PREVENIR PARA NÃO REMEDIAR: DISCURSOS PRODUZIDOS PELA JUVENTUDE SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA MULHER VIA WEBRÁDIO

VINÍCIUS RODRIGUES DE OLIVEIRA

Co-autores: ARETHA FEITOSA DE ARAÚJO, NATÁLIA BASTOS FERREIRA TAVARES, MAYNNA JULIANNA DAVID DE CARVALHO OLIVEIRA, MARIA LUIZA SANTOS FERREIRA e RAIMUNDO AUGUSTO MARTINS TORRES
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

PREVENIR PARA NÃO REMEDIAR: DISCURSOS PRODUZIDOS PELA JUVENTUDE SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA MULHER VIA WEBRÁDIO

 

TRABALHO PARA PRÊMIO: GRADUAÇÃO - EIXO 1: TECNOLOGIAS, INOVAÇÕES E DESAFIOS NO CUIDADO DE ENFERMAGEM   

 

INTRODUÇÃO

A violência é um fenômeno de ocorrência global, que se agrava ao envolver os aspectos de gênero. As mulheres são vítimas mais frequentes desse problema, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 35% delas em todo mundo sofrem agressão física e/ou sexual, sendo apontado como principal violentador, o cônjuge (WHO, 2013).

São apontados alguns fatores de riscos para que a violência seja praticada, são eles: baixa escolaridade, uso nocivo de álcool, violência sexual ocorrida durante a infância e desigualdade de gênero. A autonomia feminina quanto aos aspectos financeiro e social, é apontada como importante elemento para que a mulher não seja submetida a maus-tratos, além disso, a violência entre parceiros jovens pode ser atenuada quando utilizadas medidas educativas (OMS, 2014). 

Partindo do pressuposto da educação como forma de combater a violência, faz-se necessário que haja uma mobilização para que esse sistema atue como forma de propagação da luta contra violência  e atinja os diversos públicos,  mas com ênfase nas juventudes (LIMA et al., 2016).

A adolescência é um período demarcado por mudanças e consequentemente de dúvidas sobre si, seu corpo e sexualidade, que permeiam ambos os sexos, o surgimento de relacionamentos muitas vezes é comum nessa fase,  estudos apontam que grande parte desses são relações abusivas que corroboram violência disfarçada (OLIVEIRA , et al., 2015).

  A tecnologia tem se consolidado como uma ferramenta eficaz  e atrativa para os jovens,  sendo campo fértil para inúmeros debates e em uma multiplicidade de situações, proporcionando elaboração de circunstâncias para a juventude construir conhecimento, dessa forma o uso de métodos educativos tecnológicos são  totalmente indicados pois atuam positivamente na vida do adolescente (VALENTE, 2014).

Objetiva-se por meio deste estudo relatar a experiência através do projeto de extensão "Em sintonia com a saúde", veiculado a Web Rádio AJIR, sobre os discursos produzidos pelos jovens em relação à violência contra mulher.

METODOLOGIA

O presente estudo se caracteriza como descritivo, do tipo relato de experiência, baseado na vivência de um articulador pedagógico do Projeto de Extensão, intitulado: EM SINTONIA COM A SAÚDE - S@S que acontece de forma online para os jovens do Ceará todas as quartas feiras as 16:00 horas em um estúdio na Universidade Estadual do Ceará - UECE. O grupo de alunos que fazem cenário para essa experiência são jovens da E.E.E.P. Amélia Figueiredo de Lavor, situada em Iguatu-Ceará, mediados através da Web Rádio AJIR idealizada pelo Laboratório de Práticas Coletivas em Saúde - LAPRACS/CCS da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

A experiência deu-se no mês de março de 2019, com a exibição do programa no qual a temática abordada foi violência contra mulher, os mediados por dois enfermeiros no programa. O programa iniciou-se ás 16 horas contando com a participação de diversas escolas do estado do Ceará que também compõem a rede de participação da Web Rádio AJIR, da Escola Amélia Figueiredo de Lavor estavam conectados 8 alunos, pertencentes aos cursos de enfermagem e administração, junto eles o articulador pedagógico que tinha como função transmitir via WhatsApp e tirar as dúvidas dos alunos quanto a temática discutida.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

         A transmissão da aula temática deu-se através do site www.ajir.com.br, sendo este o site oficial da Web Rádio Ajir, além disso, o programa foi propagado através das mídias sociais facebook, instagram, twitter e do aplicativo móvel Whatsapp, que por sua vez funcionou como canal para que se pudesse ser feita a comunicação entre os debatedores do programa e os alunos.

      Os jovens ao adentrarem o espaço virtual da web rádio se depararam com a pergunta âncora que é feita logo no início do programa e aborda sobre a temática que será discutida, funcionando assim como meio de estímulo inicial à participação dos estudantes, pois ao final são premiados alguns estudantes que responderam o questionamento, no momento em questão a pergunta âncora foi: Qual a lei que pune a violência contra mulher?

Tabela 1- Questionamentos dos estudantes sobre a temática violência contra mulher

Perguntas dos jovens durante o programa

Estudante 1

"Como ajudar uma  mulher que sofre violência?"

Estudante 2

"Existe uma lei específica contra o feminicídio no Brasil?"

Estudante 3

"Como atua a delegacia da mulher?"

Estudante 4

"A política de saúde da mulher dá suporte para que os profissionais de saúde possam atuar em casos de violência contra mulher?"

Estudante 5

"Como os profissionais de saúde podem ajudar a diminuir o número de casos de generocídio no Brasil?"

Estudante 6

"Existe algum tipo específico de violência primária, que abra espaço para outros tipos de violência?"

Estudante 7

"Qual a diferença entre femismo e feminismo?"

