INTRODUÇÃO
O envelhecimento é um processo natural que ocorre durante o curso de vida do indivíduo e submete o corpo humano a inúmeras mudanças físicas e funcionais, com repercussões nas condições de saúde física e psicológica. Muitas dessas alterações são progressivas, como aquelas na estrutura da pele e dos músculos, as quais colocam o idoso em risco para o desenvolvimento das Lesões por Pressão (LP) (LIMA; DELGADO, 2010).
Apesar das ações preventivas, a prevalência de LP em idosos se mantem tanto em domicílio, como também em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) e em hospitais. Em um estudo de caráter prospectivo realizado em três cidades do estado de Minais Gerais, com indivíduos de idade superior ou igual a 60 anos, residentes em quatro ILPI, observou-se uma incidência de 39,4% (SOUZA; SANTOS, 2010). Outro estudo retrospectivo desenvolvido na cidade de Fortaleza/CE, em uma ILPI, obteve prevalência média de 18,8%, com variação de 11,1% a 23,2% (FREITAS et al., 2011).
O cuidado das lesões por pressão ocupa o terceiro lugar em gastos em saúde e caso não sejam tratadas adequadamente podem causar nos idosos: dor, imobilidade, dependência e infecções. Por isso é fundamental que o cuidado clínico do enfermeiro seja embasado cientificamente, com um referencial teórico, para realizar julgamento clínico e raciocínio crítico e assim, escolher o mais adequado tratamento para lesões. Cuidado clínico compreendido como o pensar e fazer do enfermeiro na prática cotidiana de cuidado ao ser humano.
OBJETIVO
Refletir sobre o cuidado clínico do enfermeiro a pessoa idosa com lesão por pressão.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo teórico-reflexivo o qual se fundamentou em uma busca na literatura com foco nos estudos que contemplasse o cuidado clínico de Enfermagem a pessoa idosa, além da percepção dos autores a respeito do assunto abordado. O estudo possui a seguinte questão norteadora: qual o cuidado clínico de enfermagem no tratamento da lesão por pressão na pessoa idosa?
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entende-se que o cuidado clínico constitui-se em uma perspectiva de estabelecer novas relações entre os sujeitos envolvidos no processo do cuidado, na criação de espaços onde a subjetivação possa ser construída a partir dos desejos desses sujeitos, e do respeito às formas de se conceber e significar a saúde e a doença, fora das classificações e fragmentações assistenciais que historicamente tentam enquadrar os usuários dos serviços (SILVEIRA et al., 2013).
Essa forma de conceber o cuidado em saúde reconhece na escuta uma ferramenta essencial à construção de um projeto terapêutico centrado no sujeito e em suas perspectivas de cuidado. Os processos de trabalho em saúde, e os da enfermagem em particular, passam a incorporar os saberes e valores desses mesmos sujeitos na elaboração de ações voltadas para prevenção, cura e reabilitação (SILVEIRA et al., 2013) .
Reportando a pessoa idosa com lesão por pressão, o enfermeiro deve elaborar um plano de intervenções, considerando as condições inerentes do envelhecimento: alterações na textura da pele, aumento no tempo para cicatrizar, diminuição na sensibilidade e sensações dolorosas, redução das repostas inflamatórias. Observando também os demais fatores de riscos para lesão por pressão que na idade avançada aumentam o comprometimento tissular (GALHARDO, 2014).
Além do cuidado direto com a lesão, o enfermeiro deve estar atento as comorbidades, a nutrição, as incontinências (urinária e anal), a desidratação e a imobilidade. A restrição no leito é considerada, pelos consensos internacionais, evidência A para o desenvolvimento de lesões nas pessoas idosas. Geralmente a condição de acamada relaciona-se ao comprometimento osteoarticular, doenças neurológicas dentre outras (SERPA; SANTOS; PARANHOS, 2014). Sem o alívio da pressão, a área lesionada poderá ampliar a destruição dos tecidos adjacentes e aumentando o risco para novas lesões. Mobilizá-lo a cada 2 horas e escolher corretamente a superfície de suporte, viabilizará o fluxo sanguíneo local favorecendo a cicatrização das lesões prevenindo a incidência de LP noutras áreas (ROGENSKI, 2014).
Durante o tratamento dessa lesão o enfermeiro deve otimizar o manejo para prevenir complicações, tais como infecções e desvitalizações recidivantes, utilizando coberturas atraumáticas impregnadas com antimicrobianos (MORO; CALIRI, 2016). Em lesões localizadas nas regiões glúteas e sacra, os efluentes (urina e fezes) devem ser desviados para evitar a contaminação no leito da ferida, é recomendado o uso de dispositivos para incontinência masculina e incontinência anal, e fraldas (BORGES;FERNANDES, 2014).
Outros aspectos, contribuintes para o processo de cicatrização, devem ser considerados pelo enfermeiro que cuida do idoso: um suporte nutricional adequado, a hidratação adequada, manutenção da pressão arterial, seleção adequada das coberturas. Portanto é imprescindível protocolos de prevenção e tratamento de feridas direcionados a pessoas idosas e que enfermeiros possam manejar atendendo a todas as peculiaridades inerentes ao processo cicatricial nessa idade ((ROGENSKI, 2014; GALHARDO, 2014).
