TIPOS DE ENTRADA E O DESFECHO ABANDONO DO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE

ANTÔNIO MARCILIO SILVEIRA SILVA

Co-autores: BRUNO VICTOR BARROS CABRAL , VALÉRIA DE OLIVEIRA LOURENÇO , GEORGE JÓ BEZERRA SOUSA e MARIA LÚCIA DUARTE PEREIRA
Tipo de Apresentação: Oral

Resumo

 

INTRODUÇÃO

A Tuberculose (TB) é uma doença infectocontagiosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis, sendo considerada uma das mais antigas doenças infecciosas da humanidade, em que há casos com mais de cinco mil anos, persistindo até a atualidade como um problema de saúde pública mundial (SANTOS et al., 2018).

Ela é uma doença crônica transmissível de tratamento longo (de no mínimo seis meses) em que se observa algumas dificuldades para a diminuição do número de casos e obtenção da cura, como por exemplo o abandono de seu tratamento (BERALDO et al., 2017). A Organização Mundial da Saúde preconiza que, para o controle da doença, a meta de cura seja igual ou superior a 85% e a de abandono seja menor do que 5%, fato que ainda é distante da realidade (BRASIL, 2018).

Visto isso, o sistema de tratamento antituberculose é essencial ao combate a essa patologia, porém observa-se associação entre o tipo de entrada e o desfecho em abandono do tratamento. Nesse contexto surge o questionamento: quais as frequências dos tipos de entrada e o desfecho abandono no tratamento da tuberculose?

 

 

OBJETIVO

Descrever os tipos de entrada e o desfecho abandono no tratamento da tuberculose.

 

METODOLOGIA

Estudo transversal, realizado em Fortaleza-CE no período de abril de 2019. Foram utilizados dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação para Tuberculose (SINAN-TB) de pessoas notificadas com TB no estado do Ceará durante o período de janeiro de 2001 a dezembro de 2017. Foram utilizadas, nesse estudo, variáveis oriundas das fichas de notificação e acompanhamento do paciente. Como variável desfecho considerou-se o encerramento abandono do tratamento da TB (opção de número 3 da ficha de acompanhamento). Como variável preditora, considerou-se o tipo de entrada da pessoa no serviço de saúde.

     Os dados foram coletados na Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (SESA) e gravados em CD. Para análise de dados, considerou-se a estatística descritiva com o uso de frequências simples e relativas. Os dados foram tabulados e analisados com auxílio do software Stata 12. Pesquisa realizada dentro dos preceitos da ética em pesquisa conforme Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), sendo assim aceita por Comitê de Ética em Pesquisa sob número 2.687.046.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 Foram estudados cerca de 74.000 casos de tuberculose, esses que levaram a observação de uma associação entre o tipo de entrada e o desfecho abandono no tratamento da tuberculose. Os casos novos de entrada foram 60.614, em que, dessa quantia, 89,44% (n=54.212) completaram o tratamento, porém cerca de 10,56% (n=6.402) tiveram como desfecho abandono. Constou-se também 5.028 recidivas, em que 85,52% (n=4.300) prosseguiram o tratamento e 14,48% (n=728) abandonaram. Além disso, foram registradas as ocasiões de reingresso pós-abandono, situação com cerca de 4.302 casos estudados, sendo que desse valor 60,20% (n=2.590) concluíram o tratamento e 39,80% (n=1712) o interromperam por meio do abandono.

     Há também ocasiões em que não se sabe qual o tipo de entrada do paciente, sendo assim tomados para o estudo, no período de coleta, cerca de 834 casos; desse valor 80,55% (n=679) prosseguiram o tratamento e 19,45% (n=164) registraram abandono como desfecho. Por fim, também foram observados entradas por transferência, com 3.157 casos em sua totalidade, observando-se 8,65% (n=273) de abandono e 91,35% (n=2.884) de não abandono.

Observando os dados levantados, os novos casos dobram a recomendação feita pela OMS e registram cerca de 10% na taxa de abandono. Tal valor sobe para cerca de 14% quando a entrada se dá de forma recidiva, em que a doença reaparece e a medicação tende a ser alterada. Com quase 40% de seus casos culminando em desfecho negativo, a entrada por reingresso pós-abandono evidencia que as chances de se ocorrer uma quebra na sequência correta do tratamento é mais acentuada em casos que o enfermo já possui histórico de abandono, sobrepondo, em porcentagem alarmante, a meta proposta pela OMS.

     Ademais, nos casos em que não se sabe o tipo de entrada, quantificou-se cerca de 20% de taxa de abandono. Porém, nesse caso, somente análise de dados não é suficiente para explicação das causas que levam a essa quantia, tendo em vista que não se sabe a procedência do paciente acometido com TB, impedindo-se assim que haja um estudo comparativo entre causa e efeito.

     Por fim, nos estudos, as menores taxas foram encontradas nas entradas do tipo transferência, com aproximadamente 9%, em que tal quantia é considerada baixa no país e chega próximo a proposta inicial da OMS que seria de 5% por 100 mil habitantes.

     Visto isso, vale ressaltar fatores que podem levar a porcentagem elevada de abandono do tratamento da tuberculose. Fatores tais como pobreza, miséria e desigualdade social, além de condições precárias de saúde e subnutrição. Ademais, a natureza estigmatizante da TB, além da baixa escolaridade somados a pouca informação, podem ser agravantes para o período de tratamento e, consequentemente, proporcionarem seu abandono (SOARES, 2016).

 

 

CONCLUSÃO

Nota-se uma associação entre o tipo de entrada e o desfecho abandono do tratamento da tuberculose. Os valores percentuais de abandono elevam-se à medida que ocorrem recidivas ao tratamento e chegam próximo a metade dos casos em situação de reingresso pós-abandono, evidenciando assim que há uma possível suscetibilidade a novos casos de abandono por aqueles que já possuem tal histórico.

            Logo, é necessário um maior investimento nas medidas de combate ao abandono do tratamento da tuberculose, proporcionando assim um maior conhecimento sobre os procedimentos ao paciente, além de informar as consequências do abandono e estudar as causas que levam a tal a fim de que, por conseguinte, ocorra o aumento dos índices de conclusão do tratamento.

REFERÊNCIAS

BERALDO, A. A. et al. Adesão ao tratamento da tuberculose na Atenção Primária à Saúde: percepção de pacientes e profissionais de um município de grande porte. Esc. Anna Nery., Rio de Janeiro, v. 21, n. 4, jul. 2017.

 

BRASIL. Boletim epidemiológico. Secretaria de Vigilância em saúde/Ministério da Saúde. Brasília, v. 49, n. 11, mar. 2018.

 

SANTOS, J. N. et al. Fatores associados à cura na tuberculose no estado do Rio de Janeiro, 2011-2014. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 27, n. 3, 2018.

 

SOARES, M. L. M. et al. Aspectos sociodemográficos e clínico-epidemiológicos do abandono do tratamento de tuberculose em Pernambuco, Brasil, 2001-2014. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 26, n. 2, p. 369-378, jun. 2017.