INTRODUÇÃO
O conceito parto humanizado tem incomodado os profissionais de saúde e clientes, pois a literatura aponta que ainda não há um consenso na definição desse conceito e ainda existe muito preconceito. Muitos profissionais consideram que apenas tratar bem já se configura como um parto humanizado, outros ainda relatam que todo parto de humano é por si só humanizado (NAGAHAMA; SANTIAGO, 2011). Dessa forma, percebendo a importância de analisar este conceito tão comentado entre os profissionais de saúde e considerando que é a partir do conhecimento dos conceitos fundamentais de uma ciência que se pode compreendê-la, delimitou-se a seguinte questão norteadora: Quais os antecedentes, atributos e consequentes do conceito parto humanizado no trabalho em saúde? Portanto, mostra-se importante analisar o conceito parto humanizado, visto que aquele que afirma e aquele que pergunta devem ter bem claro qual o significado do conceito empregado (DAU, 2006).
OBJETIVO
Analisar o conceito parto humanizado para determinar seus atributos críticos (características específicas), antecedentes e consequentes a fim de estabelecer fundamentos para a aplicação do conceito na pesquisa.
METODOLOGIA
O estudo adotou como estratégia de análise de conceito a técnica proposta por Walker e Avant (1995) que compreende 8 (oito) etapas adaptadas das 11 sugeridas por Wilson em 1963, que são: Seleção do conceito, objetivos da análise, identificação dos usos do conceito, determinação dos atributos definidores, identificação de antecedentes e consequentes, desenvolvimento de casos modelo, desenvolvimento de outros casos, definição de referências empíricas. Neste estudo foram realizadas as cinco primeiras etapas. A primeira etapa consistiu na seleção do conceito parto humanizado, que identificou os diversos usos do conceito parto humanizado e os atributos, antecedentes e consequentes, utilizando de artigos de periódicos, como MEDLINE, LILACS e SCIELO. Usou-se como descritores: parto humanizado e parto normal disponível nos DeCS/Mesh. Os dados foram coletados em junho de 2016 e o período das buscas foram dos anos de 2006 a 2016. Os critérios de inclusão dos artigos foram: responder a questão norteadora e estar disponível na íntegra nos idiomas Português, Inglês ou Espanhol. Excluíram-se os editoriais e carta ao editor, revisões integrativas, artigos reflexivos, dissertações e teses. Após a leitura dos estudos foram incluídos 19 artigos e registrou-se as informações necessárias, buscando as aplicações do conceito e os elementos constituintes do conceito (antecedentes, atributos e consequentes), assim os dados foram apresentados em quadros e posteriormente analisados à luz da literatura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com a busca realizada na literatura foi identificado que o conceito parto humanizado é amplo, polissêmico e envolve um conjunto de conhecimentos, práticas e atitudes que visam à promoção do parto e do nascimento saudáveis e a prevenção da morbimortalidade materna e perinatal e que seu conceito esbarra sempre ou confunde-se com o conceito de humanização da própria assistência hospitalar, diferenciando-se por meio das características próprias do atendimento à parturiente. Constata-se também ao analisar as definições do conceito que existe uma preocupação com relação ao respeito a parturiente, enfatizando a oferta de um cuidado singular e respeito a fisiologia do parto (NAGAHAMA; SANTIAGO, 2011).
Sobre os atributos definidores, ao seguir as 8 etapas, as características fundamentais identificadas foram: Respeito à fisiologia do parto; Respeito à mulher; Evento natural; Uso de boas práticas (tecnologias); Uso de práticas baseadas em evidência; Cuidado individualizado; Redução da medicalização no parto; Autonomia no parto; Acompanhante de sua escolha; Direitos da mulher respeitados e Integralidade da assistência. Os antecedentes foram: Acolhimento; Saber científico e técnico; Vínculo; Estrutura física adequada; Comunicação; Segurança; Competência e Habilidades. Por fim, como consequentes do conceito: Parto saudável; Diminuição do período de internação; Redução de cesáreas; Satisfação da parturiente; Bem-estar; Redução de riscos; Conforto físico e psíquico; Redução de complicações obstétricas; Liberdade de movimentação; Redução da ansiedade e de tensões e Redução da morbimortalidade materna e perinatal.
