INTRODUÇÃOPolissacarídeos de plantas apresentam potencial terapêutico, visto suas atividades anti-inflamatória, antitumoral, anticoagulante, imunomoduladora, entre outras (SILVA et al., 2012).A planta Cissus sicyoides (Família Vitaceae) ou Cissus verticillata é conhecida como insulina vegetal, anil-trepador, achite, bejuco-caro e uva-brava (DROBNIK E DE OLIVEIRA, 2015). Suas folhas são utilizadas na medicina popular em forma de chá ou infusão para tratar diferentes processos inflamatórios (SILVA et al., 2012). Experimentalmente, a literatura relata que extratos hidroetanólicos obtidos a partir das folhas de C. sicyoides apresentam atividade analgésica (ALMEIDA et al., 2006).No contexto atual da Enfermagem, como disciplina prática que busca aperfeiçoar o cuidado ao paciente, é imprescindível se preocupar com o uso de tratamentos de maior adesão e menores riscos para os pacientes. Assim, é necessário o conhecimento científico sobre o efeito de determinados tratamentos já utilizados na medicina popular para a validação de tal uso. Desse modo, surge a pergunta: O extrato polissacarídico obtido das folhas de Cissus sicyoides apresenta atividade anti-inflamatória?OBJETIVOAvaliar a atividade anti-inflamatória do extrato polissacarídico das folhasde Cissus sicyoides em modelos experimentais de inflamação aguda emcamundongos.METODOLOGIAAs folhas de C. sicyoides foram coletadas em Quixadá (CE) e sua excicata (nº 61902) depositada no herbário Prisco Bezerra (UFC). As folhas foram lavadas, secas (40 °C) e trituradas. O pó resultante (5 g) foi suspenso em metanol absoluto (1:50, p/v), homogeneizado (76 °C, 2 h) e filtrado (procedimento repetido 2x). Este, foi suspenso (1:50, p/v) em NaOH 0,1 M (97 °C, 2 h) e centrifugado (2496g, 25 °C, repetido 3x). Os sobrenadantes contendo os polissacarídeos foram neutralizados (HCl 1 M), precipitado com etanol absoluto (4x o volume, 24 h, 4 °C) e re-centrifugado. O precipitado resultante foi dialisado, liofilizado e denominado extrato polissacarídico de C. sicyoides (EP-Cs). O EP-Cs foi desproteinado por precipitação com ácido tricloroacético até pH 3,0 (4 h, 4 °C) (SOUZA et al., 2015). O precipitado proteico foi separado por centrifugação, e o sobrenadante final dialisado e liofilizado.Camundongos Swiss albinos fêmeas (25-35 g), advindos do Biotério doInstituto Superior de Ciências Biomédicas - UECE (N=72), receberam água tratada e ração ad libitum, e foram mantidos em condições controladas (22-25 ºC, ciclo claroescuro de 12 h) até serem avaliados. Os protocolos experimentais foram aprovados pelo Comitê de Ética para uso de animais da UECE (CEUA n° 5748564/2015). A avaliação da atividade do EP-Cs foi feita após administração do estimulo inflamatório carragenana (Cg) nos modelos de edema de pata (300µg/pata) e peritonite (500 µg/cavidade), quanto aos seguintes parâmetros: edema, hiperalgesia e infiltrado leucocitário. Os animais foram tratados por via endovenosa (e.v.) com o EP-Cs (0,001; 0,01; 0,1 mg/kg) 30 minutos antes do estímulo inflamatório. Os animais controle receberam solução salina. O edema de pata foi mensurado por pletismometria, registrando-se a medida do volume (mL) do edema antes (tempo zero) e ao longo de seu curso temporal (1-5 h). A hiperalgesia foi mensurada pela resposta comportamental de retirada da pata dos animais resultante da aplicação de um estímulo mecânico (g), utilizando filamentos de Von Frey, em analgesímetro eletrônico. O número de leucócitos presentes no fluido peritoneal dos animais foi mensurado por microscopia ótica em câmara de Neubauer (contagem total) e em lâminas coradas por hematoxilina-eosina (contagem diferencial) (SOUZA E FERREIRA, 1985).Os resultados foram expressos como média ± EPM (n=8) e a análise estatística foi realizada pelos testes de Análise de Variância (ANOVA) e Bonferroni, admitindo-se como significantes valores de p<0,05.RESULTADOSA injeção subcutânea intraplantar de carragenana promoveu edema depata, que atingiu efeito máximo na 2ª hora se mantendo elevado até a 5ª hora de seu desenvolvimento. O EP-Cs inibiu de forma significativa o edema de pata nas doses de 0,01 (57,0%) e 0,1 mg/kg (58,0%) em comparação aos animais controle. Esse fato sugere que a dose de 0,01 mg/kg é a que apresenta eficácia máxima. Além disso, o EP-Cs inibiu (73,5%) a hiperalgesia causada pela carragenana (92,22 g) na segunda hora pós-indução.O EP-Cs (0,01 mg/kg) também reduziu o número de leucócitos totais (51,98%), principalmente o número neutrófilos (92,58%) comparado ao grupocarragenana (4760 leucócitos totais/mL 2026,4 neutrófilos/mL). Pode-se inferir que o EP-Cs inibiu o aumento de permeabilidade vascular induzida por carragenana, um evento que antecede a migração neutrofílica durante a inflamação aguda (GILROY et al., 2004). Os resultados do presente estudo reforçam o efeito anti-inflamatório já bem demonstrado para polissacarídeos de planta. Além disso, o método de extração do EP-Cs, que utiliza altas temperaturas, assemelha-se à forma de preparo do chá das folhas de Cissus sicyoides, usado pela população como anti-inflamatório.CONCLUSÃOO presente estudo demonstra o efeito anti-inflamatório e analgésico doEP-Cs em camundongos, validando o uso da planta Cissus sicyoides na medicina popular em forma de chá ou infusão.