Estudante 8

"Recentemente  saiu na mídia uma declaração da ministra sobre menino veste azul e menina veste rosa, isso influencia de alguma forma no feminismo?"

Fonte: Arquivos extraídos da rede de comunicação da Web Rádio Ajir via whatsapp, 2019.

      As falas dos alunos nos revelam uma preocupação  em cuidar, acolher e reconhecer a mulher vítima de violência, porém existe grande dificuldade no reconhecimento e na denúncia desses casos, principalmente quando se referimos a  de violência doméstica pois ainda prevalece na sociedade uma visão arraigada da família como instituição sagrada e privada,  tendo a mulher como propriedade do marido e submissa a ele, não permitindo assim abertura para que se  possa realizar intervenções, abrindo espaço para que a situação se agrave, chegando ao ápice da situação o feminicídio  (MENEZES et al., 2014; TOKUDA; PERES; ANDREO, 2016).

       Vale ressaltar que a dificuldade de reconhecimento da violência seja ela de qualquer tipo, não assenta apenas sobre as pessoas leigas, mas também sobre os profissionais de saúde, pois há um entendimento por parte destes que só é possível identificar a violência física (MACHADO, 2017). Durante a exibição, ficou percebido a inquietude em relação a atuação do profissional  de saúde, pois se encontravam no recinto em sua grande maioria  estudantes do curso  técnico em enfermagem, explicitou-se suas preocupações através das perguntas que buscavam entender como funcionava o modo de denuncia, atuação de órgãos relacionados e o papel do trabalhador de saúde.

         É sabido que a violência contra as pessoas do sexo feminino se enquadram como uma adversidade que necessita de ações conjuntas de diversos setores, principalmente  saúde e educação para disseminar o combate a esse tipo de ação, outra estratégia que ascendeu nesses últimos anos são os movimentos sociais que pregam o empoderamento feminino, destaca-se o feminismo. Esse movimento busca viabilizar a igualdade  de direitos entre  mulheres e homens, atuando também  no combate às iniquidades advindas dessa relação de proporção desajustada e persistente na sociedade (VIEIRA, 2016; SANT'ANNA, 2018).

      A Web Rádio tem se firmado como relevante meio para construção de novos saberes e orientações em saúde, essencialmente para os alunos que fazem parte do projeto em Sintonia com a Saúde - S@S. Através da vivência gerou-se não apenas meros discursos, mas (trans) formação das percepções e de análises mediante a  situação discutida, além de ampliar a capacidade de criticidade dos participantes (TORRES et al., 2015)

 CONCLUSÃO

O momento promovido via Web rádio permitiu a sensibilização dos jovens acerca da violência contra mulher, tornando-os alerta para quaisquer tipos de manifestação da mesma. Destaca-se ainda a formação de agentes disseminadores dessas informações em seus lares e ambientes de convívio social, por meio da reprodução do programa estimulou-se o combate à problemática em questão, atitude que quando posta em prática implicará na transformação da realidade. 

REFERÊNCIAS

LIMA, L. A. A; MONTEIRO, C. F. S; SILVA JÚNIOR, F. J. G; COSTA, A. V. M. Marcos e dispositivos legais no combate à violência contra a mulher no Brasil. Revista de Enfermagem Referência. P.139-146, 2016.

MACHADO, M.E.S.; RODRIGUES, L.S.A.; FERNANDES, E.T.B.S.; SILVA, J.M.; SILVA, D.O.; OLIVEIRA, J.F.; Perception of health professionals about violence 209 against women: a descriptive study. Online braz j nurs. Rio de Janeiro, 2017. 16 (1):209-217.

MENEZES, P.R.M.; LIMA, I.S.; CORREIA, C.M; SOUZA, S.S.; ERDMANN, A.L.; GOMES, N.P. Processo de lidar com a violência contra as mulheres: coordenação intersetorial e atenção integral. Saude soc. São Paulo, v. 23, n. 3, p. 778-786, setembro de 2014.

OLIVEIRA, R.N.G.; GESSNER, R.; BRANCAGLIONI, B.C.A.; FONSECA, R. M. G. S.; EGRY, E.Y. A prevenção da violência por parceiro(a) íntimo(a) na adolescência: uma revisão integrativa. Rev Esc Enferm USP. 2016;50(1):134-43.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Relatório Mundial Sobre a Prevenção da Violência. São Paulo, 2014.   Disponível em: apps.who.int/iris/bitstream/10665/ 145086/5/9789241564793_por.pdf. Acesso em 05 de abril de 2019.

SANT'ANNA T.F. O empoderamento das mulheres e a lei maria da penha como tecnologia de gênero: possibilidades com os estudos feministas e de gênero para o serviço social. Temporalis. Brasília, n. 35, jan./jun. 2018.

TOKUDA, A.M.P.; PERES, W.S.; ANDREO, C. Família, Gênero e Emancipação Psicossocial. Psicol cienc. prof. Brasília, v. 36, n. 4, p. 921-931, dezembro de 2016. 

TORRES, R. A. M. et al. Comunicação em saúde: uso de uma web-rádio com escolares. Journal of Health Informatics, v. 7, n. 2, 2015.

VIEIRA, M. I. O feminismo e seus destinos. Revista aSEPHallus de Orientação Lacaniana. Rio de Janeiro, 11(22), 78-85, mai. a out. 2016. Disponível em <http://www.isepol.com/asephallus/numero_22/pdf/7-O_feminismo_e_seus_destinos.pdf. Acesso em 03 de abril de 2019.

VALENTE, J. A. A Comunicação e a Educação baseada no uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação. Revista UNIFESO - Humanas e Sociais Vol. 1, n. 1, pp. 141-166.  2014.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Global and regional estimates of violence against women prevalence and health effects of intimate partner violence and non-partner sexual violence. Geneva: WHO; 2013.