No contexto dos atributos identificados, o termo humanização possui um conteúdo importante de questionamento às práticas de saúde excessivamente intervencionistas, julgadas muitas vezes práticas desumanizadoras, ao desconsiderarem as condições fisiológicas da vida e a importância do apoio emocional na atenção em saúde. Especialmente na atenção ao parto, segundo Machado (2006), verifica-se uma discriminação silenciosa na prática institucional, porque é realizada no contexto altamente valorizado do parto hospitalar, que representa hoje o acesso às condições de segura sobrevivência para a mulher e seu filho.
Durante a análise da literatura, constatou-se que os conceitos boas práticas de atenção ao nascimento e parto natural apareceram como relacionados em alguns estudos e como atributos em outros (MACHADO; PRAÇA, 2006). Algumas das boas práticas de atenção aos partos também considerados como práticas humanizadoras estão descritas nos artigos como: ser chamada pelo nome, ser acolhida, ouvida, ter as vontades respeitadas, receber orientações, além de ter liberdade de movimentação e acompanhante de sua escolha.
Com relação ao parto natural, este é considerado como o parto tradicional assistido em ambiente hospitalar, no qual são utilizados todos os procedimentos e intervenções protocolados como "de rotina", diferenciando-se do conceito parto humanizado por conta de suas características principais como o respeito ao parto fisiológico, evitando condutas e intervenções desnecessárias, de forma a considerar as dimensões culturais, emocionais e sociais da mulher (MONTE; GOMES; AMORIM, 2011).
Vale ressaltar, que muitos estudos relatam a importância do profissional enfermeiro para a realização do parto humanizado, configurando-se como um profissional essencial para a promoção do parto e nascimento saudável ao usar seu conhecimento técnico científico em conjunto com seus preceitos éticos, de compromisso com a profissão e com a vida humana, proporcionando uma assistência digna e com qualidade.
CONCLUSÃO
A análise do conceito parto humanizado permitiu observar que muitos outros conceitos estão ligados ao seu. Esse fato dificulta a determinação dos atributos críticos, pois outros conceitos como parto natural, Boas práticas, estão arraigados aos seus.
Considerando particularmente o conceito parto humanizado constatou-se que este encontra-se diretamente relacionado ao respeito a individualidade da mulher no momento do parto, é saber ver e escutar, permitindo a adequação da assistência segundo sua cultura, crenças, valores e diversidades de opiniões das mulheres, valorizando o processo fisiológico do parto e nascimento.
Dentro deste contexto, cabe aos gestores, profissionais de saúde e comunidade reivindicarem a implantação de políticas públicas, destinadas ao atendimento da mulher de forma mais humanizada no momento em que ela se encontra mais vulnerável e carente de apoio emocional, como durante a maternidade.
REFERÊNCIAS
DAU, S. Ciência: pesquisa, métodos e normas. 2.ed. Juiz de Fora: Alexandria; 2006, 184 p.
MACHADO, N. X. S; PRAÇA, N. S. Centro de parto normal e a assistência obstétrica centrada nas necessidades da parturiente. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 40, n. 2, p.274-279, jun. 2006 .
MONTE, N.L; GOMES, J.S; AMORIM, L.M.M. A percepção das puérperas quanto ao parto humanizado em uma maternidade pública de Teresina-PI. Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.3, p.20-24, Jul-Ago-Set. 2011.
NAGAHAMA, E. E. I.; SANTIAGO, S. M. Parto humanizado e tipo de parto: avaliação da assistência oferecida pelo Sistema Único de Saúde em uma cidade do sul do Brasil. Rev. Bras. Saude Mater. Infant., Recife, v. 11, n. 4, p.415-425, 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151938292011000400008&lng=en &nrm=iso Acesso em: 20 out. 2015.
WALKER, L.O; AVANT, K.C. Concept development. In: Walker LO, Avant KC. Strategies for theory construction in nursing. 3rd ed. Norwalk: Appleton & Lange;. p. 35-78, 1995.