eticamente realizar o cuidado ao ser humano em diferentes contextos da prática clínica, bem como nas diferentes faixas etárias, de forma singular e integral.

No tocante a pessoa idosa, o enfermeiro deve conhecer as alterações do processo de envelhecimento, e suas mais diversas facetas, para que a prática seja fundamentada em ações planejadas e embasadas cientificamente, afim de estabelecer um cuidado individual para cada idoso, especificamente, os com demência.

Ressalta-se também, a necessidade de mais pesquisas relacionadas ao cuidado do idoso com demência pelos profissionais de enfermagem no contexto das instituições de longa permanência, no qual o cuidado torna-se integral e diário. A abordagem da literatura, traz como contexto, não o idoso com demência em si, mas a centralidade no cuidador e na família, ressaltando a sobrecarga do cuidador.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Resolução de diretoria colegiada - rdc nº 283, de 26 de setembro de 2005.

BERTOLDI, J.T.; BATISTA, A.C.; RUZANOWSKY, S. Declínio cognitivo em idosos institucionalizados: revisão de literatura. Cinergis, v.16, n.2, p. 152-156, 2015.

BRUM, A.K.R. et al. Programa para cuidadores de idosos com demência: relato de experiência. Rev Bras Enferm, Brasília, v.66, n.4, p.  619-624, jul./ago., 2013.

CINTRA, M.T.G.; REZENDE, N.A.; TORRES, H.O.G. Advanced dementia in a sample of Brazilian elderly: Sociodemographic and morbidity analysis. Rev Assoc Med Bras, v.62, n.8, p.735-741, 2016.

GRATÃO, A.C.M., et al. Proposta de protocolo de assistência de enfermagem ao idoso demenciado. Rev Enferm UFPE online, Recife, v.8, n.4, p.879-88, abr., 2014

PESTANA, L.C.; CALDAS, C.P. Cuidados de enfermagem ao idoso com Demência que apresenta sintomas comportamentais. Rev. Bras. Enferm., Brasília, v.62, n.4, p. 583-587, jul./ago., 2009.

SANTANA, I. et al. Epidemiologia da Demência e da Doença de Alzheimer em Portugal: Estimativas da Prevalência e dos Encargos Financeiros com a Medicação. Acta Med Port, v. 28, n.2, p. 182-188, mar./abr., 2015.

TALMELLI, L.F.S., et al. Alzheimer's disease: functional decline and stage of dementia. Acta Paul Enferm., v.26, n.3, p. 219-225, 2013.

 

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