INTRODUÇÃO
A tuberculose (TB) é uma das principais causas de morte no mundo dentre as doenças infecciosa, mais de 2 milhões de óbitos e 8 milhões de novos casos por ano estão associados à tuberculose. Causada pelo Mycobacterium tuberculosis, essa doença apresenta um sério impacto no País, com a estimativa anual de 129.000 novos casos. Porém, a rede de serviços de saúde notifica apenas 80 mil a 90 mil casos clínicos. O Brasil apresenta o mais elevado número de casos da América Latina (53,4 novos casos/100.000 habitantes), sendo o sexto país do mundo com maior incidência de TB (ROSSETTI, et al., 2002). O esquema básico de tratamento da tuberculose é o RHZE (rifampicina, isoniazida, pirazinamida, etambutol, respectivamente).
Vale ressaltar que a TB pode ser classificada como drogarresistente (TBDR), caso inclua um dos seguintes padrões de resistência a fármacos antituberculose: monorresistência (resistência a um medicamento do esquema básico), polirresistência (resistência a dois ou mais dos medicamentos, exceto a associação de rifampicina e isoniazida), multirresistência (resistência a pelo menos rifampicina e isoniazida) e resistência extensiva (resistência a rifampicina e isoniazida, uma fluoroquinolona e a, pelo menos, um dos medicamentos injetáveis de segunda linha) (VIANA; REDNER; RAMOS, 2018). Nesse sentido surge o questionamento: como se dá a frequência dos diferentes tipos de entrada no desfecho da tuberculose drogarresistente?
OBJETIVO
Descrever o a frequência dos diferentes tipos de entrada no desfecho da tuberculose drogarresistente.
METODOLOGIA
Estudo transversal, realizado em Fortaleza-CE no período de abril de 2019. Foram utilizados dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação para Tuberculose (SINAN-TB) de pessoas notificadas com TB no estado do Ceará durante o período de janeiro de 2001 a dezembro de 2017. Foram utilizadas, nesse estudo, variáveis oriundas das fichas de notificação e acompanhamento do paciente. Como variável desfecho considerou-se o encerramento TBDR (opção de número 7 da ficha de acompanhamento). Como variável preditora, considerou-se o tipo de entrada da pessoa no serviço de saúde.
Os dados foram coletados na Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (SESA) e gravados em CD. Para análise de dados, considerou-se a estatística descritiva com o uso de frequências simples e relativas. Os dados foram tabulados e analisados com auxílio do software Stata 12. Pesquisa realizada dentro dos preceitos da ética em pesquisa conforme Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), sendo assim aceita por Comitê de Ética em Pesquisa sob número 2.687.046.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o período de coleta, foram identificadas cerca de 74.000 fichas de notificação. No aspecto "tipo de entrada", foram 60.614 casos novos, 5.028 do tipo recidiva, 4.302 reingresso pós-abandono, 843 não sabe e 3.157 foram transferências. Referente ao aspecto "desfecho da tuberculose resistente a medicamentos", verificou-se resistência em 0,35% (n=210) dos pacientes dentre os casos novos, 1,85% (n=93) nos casos de recidiva, 1,16% (n=50 )nos que reingressaram após o abandono, 0,59% (n=5) não sabe e 0,95% (n=30) dos oriundos de transferência.
Assim como na TB sensível, o abandono é um dos principais problemas no tratamento da TBDR. Dentre os fatores relacionados ao abandono destacam-se a toxicidade dos medicamentos, longa duração do processo e outros aspectos socialmente determinantes. Um estudo realizado na África do Sul, em 2006 destacou o vínculo entre paciente e profissional de saúde, o uso de drogas e os fatores socioeconômicos como fatores mais significativos associados ao abandono, levando a formas resistentes de TB. Embora a TB tenha tratamento gratuito e uma alta eficácia de cura, ainda é elevado o número de casos que evoluem para óbito e resistência. Além disso deve ser dado um suporte adicional e uma atenção especial aos os pacientes previamente tratados no início de um novo tratamento para que se verifiquem e abordem as questões que contribuíram para o abandono e dessa forma, evitar desfechos graves como a resistência e enfatizar a importância da adesão e conclusão do processo (VIANA; REDNER; RAMOS, 2018).
Tratamentos irregulares e abandono são responsáveis pela maioria dos casos de multirresistência mundialmente. No Brasil, 96% dos casos de resistência notificados são adquiridos dessa forma, sendo que mais da metade tem um histórico de três ou mais tratamentos prévios para TB, com lesões cavitárias bilaterais em 65% dos casos, e coinfecção pelo HIV de 7%. Faz-se necessário uma melhor avaliação no problema do abandono persistente do tratamento da TB sensível ou resistente, e deve envolver profissionais de saúde (incluindo a saúde mental), sociedade civil, profissionais do Judiciário e outros setores do Governo, principalmente porque abandonos sucessivos e/ou recusas reiteradas em submeter-se aos tratamentos preconizados podem levar ao desenvolvimento de bacilos extensivamente resistentes (BRASIL, 2011).
A associação com uso de drogas ilícitas e alcoolismo muitas vezes está presente. É essencial que diversas estratégias sejam adotadas, pois os pacientes colocam em risco a saúde dos seus contatos e da sociedade pela transmissão desses bacilos, que poderão causar uma doença praticamente incurável, até que novos medicamentos sejam disponibilizados (BRASIL, 2011).
O estudo teve como limitação a lacuna de preenchimento dos registros pelos profissionais de saúde dificultando a coleta, análise e interpretação dos dados.
CONCLUSÃO
Evidenciou-se que as taxas de tuberculose drogarresistente são aumentadas nos casos de recidiva (1,85%), que ocorre quando o paciente apresenta os sintomas da doença após a cura e que dentre os casos novos de TB a prevalência de drogarresistência é diminuída (0,35%).
É anuente que a não interrupção do tratamento da tuberculose é de fundamental importância para a prevenção da resistência da doença, pois a mesma traz diversos malefícios tanto para o paciente quanto para a sociedade em que está inserido e que o a drogarresistência não deva ser encarada como permanente na sociedade, porque isso isentaria a sociedade e os governantes de ter que resolvê-la. Esse é um problema que deve ser avaliado não só em suas causas, mas em suas soluções.
REFERÊNCIAS
ROSSETTI, M.L.R., et al. Tuberculose resistente: revisão molecular. Rev. Saúde Pública, São Paulo, vol. 36, n. 4, pp. 525-532. 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de recomendações para o controle da tuberculose no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.