Assim, é necessário que a prática do enfermeiro seja baseada em evidências e cunho científico, visto que o enfermeiro avalia as condições clinicas da pessoa idosa, bem como a lesão da pele. Após essa etapa, organiza e planeja o tratamento com a cobertura indicada, observando as melhorias.
CONCLUSÃO
Após a realização dessa análise reflexiva pode-se afirmar que o cuidado clínico de enfermagem como prática da ciência da enfermagem, consolidou-se com um volumoso constructo de conhecimento científico, permitindo um cuidado à pessoa idosa com lesão por pressão de qualidade e resultados positivos.
O cuidado clínico do enfermeiro a pessoa idosa com lesão por pressão, deve ser fundamentado por evidências científicas. Esse profissional ao elaborar protocolos e planejar intervenções para atender o indivíduo, contribuirá para maior visibilidade do serviço de enfermagem pela qualidade no atendimento prestado.
A pessoa idosa pleiteia do enfermeiro uma atenção diferenciada, com planejamentos intervencionistas que abordem os aspectos inerentes da idade. Quando esses indivíduos possuem lesões o cuidado é redobrado, cabendo ao profissional agir com eficácia. A excelência no tratamento de lesões requer do enfermeiro capacitação permanente, atualização de protocolos por meio dos guidelines internacionais, realização de pesquisas para aprimorar suas condutas e conhecimento sobre a grande diversidade de produtos e inovações tecnológicas para tratamento de feridas.
Outrossim, diz respeito a relevância de se promover condições favoráveis para recuperação do paciente, tais como suporte nutricional e realizar avaliações frequentes, não apenas dos resultados obtidos, mas também da satisfação do paciente e qualidade dos resultados. Sabendo que a ausência ou a presença da LP constitui como indicador de qualidade, evidencia-se assim uma intervenção imperiosa.
Por fim, sabe-se que o tratamento das lesões por pressão implica em uso de tecnologia avançada em coberturas, uma vez que tais tecnologias viabilizam um ambiente favorável à cicatrização das lesões. Assim, esses aspectos nos dissuadem ao emprego correto da prescrição de enfermagem e tudo se engendra a partir de uma investigação adequada da situação do paciente.
Ressalta-se que não se pretendeu, a partir dessa reflexão, propor um tratamento revolucionário para as lesões por pressão, no entanto, destacamos a necessidade de pensar criticamente nosso conhecimento produzido, objetivando assim, acautelar as bases sobre as quais estão construindo a Ciência da Enfermagem.
REFERÊNCIAS
BORGES, E.L.; FERNANDES, F.P. Prevenção de Úlcera por pressão. In: Domansky RC, Borges EL. Manual de prevenção de lesões de pele: recomendações baseadas em evidências. 2 ed. Rio de Janeiro: Rubio, p. 152-214, 2014.
FREITAS, M.C. et al. Úlcera por pressão em idosos institucionalizados: análise da prevalência e fatores de risco. Rev Gaúcha Enferm, v. 32, n. 1, p. 143-50, 2011.
GALHARDO, V. Envelhecimento e Úlcera por Pressão. In: BLANES, L.; FERREIRA, L.M. (eds). Prevenção e tratamento de úlcera por pressão. São Paulo. Editora Ateneu, p. 45-8, 2014.
LIMA, A.P.; DELGADO, E.I. A melhor idade do Brasil: aspectos biopsicossociais decorrentes do processo de envelhecimento. Rev Ulbra Movimento, v. 1, n. 2, p. 76-91, 2010.
MORO, J.V.; CALIRI, M.H.L. Prevalência de Úlcera por Pressão em Pacientes em Risco e o Cuidado no Domicílio após Alta Hospitalar. Rev ESTIMA, v. 14, n. 1, p. 15, 2016.
ROGENSKI, N.M.B. Lesões por pressão: definição, fatores de risco, epidemiologia e classificação. In: BLANES, L.; FERREIRA, L.M. (eds).Prevenção e tratamento de úlcera por pressão. São Paulo. Editora Ateneu, p. 1-9, 2014.
SERPA, L.F.; SANTOS, V.L.C.G.; PARANHOS, W.Y. Escalas de avaliação de risco para o desenvolvimento de úlceras por pressão. In: Blanes L,Ferreira LM (eds). Prevenção e tratamento de úlcera por pressão. São Paulo. Editora Ateneu, p. 13-24, 2014.
SILVEIRA, L.C. et al. Cuidado clínico em enfermagem: desenvolvimento de um conceito na perspectiva de reconstrução da prática profissional. Esc Anna Nery, v. 17, n. 3, p. 548-54, 2013.
SOUZA, D.M.; SANTOS, V.L.G. Incidence of pressure ulcers in the institutionalized elderly. J Wound Ostomy Continence Nurs., v. 37, n. 3, p. 272-6, 2010.